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Um casamento dos sonhos em Nazaré da Mata

Ao todo, 40 casais com histórias de amor diversas se uniram

Publicado em: 12/05/2019 10:07 | Atualizado em: 12/05/2019 10:18

Casamento coletivo já faz parte do calendário de Nazaré há cinco anos. Foto: Fernanda Cristina
Severina Maria da Silva, 62 anos, vive com Luiz Miguel dos Santos Sobrinho, 58, há quase 40. O tempo exato ela não sabe. Perdeu as contas. A união “no papel” estava marcada para acontecer na sexta-feira passada, em uma cerimônia coletiva, marcada por uma grande festa. Adiantaram o casório na frente do juiz sozinhos mesmo, no cartório, oito dias antes. É que Luiz anda doente, em tratamento de um câncer na tireóide. Luiz é funcionário público em Nazaré da Mata, onde é servente. Após a doença, surgiu a necessidade de deixar a família mais assegurada. O casamento no civil foi um caminho para garantir direitos à mulher, analfabeta e dependente financeiramente dele.

No dia da cerimônia coletiva, Severina precisou deixar Nazaré, junto com Luiz, para acompanhá-lo no tratamento feito no Hospital do Câncer, no Recife. Por isso não puderam comparecer à festa. “Gostei muito, o juiz falou bem”, disse Severina, sobre o dia da união dela e do marido no civil. Enquanto ela seguia cuidando da saúde do marido, 40 casais firmavam compromisso no 5ª Casamento Comunitário, promovido pela Associação de Mulheres de Nazaré da Mata (Amunam) em parceria com o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). O evento aconteceu à tarde, no Espaço Mamãe Coruja Festas, no centro do município da Zona da Mata pernambucana. Este ano, o casamento teve uma novidade.

Como nem todas as mulheres tinham vestido de noiva, Eliane Rodrigues, idealizadora da Amunam, lançou o projeto Adote uma noiva. A ideia mobilizou mais de 16 empresas voluntárias de Nazaré, Timbaúba e Carpina para serem parceiras do evento. A parceria rendeu doações de decoração, bolo, buquês, música ao vivo, espaço para a festa, maquiagem, cabelo e vestido de noiva.

Joselma Sebastiana da Silva, 33, decidiu colocar em prática os planos já antigos de emagrecer. Assim, poderia usar o vestido que escolheu em uma das lojas parceiras do evento. Perdeu 30 quilos de um total de 163 e o modelo ficou exatamente como ela queria. “Meu ex-marido disse que ninguém ia me querer gorda e com filho. Fui empurrando o casamento com a barriga e decidi mudar de vida. Separei e, há cinco anos, conheci meu atual esposo e ele me aceitou na boa, como eu sou. Ele sempre quis casar, mas como sou forte, era difícil achar um vestido. Agora apareceu a oportunidade. Também quero entrar no coral da igreja e para isso tem que casar”, explicou. Marcílio Carlos Rodrigues, 34, está feliz com o progresso da amada. ”O peso nunca influenciou eu gostar ou não dela. Agora, vamos continuar seguindo juntos para mudar ainda mais.”

Quem também casou na cerimônia coletiva foi Marta Maria Silva Amorim, 39, e Iranildo de Oliveira Monte Júnior, 36. Eles se reencontraram em 2017, através das redes sociais, 20 anos depois de se conherem, ainda crianças, na igreja. Nesse tempo, cada um casou, teve filhos e descasou. “Na época que encontrei ela no Facebook eu estava em Goiás, trabalhando. Depois disso, marcamos em Nazaré e disse: quero ficar longe dela mais não”. Assim tem sido. Marta demorou para aceitar o pedido de casamento por conta da antiga relação que, para ela, não deu certo. Também precisou enfrentar o preconceito de ser uma mulher separada. Agora, a professora e o operador de máquinas vão morar em Nazaré. Continuar o que estancaram há  20 anos.

CALENDÁRIO
Em cinco anos de projeto, 230 casais já firmaram o compromisso no civil. A associação existe há 30 anos e promove o empreendedorismo da mulher de Nazaré da Mata. Na semana passada, recebeu o Prêmio Natura por conta do trabalho com o Maracatu Feminino Rural Coração Nazareno. O reconhecimento, em São Paulo, se deu pela inserção das mulheres do município na cultura popular.

A cerimônia foi celebrada pelo juiz Felipe José Rosa e Silva. O TJPE confeccionou a certidão de casamento. O ato rende a economia de pelo menos R$ 600 para cada casal pelo documento. “Esse valor é bem relevante para as famílias”, calcula Eliane. Cerca de 300 convidados participaram da festa. “Todos os anos, muitos casais aguardam ansiosamente por esse momento. O casamento comunitário já é marca registrada no calendário de nossa cidade”, acrescentou.

Nestas segunda e terça-feira, o TJPE vai realizar casamento coletivo de moradores de bairros da capital. As cerimônias acontecem a partir das 10h no auditório do Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, na Ilha Joana Bezerra. O evento será gratuito e celebrado pela juíza Wilka Vilela.

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