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Entrevista

Secretário de Educação do Recife destaca conquistas e desafios da rede municipal

Publicado em: 01/08/2019 23:39 | Atualizado em: 01/08/2019 23:56

Foto: Heluízio Almeida/Alepe
Nascido no Recife e formado em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Bernardo Juarez D’Almeida, 47 anos, é auditor tributário do Tesouro Estadual desde 1994. Em 2008, ingressou no time do Governo de Pernambuco ao assumir a Gerência Geral de Ações Governamentais do Pacto pela Vida, cargo que ocupou até o final de 2010. Em janeiro de 2011, foi nomeado secretário executivo de Gestão por Resultados da Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado. Ainda em 2011, a convite do então secretário estadual de Planejamento e Gestão Alexandre Rebêlo, iniciou os trabalhos de construção dos Pactos pela Educação e pela Saúde. Também exerceu os cargos de Secretário de Justiça e Direitos Humanos, foi vice-presidente do Porto de Suape e também exerceu o cargo de secretário-executivo da SEFAZ-PE.
 
 
Quais são os principais programas de educação no Recife?
Brinqueducar, Proler, Ondatec, Escola do Futuro e Programa Robótica. O Brinqueducar, desenvolvido pela Secretaria de Educação do Recife desde 2017, beneficia cerca de 18 mil crianças de 0 a 5 anos e tem como objetivo fazer os estudantes aprenderem brincando. É composto por playground, brinquedos, jogos educativos e livros de literatura. As brincadeiras fazem parte da prática pedagógica e a interação das crianças com os recursos pedagógicos do programa é fundamental para o processo de ensino e aprendizagem, pois estimula, entre outros aspectos, o desenvolvimento da psicomotricidade das crianças, além de estimular a socialização e a criatividade. O acesso aos livros faz parte da cultura de formação de pequenos leitores, favorecendo a imaginação, interpretação de imagens e o desenvolvimento da oralidade. No total, foram investidos mais de R$ 10 Milhões em 2017 e 2018 na aquisição de playgrounds, jogos lúdicos e pedagógicos e livros. 

O Proler (Programa de Letramento do Recife) utiliza a metodologia específica para alfabetizar letrando, a fim de levar o estudante a se apropriar da leitura e da escrita, de forma competente e sistematizada, a partir dos direitos de aprendizagem estabelecidos na Política de Ensino. O principal objetivo é dar orientações referentes aos eixos da língua portuguesa - oralidade, leitura, produção de texto e apropriação do sistema de escrita alfabética - para que os estudantes concluam o 1º ano do ensino fundamental no estágio alfabético. Em 2017, houve a participação de 256 unidades de ensino, com 3.562 turmas formadas e 39.358 alunos inscritos.

Através de um convênio entre as Secretarias de Educação do Recife e de Pernambuco, a Prefeitura do Recife lançou em 2017 o Projeto Ondatec, a fim de capacitar estudantes do 9º ano do ensino fundamental da Rede Municipal para vestibulares das Escolas Técnicas Estaduais e Institutos Federais. Os estudantes de aulões de língua portuguesa e matemática, além de aulas à distância para tirar dúvidas, como instrumentos para impulsionar o resultado nesses vestibulares. O Ondatec contribuiu com o aumento de 78% na quantidade de estudantes da rede aprovados nas Escolas Técnicas Estaduais.
A atual gestão da Prefeitura do Recife implantou um novo padrão de qualidade da rede municipal de ensino, como parte do projeto Escola do Futuro. Com 311 escolas, já investiu nos três primeiros anos da gestão R$ 152 milhões em educação. O valor é 50% maior que a soma dos investimentos na área, nos 12 anos das administrações anteriores. A PCR aplica mais de 25% da receita na área de educação, cumprindo o que determina a Constituição Federal. Nos últimos cinco anos, a Prefeitura entregou 12 creches e cinco novas sedes de escolas com investimentos de R$ 33,3 milhões. Ampliou em 17% o número de vagas de educação infantil (0 a 5 anos).

O Programa Robótica na Escola contempla 73 mil estudantes matriculados do grupo 3 (de três anos de idade) da educação infantil até o 9º ano do ensino fundamental. Na implantação do programa, todos os professores foram capacitados para o uso dos kits de Robótica Lego em sala de aula. Pouco mais de um ano e meio depois da Prefeitura implantar o programa, os estudantes foram campeões da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), em novembro de 2015, em Uberlândia (MG). Com a vitória, os alunos se classificaram para a RoboCup - campeonato internacional realizado em junho de 2016 na Alemanha, e lá conquistaram o oitavo lugar entre 24 equipes do mundo inteiro.

Em 2017 os estudantes representaram o Brasil no campeonato mundial de robótica (RoboCup) em Nagoya, no Japão. Disputando com 37 equipes de outros 30 países, a equipe conquistou o oitavo lugar, à frente de nações como Estados Unidos, Alemanha, Portugal, Austrália, Itália, Canadá e Rússia. Ainda em 2018, conquistaram primeiro, segundo e terceiro lugares do Nível 1 da modalidade prática da etapa estadual da OBR. 
A Secretaria de Educação já inaugurou quatro Laboratórios de Ciência e Tecnologia, dos 12 previstos. O laboratório tem por objetivo estimular o espírito crítico e dar aos estudantes o papel de protagonismo. A iniciativa faz parte do Escola do Futuro. O espaço funciona nos quadrantes laboratório convencional de ciência básica, instrumentação científica, robótica e programação, e espaço maker. Os estudantes têm desde kits de montagem de robótica a microscópios, vidraria e substâncias químicas reagentes, peças de anatomia básica, 50 tablets, câmeras de foto e filmagem e impressora 3D, entre outros itens. 

Como a Secretaria de Educação está trabalhando o professor para que os mesmos coloquem a parte prática exigida pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC)?
O Recife desenvolveu seu currículo. No início do ano passado, iniciamos a revisão colaborativa junto a toda a rede, coordenado por um grupo de trabalho. Houve diversos momentos de consulta e contribuições. Entendemos também que nosso programa Escola do Futuro tem tudo que a BNCC preconiza em relação às competências gerais. Prezamos pelo protagonismo dos estudantes, que trabalham os conteúdos de forma transversal e “aprendem a aprender”, a usar a criatividade e colaboração para resolver problemas do dia a dia.

Quais são os investimentos na formação, comunicação e engajamento dos professores para atender as demandas da revolução 4.0?
A Secretaria criou em 2014 a Escola de Formação de Educadores do Recife Professor Paulo Freire para promover formação continuada. Mensalmente são formados 3 mil professores. Os cursos abordam desde múltiplas linguagens expressivas para professores que atendem crianças de 1 a 3 anos, até matemática, jogos e artefatos tecnológicos como ferramenta didática para o ensino das grandezas e medidas (voltado para docentes de anos finais).
Além disso, acreditamos que o principal ator da escola do futuro seja o estudante. Na pedagogia da escola do futuro o professor assume o papel de tutor, facilitador da aprendizagem. As competências essenciais para um mundo do trabalho são socioemocionais e passam principalmente pela capacidade de criação, inovação, empreendedorismo, colaboração, trabalho em equipe. A Rede está criando projeto sobre o desenvolvimento de habilidades cognitivas e avaliação formativa. Nele, os alunos serão estimulados a ativar funções executivas como foco, perseverança, planejamento, cooperação e autocontrole. A Escola do Futuro provoca isso. A Rede de Ensino do Recife estimula a participação colaborativa de professores e de estudantes em projetos de pesquisa dos quais resultem trabalhos inovadores, de caráter multidisciplinar. 

A Feira do Conhecimento, que em 2019 terá sua 5ª edição (novembro), com a previsão de participação de 900 estudantes, 300 professores e 300 projetos. Os trabalhos inscritos utilizam método científico. Hoje estamos expandindo as condições e recursos para que isto ocorra em todas as unidades em volumes cada vez maiores. Por exemplo, a Robótica e os Laboratórios Makers. São equipamentos para apoiar estes projetos. Para estabelecer essa linguagem 4.0, essa revolução não é somente industrial, será nas cidades, nas vidas das pessoas.

Quais os principais “cases de sucesso” no que diz respeito à educação no sua gestão?
Ir pra ponta. Visitar todas as escolas até o fim do ano. Sair da alcatifa e conhecer os problemas In loco. Já visitei 130 escolas. Melhorar o fluxo escolar para, no mínimo, 95%. Diminuir repetência e evasão. O renascimento da tradicional Escola de Artes João Pernambuco (única no estado que atua com as quatro linguagens artísticas: música, dança, teatro e artes visuais), e a aproximação da família com a escola. Estamos lançando uma série de ações no sentido de integrar, de somar esforços entre escola e família.

Como tem sido o investimento na infraestrutura para a transformação tecnológica?
A Rede investiu na aquisição de kits de robótica lego, tablets e linha de robôs humanoides (NAO) e Laboratórios de Ciência e Tecnologia. A Secretaria já inaugurou quatro laboratórios desse tipo, dos 12 previstos. Cada um tem investimento de R$ 200 mil vindos do Tesouro Municipal. 

Qual o papel da Secretaria para atrair jovens talentos à profissão de professor ?
Se você perguntar a um professor atual se as condições de trabalho melhoraram, se o suporte para um melhor ensino foi aperfeiçoado, todos vão reconhecer os avanços. Falta muito ainda? Falta, mas é investimento alto e contínuo. O segundo ponto é a valorização, não só financeira, mas de rituais. Quando a gente lançou o concurso e premiação de professores autores e levamos a cerimônia para Academia Pernambucana de Letras, é nesta direção.

Os professores, enquanto orientadores de projetos, também têm a oportunidade de acompanhar os alunos em feiras e eventos internacionais. Só este ano, 50 alunos participaram de eventos internacionais. Precisamos valorizar nossos mestres, nossos doutores, nossos professores que buscam o diferente. Assim, vamos fortalecer a prática e o status da profissão. 
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