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Delegada explica demora em qualificar ataque com ácido como feminicídio

Publicado em: 12/07/2019 21:02

Delegada Bruna Falcão, responsável pelo inquérito - Diogo Cavalcante/DP

Foi encerrado, nesta sexta-feira (12), o inquérito sobre a agressão sofrida por Mayara Estefanny Araújo, 19 anos, atacada com ácido sulfúrico semana passada. Responsável pelo caso, a delegada Bruna Falcão esclareceu o porquê de, só agora, tipificar o crime como tentativa de feminicídio: faltava atestar, por meio de provas, a intenção de matar por parte de William César dos Santos Júnior, 27, ex-companheiro de Mayara apontado como autor do ataque.

“Eu não queria que a gente começasse um inquérito, que alardeasse aos quatro cantos que era um feminicídio tentado, e a gente não conseguisse elementos. Ou pior: que fizéssemos o indiciamento e, no futuro, ele não pudesse ser condenado (por isso)”, defende Bruna, que acrescenta: “Meu objetivo foi fazer um trabalho bem feito, amarrado, de maneira a conseguir elementos que embasassem uma condenação por esse crime”. 

De acordo com a Polícia Civil, Mayara foi atacada por William na noite de 4 de julho, quando voltava para sua casa, em Nova Descoberta, Zona Norte do Recife. A investigação aponta que William cometeu o crime com a ajuda de um amigo: Paulo Henrique Vieira dos Santos, 23 anos. Paulo teria segurado a vítima para William atirar o ácido sulfúrico - por sinal, a substância atirada na jovem foi mesmo o ácido, e não soda cáustica, como era sustentado pela assessoria do Hospital da Restauração, onde ela se encontra internada. 

A delegada conta que William comprou primeiro ácido muriático e, no dia seguinte, retornou à loja para adquirir ácido sulfúrico. “Pesquisou mais sobre o tema e decidiu comprar o líquido que realmente tiraria a vida de Mayara, já que o muriático tem um potencial lesivo menor”, opina a delegada. 

O fato de Paulo assumir que participou da ação também ajudou a fortalecer a acusação. Na primeira perícia médica realizada no homem, antes dele ir para o Cotel, não havia indicações de ferimentos por ácido. “Muito estranho a pessoa que segurou Mayara não ter sido atingida por nenhuma gota. Entrei em contato com a direção do presídio e verificaram que ele apresentava escaras (feridas) escuras. O IML fez uma nova perícia e informaram que essas lesões eram naturais da evolução de uma queimadura por produto químico”, discorre a policial.

William se entregou à polícia na última segunda (8) - Bruna Costa/Esp. DP

Com o novo laudo em mãos, Paulo foi convocado a depor novamente. “Ele decidiu mudar sua versão nos autos. Disse que sabia que o William pretendia fazer, concordou, ficou na escadaria esperando Mayara aparecer, e disse textualmente que viu quando William saiu do beco e jogou uma grande quantidade de ácido”, acrescenta Bruna. Paulo teria sido atingido nos braços e caído de dor, no que o amigo saíra correndo do local do crime.

William e Paulo foram indiciados pela prática de feminicídio tentado, qualificado por meio cruel e por emboscada. Agora, o inquérito segue para o Ministério Público e os homens ficam à disposição da Justiça. 
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