Diario de Pernambuco
Busca

FEMINICÍDIO

Acusado de matar a fisioterapeuta Mirella Sena será julgado nesta segunda

Publicado em: 05/08/2019 07:00 | Atualizado em: 05/08/2019 09:39

Wilson e Suely, pais de Tássia Mirella, na missa de sétimo dia da filha. O pai da jovem aceitou conversar com o Diario - Ricardo Fernandes/Acervo DP
Será julgado nesta segunda-feira (5) o comerciante Edvan Luiz da Silva, acusado de estuprar e assassinar a fisioterapeuta Tássia Mirella de Sena Araújo em 5 de abril de 2017. O crime aconteceu em uma quarta-feira, pela manhã, no edifício Golden Shopping, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife. O júri popular, presidido pelo juiz Pedro Odilon de Alencar, será realizado a partir das 9h, no Fórum Thomaz de Aquino, no bairro de Santo Antônio. 

O pai da jovem, o professor Wilson Pacheco Araújo, conversou com o Diario sobre o assunto. Na conversa, ele critica a morosidade da Justiça, conta como está a família mais de dois anos após a morte brutal e espera que o ocorrido com a filha tenha ajudado a salvar outras mulheres de situações violentas. 

O assassinato de Tássia Mirella e o julgamento de Edvan Luiz estão separados por 852 dias. De angústia, saudade e, principalmente, espera por justiça. "Não tem como mensurar a falta que ela nos tem feito durante esse tempo, e que vai fazer para o resto da vida", desabafa Wilson. "É uma ferida que foi aberta dentro de nós (família) e que vai ficar aberta por muito tempo, difícil de cicatrizar. Todos os dias a gente lembra, todos os dias a gente chora. E a saudade é muito grande. Pode ser até que um dia isso passe, mas é difícil", prossegue.

Nessas 122 semanas, a fé ajudou a Wilson e Suely Araújo (mãe de Mirella) a não desabarem: "Até hoje não foi preciso a gente tomar remédio e nem deixamos de dormir. Acredito, eu, que isso seja fruto dessa força suprema, dessa fé em Deus, que nos leva a caminhar". Desde o primeiro momento, o emocional foi posto à prova. "A gente mora em Gravatá (Agreste), e foi muito difícil quando recebemos a notícia. Ficamos sem reação, sem saber como resolver isso. Não sei como consegui pegar o carro, dirigir e chegar até o IML no dia. Ainda procuro explicação", relembra.

Edvan Luiz está preso desde abril de 2017. Foto: Marlon Diego/Acervo DP


"Essa pessoa"

Wilson garante que perdoou Edvan, a quem ele se refere como "essa pessoa". "Não sei qual vai ser o resultado do julgamento, mas espero que tudo isso tenha servido de lição de vida para ele, né? Que antes dessa pessoa premeditar ou fazer algo desse tipo, que pense duas vezes", diz. "Essa pessoa falou que foi um ato de loucura ter matado Mirella, sem nem conhecê-la. Não foi loucura. Sabia o que estava fazendo", reflete.


Lentidão da Justiça

"Nós ficamos um tempão sem saber como estava andando o processo. Foi aí que, por iniciativa de amigos da Mirella, fomos convidados a uma reunião da Comissão de Direitos Humanos (da OAB-PE). Um dos representantes nos falou que, pelo tempo e pelo caso, já era para ter sido julgado", recorda o pai. “A gente percebe, independentemente de qualquer coisa, que a Justiça ainda é muito lenta. No caso de Mirella, essa pessoa foi pega em flagrante. E veja que fez quase dois anos e meio para ele ser julgado. Imagina em outros casos, em que não houve o flagrante”, aponta Wilson, que credita a marcação do júri à visita à Comissão de Direitos Humanos. 

De fato, há um vácuo de mais de um ano no processo referente ao caso (número 0007703-38.2017.8.17.0001). Desde setembro de 2017, já tinha sido decidido que Edvan Luiz seria levado à júri popular, e todos os recursos apresentados pela defesa foram sendo indeferidos, um a um. Não houve movimentações entre 7 de novembro de 2017 e 29 de março de 2019. 

Tássia Mirella era fisioterapeuta e tinha 28 anos. Foto: Reprodução/Facebook

Legado

Depois da morte de Tássia Mirella, houve alguns avanços no combate à violência contra à mulher em Pernambuco. Em setembro de 2017, o governador Paulo Câmara ordenou à Secretaria de Defesa Social (SDS) que passasse a contabilizar os feminicídios tais como são - e não mais como crime passional. Ainda que o feminicídio fosse uma realidade no estado, desde 2015, o sistema da SDS não o tipificava nas estatísticas criminais.

Em novembro de 2017, a data da morte de Tássia Mirella foi transformada em Dia Estadual de Combate ao Feminicídio. Apresentada pela deputada estadual Simone Santana, a ideia foi aprovada na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e sancionada pelo governo do estado.  “Acredito que outras vidas foram salvas. E ficou um recado, né? Para que a Justiça não seja tão lenta em relação a outros casos que possam acontecer futuramente”, complementa Wilson.

Os dias que antecederam o julgamento desta segunda foram complicados. Todo um filme voltava à cabeça da família de Tássia Mirella, mas é momento de tentar manter-se em paz. "A gente sabe que não vai ser fácil. Mas esperamos somente que seja feita justiça", conclui Wilson.

Feminicídios em Pernambuco 

Período entre 01/01 a 30/06

2017 - 40

2018 - 35

2019 - 28

Fonte: SDS

Cronologia do crime

5 de abril de 2017 - Tássia Mirella é encontrada morta em sua residência, em Boa Viagem

5 de abril de 2017 - Edvan Luiz é preso pela polícia, como suspeito de ter assassinado a fisioterapeuta

12 de abril de 2017 - Edvan é indiciado pela polícia por homicídio triplamente qualificado e estupro

26 de abril de 2017 - MPPE denuncia formalmente Edvan pela morte de Tássia Mirella

Setembro de 2017 - Justiça decide que Edvan vai à júri popular

Setembro de 2017 - Feminicídios passam a ser tipificados oficialmente pela SDS

14 de novembro de 2017 - Data da morte de Tássia Mirella se torna Dia Estadual de Combate ao Feminicídio

3 de junho de 2019 - TJPE finalmente decreta data do julgamento de Edvan Luiz

5 de agosto de 2019 - Começa o julgamento de Edvan Luiz
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL