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Julgamento

'Me pegaram para Judas', diz Edvan sobre assassinato de Mirella Sena

Publicado em: 05/08/2019 14:25 | Atualizado em: 05/08/2019 18:52

Foto: Leandro de Santana/Esp. DP

O julgamento do comerciante Edvan Luiz da Silva, acusado de estuprar e assassinar a fisioterapeuta Tássia Mirella de Sena Araújo, em 5 de abril de 2017, foi retomado por volta das 14h desta segunda-feira (5). Depois de um intervalo de 40 minutos, o júri popular reiniciou com o depoimento do acusado ao juiz Pedro Odilon e as perguntas do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) ao réu. 
 
Edvan negou ter cometido o crime e afirmou que as lesões identificadas no seu corpo, no dia do assassinato de Mirella Sena, foram adquiridas em uma briga com um flanelinha. Essa briga, segundo o acusado, teria acontecido na noite anterior ao crime. Ele também negou ter processos anteriores contra si e questionou as provas periciais. "As roupas encontradas jogadas eram de minha propriedade, porém, depois que eu saí para a delegacia, os policiais ficaram no meu apartamento e podem ter sujado a roupa de sangue e jogado", disse. Edvan sustentou ainda que estava dormindo e que as provas teriam sido forjadas. “Me pegaram para Judas”, disse durante o depoimento.

Primeiro as perguntas foram feitas pelo promotor de Justiça Antônio Arroxelas, que passou a palavra posteriormente para a promotora Ângela Freitas. O acusado hesitou em responder, mas disse que não assediava ninguém no prédio onde morava e que não conhecia Mirella. "Só a vi uma vez, rapidamente, numa situação em que eu estava entrando do elevador e ela saindo do apartamento", contou.

"Eu entendo a dor que a família dela passa. Em contrapartida, a mesma dor que a família dela sente eu também sinto por estar sendo condenado. Quando eu falo condenado, são os olhares, as conversas, eu percebo a forma como as pessoas olham e pensam que sou um monstro. É o que a mídia e a polícia venderam", disse Edvan. 
 
Ao longo das perguntas feitas pela defesa, Edvan chegou a se emocionar. "Por vários dias, dormi e acordei chorando. Esperei muito que esse dia chegasse. É muito difícil, muito duro, ser julgado por uma coisa que você não cometeu. E ainda mais um crime dessa natureza. Mirella tinha todo um futuro pela frente. Eu também tinha", afirmou. 
 
Depois do depoimento do réu, foi iniciado o debate entre promotoria e defesa. Cada parte terá até uma hora e meia para expor os argumentos. Depois, poderá haver a réplica para o promotor, que dura até uma hora, e a tréplica para a defesa, com a mesma duração. Em seguida, haverá o julgamento pelo Conselho de Sentença. 
 
Debate entre promotoria e defesa

Passado o depoimento de Edvan, promotores de Justiça e advogados de defesa de Edvan iniciaram a fase de debates. O promotor Antônio Arroxelas reafirmou a culpa de Edvan. “Esse homem não aceitava que Mirella era uma mulher empoderada”, disse, mostrando, nesse momento, o inquérito da Polícia Civil com imagens da cena do crime. Os pais de Mirella, Wilson Pacheco e Suely Araújo, saíram da sala onde ocorre o julgamento, para não verem as imagens que estão sendo exibidas aos presentes. 
  
"Existe o direito de defesa, mas no meu entender as provas são extremamente conclusivas. Principalmente na tese dele, que é de negativa de autoria. Tinha substância orgânica dele nas unhas da vítima, a vítima foi despida violentamente, ele montou em cima da vítima, ela lutou para viver segurando a faca com as duas mãos, tinha sangue dela ans roupas dele. Tinha sangue do apartamento dela para o apartamento dele. Ou seja, não há o que discutir a autoria", afirmou o promotor Antônio Arroxelas. 
  
A promotoria está se baseando no laudo em local de homicídio e o laudo de DNA. "Se ele aqui em plenário ele tenta intimidar um promotor que está atuando, imagina no apartamento com a vítima. Esse caso representa um freio em homens que têm esse tipo de comportamento contra mulheres", pontuou o promotor, que pediu condenação com pena máxima para o réu.  

O Julgamento
Foto: Tarciso Augusto/Esp. DP

O júri popular começou por volta das 9h15, no auditório da Terceira Vara do Júri da Capital, no Fórum Thomaz de Aquino, bairro de Santo Antônio, área central do Recife. Presidido pelo juiz Pedro Odilon de Alencar, o julgamento tem sete jurados, sendo quatro mulheres e três homens, definidos após sorteio.

O acusado chegou ao local encarando os presentes no auditório. Em nenhum momento, abaixou a cabeça. A mãe de Mirella, Suely Araújo, chorou na entrada de Edvan. Os pais do comerciante também estão no Fórum Thomaz de Aquino e não quiseram falar com a imprensa.

O réu responde por estupro e homicídio qualificado (feminicídio, emprego de meio cruel, recurso que impossibilitou a defesa da vítima e crime cometido para assegurar a ocultação/impunidade de outro crime). Para o julgamento, o MPPE convocou quatro testemunhas. Não foram chamadas testemunhas de defesa.
 
SAIBA MAIS
 
 
O crime 

A fisioterapeuta Mirella Sena foi encontrada morta na sala do flat onde morava, no 12º andar do edifício Golden Shopping Home Service, na Rua Ribeiro de Brito, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Vizinhos disseram que, por volta das 7h, ouviram vários gritos e acionaram o funcionário do prédio, que chamou a polícia. O corpo da vítima foi encontrado na sala do imóvel, sem roupas e com ferimento à faca no pescoço, além de cortes nas mãos. Mirella era natural de Vitória de Santo Antão, Mata Sul do estado, e formou-se em fisioterapia pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Ela trabalhava como vendedora de produtos hospitalares.
Foto: Tarciso Augusto/Esp. DP

As provas
Na época do crime, de acordo com a polícia, Edvan apresentou contradições sobre onde estava no momento do ocorrido. Disse que estava em um bar no horário, mas depois mudou a história e disse que estaria em um posto de gasolina. Antes do depoimento oficial, ele foi encaminhado - algemado e com uma touca ninja (balaclava) - ao Instituto de Medicina Legal (IML), em Santo Amaro, para fazer o exame de corpo de delito.

Ele morava em um apartamento em frente ao de Mirella. Entre os dedos dela, havia fios de cabelo dele. Debaixo da unha, a perícia identificou pele com material genético do suspeito. Na porta e no banheiro da casa dele e em duas camisetas, foi encontrado sangue da vítima. 

Há comprovações também das impressões semelhantes à impressão digital do pé dele no apartamento; laudo comprovando limpeza por esfregamento do sangue da vítima do apartamento da vítima até o apartamento dele; assim como uma mordida humana no corpo de Edvan.  

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