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SEMIÁRIDO

Agricultores retomam o plantio do caju em Carnaíba, Sertão do Pajeú

Publicado em: 15/07/2019 10:58 | Atualizado em: 15/07/2019 16:23

Foto: Taua Leandro/Divulgação.
Aos poucos a realidade do semiárido nordestino vai mudando de feição. Em Carnaíba, a 323 quilômetros do Recife, o cajueiro está servindo para repovoar a terra antes ocupada pela plantação da oiticica, dizimada devido à seca prolongada que se abateu sobre o Sertão do Pajeú. Cerca de 60% dos cajueiros, que também ocupavam boa parte da região, foram devastados pela estiagem nos últimos seis anos e pela praga da mosca branca. As chuvas recentes trouxeram um novo alento ao homem sertanejo e, consequentemente, passaram a favorecer o plantio da planta, que está sendo retomado. No ano passado, a Secretaria de Agricultura de Carnaíba deu início à distribuição de 20 mil mudas de cajueiros com as comunidades rurais do município.

O cajueiro também aportou na região em substituição ao algodão, que teve seu período áureo há algumas décadas mas deixou de ser explorado. Uma das comunidades que viu o declínio econômico por conta da falência na produção do chamado “ouro branco” foi a Lagoa do Caroá, que chegou, por conta da crise, a apresentar um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de Carnaíba. O povoado somente começou a se erguer com o cultivo dos cajueiros, que agora passam a ganhar uma nova ênfase da gestão municipal.

A agricultora Maria José Mendes da Silva, 53 anos, é uma das beneficiadas com a distribuição de mudas. Moradora do povoado Lagoa do Caroá, a cerca de 16 quilômetros do Centro, Maria José mantém aproximadamente dois hectares plantados com cajueiros e é praticamente uma das maiores produtoras de castanha da região. “Quando a safra chega faz a alegria dos agricultores”, salienta Maria José, que tem uma média de 40 pés plantados. Parte deles foi a fetada pela praga da mosca branca. “Só agora estamos nos recuperando”, relata a ag r icultora. Apesar das perdas, no ano passado ela conseguiu tirar oito sacas com 60 quilos de castanhas, cada uma. As castanhas geralmente são vendidas para fábricas de beneficiamento na vizinha Afogados da Ingazeira.

Maria José Mendes da Silva, 53 anos. Foto: Taua Leandro/Divulgação.

Apesar de cultivar outras plantas frutíferas, como laranja e acerola, Maria José investe no plantio de cajueiro por ser, segundo diz, de fácil manejo. Por conta disso, no período de inverno, ela já chegou a tirar até 100 sacas de castanhas. O preço varia de acordo com a safra, podendo ficar entre R$ 130 e R$ 150. “É uma renda extra para nós que vivemos da roça”, garante Maria José.

A agricultora relembra que enfrentou tempos difíceis quando tinha de puxar água de cacimba para irrigar as plantações de cajueiros. “Foi muito sofrido mas valeu a pena”, recorda.

Agricultores estão otimistas com o plantio
Assim como ela, quase todos os moradores da pequena Lagoa do Caroá se beneficia da plantação de cajueiros. A associação dos trabalhadores rurais da comunidade congrega 80 associados. Cada um deve receber 25 mudas da Secretaria de Agricultura de Carnaíba. A associação mantém uma pequena indústria de beneficiamento de frutas e aguarda a chegada da safra, prevista para os meses de outubro a novembro, para poder trabalhar com o caju, segundo o presidente Manoel Laurindo Rodrigues, 53 anos. A polpa da fruta beneficiada serve, inclusive, para a merenda escolar do município.

Vanildo Nicácio da Silva, 46 anos, é um dos associados que recebeu as mudas de cajueiros. Plantadas, as mudinhas já começam a brotar. A expectativa é que daqui a dois anos comecem a dar frutos. Vanildo tem plantados 50 pés. Já teve até 100, mas a praga dizimou a plantação pela metade. Aos poucos, ele foi substituindo o feijão e milho pelo cajueiro. “A castanha é venda certa”, revela. No auge da safra, o agricultor chegou a colher até 25 sacas de castanhas. “A venda da castanha ajuda bem, dá uma boa feira”, diz Vanildo Nicácio.

Aposta
É por este motivo que Maria Marcilene dos Santos, 28 anos, vizinha de Vanildo, resolveu receber as mudas distribuídas pela Secretaria de Agricultura. C om renda oriunda apenas do Bolsa-Família, ela aposta no plantio dos cajueiros para melhorar de vida. “Quero sair do sufoco, do aperto”, destaca.

Quem também é exemplo e não tem do que reclamar com o investimento nessa cultura típica é a agricultora Josefa Gonçalves da Silva, 65 anos. Dona Zefinha, como é con hecida, mantém uma propriedade com 50 hectares ocupados por uma variedade de plantas frutíferas, desse total dois são destinados ao plantio de cajus. São mais ou menos uns 150 pés de cajueiros. No ano passado, ela chegou a tirar 14 sacas de castanha, mas já houve época de tirar até 28 sacas. “Vamos retomar a produção”, promete a agricultora, que é presidente da Associação do Açude do Caroá. Para tocar seu plantio, dona Zefinha envolve toda a família.

“No domingo vem todo mundo aguar o terreno. Depois, a gente se junta debaixo do cajueiro para torrar as castanhas. Todo mundo já sabe “quebrar”, garante, dizendo que a farra é grande. A julgar pelo visual da propriedade, a gente acredita.Vanildo Nicácio faz questão de mostrar a muda nova que ganhou, enquanto Dona Zefinha lucra com a colheita e revenda de castanhas
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