Medicina

Lançamento de livro resgata memória e legado do médico Salomão Kelner

Publicado em: 22/05/2019 11:25 | Atualizado em: 22/05/2019 11:32

Lançamento do livro Salomão Kelner %u2013 Um Marco na Medicina Pernambucana ocorre nesta quinta-feira (23). Crédito: Tarciso Augusto/Dp FOTO

Firmeza de caráter, disciplina nas regras morais, convicção nas ideias. Quando pleiteava uma bolsa na Kellogg Foundation para estudar em Boston, nos Estados Unidos,  Salomão Kelner foi agraciado com essas palavras pelo catedrático Eduardo Wanderley Filho. O elogio do professor para com o discípulo poderia soar exagerado, não fosse o legado e o exemplo deixados por Salomão na medicina brasileira. Depois de dois anos e meio de pesquisa e documentação, essa história virou livro. A obra Salomão Kelner, um Marco na Medicina Pernambucana, reúne memórias da carreira e da vida pessoal de um dos grandes profissionais da saúde do estado.

Pensada, a princípio, para celebrar os cem anos de nascimento de Salomão Kelner, em 2016, a versão inicial da obra acabou ficando pequena diante do histórico de profissional, figura pública, cirurgião, pesquisador, pai, avô e bisavô. Filho de um ucraniano e uma russa, ele chegou com a família ao Recife em 1918. Os pais não falavam sequer português, não possuíam profissionalização, e vieram ao Brasil, depois de passar pela Argentina, fugidos da perseguição aos judeus. Na capital pernambucana, Salomão trabalhou em uma madeireira na Rua da Praia e deu aulas de português e matemática para ajudar dentro de casa.

Em 1935, ingressou no curso da então Faculdade de Medicina do Recife, hoje incorporada à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e deu início a uma carreira consagrada. Referência em cirurgia abdominal, Salomão foi professor da universidade, pesquisador e fundador do mestrado em Cirurgia da UFPE. “Ele se formou em 1940 e em 1949 foi chamado por Eduardo Wanderley Filho para ser professor de técnica operatória e cirurgia experimental. Sempre achei que a história do meu pai merecia ser contada, um homem de origem humilde, que conquistou tudo por meio do esforço e da honestidade”, lembra a psicanalista Gilda Kelner, 74 anos, filha única de Salomão.

Salomão era conhecido pela sensibilidade ético-social, a prática humanista e o rigor na metodologia. “Na década de 1950, a esquistossomose era um grave problema de saúde e Salomão desenvolveu uma tese de cátedra inovadora, na qual propunha uma nova técnica para tratar as hemorragias decorrentes da doença”, explica o especialista em saúde pública e epidemiologia Djalma Agripino de Melo Filho, 59. Coautor do livro, Djalma reuniu junto a Gilda Kelner 28 depoimentos de amigos, familiares, ex-alunos e admiradores, para traçar o perfil biográfico de Salomão Kelner.

Além de trazer detalhes da carreira médica, com dados que podem subsidiar a pesquisa de estudantes e profissionais da área na atualidade, o livro percorre passagens marcantes da vida de Salomão, como a visita que ele foi fazer ao ex-governador Miguel Arraes, na prisão. Engajado politicamente e defensor da educação pública, Salomão era socialista autodeclarado e chegou a ser preso na época da ditadura militar. “Sabe quais são as três prioridades do Brasil? Primeiro lugar, a educação; segundo lugar, a educação; terceiro lugar; a educação”, disse em certa época o professor, em um discurso atemporal e, mais do que nunca, atual.

A obra também traz fotografias dele com a família e no exercício da profissão, detalha a versão erudita e cultural de Salomão, conhecedor de diversas línguas, apaixonado por viagens, música e arte. O perfil biográfico de Salomão Kelner, editado pela Cepe, será lançado no próximo dia 23 de maio, às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco.

Serviço
Lançamento do livro Salomão Kelner – Um Marco na Medicina Pernambucana
Cepe Editora
23 de maio, às 19h
Museu do Estado de Pernambuco (Avenida Rui Barbosa, 960 - Graças)
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