Vida Urbana

Universitários protestam contra cortes e fazem 'balbúrdia' neste sábado

Estudantes criaram perfil para divulgar destaques da UFPE e ressaltam a história da FDR (foto), por exemplo, uma das mais antigas instituições do país. Foto: Paulo Paiva/DP.

Em vez de 'bagunça', porém, os estudantes pretendem divulgar as ações de ensino, pesquisa e extensão das universidades. Atos semelhantes têm acontecido em várias universidades do país. Nessa segunda-feira (6), em protesto contra corte de verbas, alunos e professores deram um 'abraço simbólico' na Universidade de Brasília (UnB). Uma mobilização de estudantes e professores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) também aconteceu nessa segunda na Praça da Democracia. Estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) fizeram uma caminhada com cartazes e faixas.

Na semana passada, a UFPE teve R$ 55,8 milhões bloqueados pelo governo federal. Do total embargado, R$ 50 milhões são referentes ao orçamento de custeio da instituição de ensino superior. O corte representa 30% do total anual voltado para manutenção da universidade. Além do corte no orçamento de manutenção, a UFPE sofrou um bloqueio de R$ 5,8 milhões do orçamento de investimento, usado na aquisição de novos equipamentos, de aparelhos de ar-condicionado e construção de novos prédios, por exemplo.

Já a UFRPE sofreu um bloqueio orçamentário de R$ 23,6 milhões, ou seja, 31,3% do orçamento discricionário da instituição. Esse bloqueio atingiu 30% da verba para bolsas e capacitação; 37,04% do funcionamento da universidade – energia elétrica, água, segurança, limpeza e outros serviços terceirizados; 44% do orçamento de investimento e R$ 622 mil do orçamento discricionário previsto para o Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas (Codai).

Em relação à nova Universidade Federal do Agreste (Ufape), houve um bloqueio de R$ 3,7 milhões, o que representa 30% do orçamento que estava previsto. "Vale salientar que essa redução também não ocorreu de maneira uniforme. O orçamento de bolsas, capacitação e capital sofreu uma redução linear de 30%. Já o orçamento de custeio foi suprimido em 31,9%, reduzindo o orçamento de R$ 9,25 milhões para R$ 6,2 milhões", pontuou a UFRPE, ainda responsável pela nova universidade, em comunicado.

A Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) informou que a maioria das ações da universidade foi atingida com o bloqueio de 30% do orçamento. "Abrange ações de fomento à graduação, pós-graduação, ensino, pesquisa e extensão; contratos; capacitação de servidores; programas de restruturação e modernização. Esta medida do governo federal alcança e afeta diferentes serviços das universidades, tanto no campo administrativo como também acadêmico", pontuou a instituição, em nota.

No texto, a universidade destaca ainda que "o percentual de 30% equivale ao bloqueio de mais de R$ 11 milhões do orçamento de custeio da Univasf. Com relação a investimento, incluindo emendas parlamentares, o bloqueio é de mais de R$ 6 milhões, atingindo 84% do orçamento programado. Os impactos decorrentes são a redução imediata da capacidade de investimento em obras e aquisição de equipamentos".

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) também sofreu cortes no orçamento. De acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), a instituição sofreu um corte de 30% no seu orçamento discricionário previsto na Lei de Orçamentária Anual (LOA).

Ações divulgadas

Os estudantes da UFPE criaram ainda perfis nas redes sociais para divulgar as atividades e destaques da instituição. A página Bálburdia UFPE, criada há três dias e com 8 mil seguidores no Instagram, mostra as ações de ensino, pesquisa e extensão da universidade que completa 73 anos em agosto. Prêmios internacionais conquistados por estudantes e professores da UFPE; projetos de capacitação; ações para a comunidade; apresentações de trabalhos e de pesquisas em congressos são divulgados nas redes sociais para protestar contra os cortes nos orçamentos.

O perfil destaca ainda a importância histórica de instituições da UFPE, como a Faculdade de Direito do Recife (FDR), que completa 192 anos de fundação em 2019. Inaugurada em 1827, a instituição foi a percussora do curso de ciências jurídicas no Brasil. A primeira turma de bacharéis em ciências jurídicas se formou em 1832. Inicialmente funcionando no Mosteiro de São Bento, em Olinda, a faculdade já passou por diversos prédios, até que em 1889 mudou-se para a atual localização, conhecida à época como Ilha dos Ratos.

Debate

Nesta quarta-feira (8), reitores de instituições pernambucanas vão debater o contingenciamento de R$ 7,4 bilhões do Ministério da Educação (MEC). A Academia Pernambucana de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizam o evento aberto ao público "Ameaças à autonomia universitária" às 14h30, no auditório do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG) da Universidade Federal de Pernambuco.

Coordenada pelo ex-reitor da UFPE Amaro Lins, a mesa-redonda contará com a participação dos reitores Anísio Brasileiro (UFPE), Anália Ribeiro (Instituto Federal de Pernambuco), Julianeli Tolentino (Universidade Federal do Vale do São Francisco), Maria José Sena (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e Pedro Falcão (Universidade de Pernambuco).

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Cortes

O Ministério da Educação anunciou, no dia 30 de abril, que todas as universidades federais do país sofrerão corte de 30% em seus orçamentos. A medida foi tomada após a pasta ser alvo de críticas por ter reduzido as verbas destinadas à Universidade de Brasília (UnB), à Universidade Federal Fluminense (UFF) e à Universidade Federal da Bahia (UFBA).

A diminuição dos recursos das três instituições tinha sido anunciada pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub. Ele justificou que as reduções no orçamento da UnB, da UFF e da UFBA foram definidos porque as três instituições estariam com sobra de dinheiro para "fazer bagunça e evento ridículo".

Já a informação sobre o corte em todas as federais foi dada pelo secretário de Educação Superior do MEC, Arnaldo Barbosa de Lima Junior. De acordo com ele, trata-se de um bloqueio, de “forma preventiva” e que ocorrerá “sobre o segundo semestre”.

Conheça as instituições federais pernambucanas afetadas pelos cortes:


A Universidade Federal de Pernambuco tem três campi (Recife, Caruaru e Vitória de Santo Antão), 105 cursos de graduação, 133 cursos de pós-graduação, 30,6 mil alunos de graduação, 12,7 mil alunos de pós-graduação, 2,8 mil professores e 4,1 mil servidores técnico-administrativos. A instituição ficou em 20º lugar entre as universidades brasileiras classificadas no ranking 2019 do Times Higher Education (THE) de países considerados de economia emergente (Emerging Economies University). A UFPE está no intervalo 301–350 entre todas as instituições do mundo. Os resultados mostraram que a UFPE melhorou nas dimensões de ensino e visibilidade internacional.

UFRPE

A Universidade Federal Rural de Pernambuco, de acordo com o Relatório de Gestão 2017 da instituição, tem 12.964 estudantes, sendo 11.345 de graduação e 1.619 de pós. A UFRPE tem 1.138 professores e 1.940 funcionários. Levando em consideração todas as universidades públicas (federais e estaduais), a UFRPE ficou, em 2018, na 27ª melhor classificação no ranking do Índice Geral de Cursos (IGC/MEC). Ao todo, 2.083 instituições de ensino superior foram avaliadas pelo MEC. A UFRPE ocupa o posto de 77º no ranking geral, que inclui além das universidades, centros universitários, faculdades, institutos, entre outras instituições públicas e privadas.

Univasf

A Universidade Federal do Vale do São Francisco está presente em três estados: Pernambuco, Bahia e Piauí. Os primeiros campi foram implantados em Petrolina, sertão pernambucano; Juazeiro (BA) e São Raimundo Nonato (PI). Em seguida, a universidade se estabeleceu em Senhor do Bonfim (BA), depois foi implantado o campus Paulo Afonso (BA) e, mais recentemente, o campus Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, foi criado. A universidade oferece 35 cursos de graduação, dos quais 30 são presenciais e cinco na modalidade de Educação a Distância (EAD). A Univasf também possui 17 cursos de mestrado, quatro doutorados e 10 especializações.

IFPE

Ao todo, o IFPE tem 16 campi distribuídos em todas as regiões do estado, além de 11 polos da Educação a Distância (EAD). São oferecidos 283 cursos regulares nos níveis técnico, superior e de pós-graduação, totalizando o atendimento a mais de 27 mil estudantes. "Para além das atividades de sala de aula, nossos alunos têm, aqui, a oportunidade de serem inseridos em práticas de pesquisa, inovação e extensão, sob a orientação de um corpo docente altamente qualificado, formado por 1.277 professores, dos quais 78,23% são mestres e doutores", destacou o IFPE.

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