Artigo

Escolas Cartesianas x Escolas que gerem emoções

Publicado em: 03/05/2019 20:02

Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Que tal voltar um pouco no tempo e tentar lembrar o que aprendeu nas primeiras séries escolares? Como foi aprender a ler? Prazeroso? E hoje, como é a frequência de leitura, um livro por semana? E a famosa e muitas vezes temida tabuada? Boas lembranças deste aprendizado? E como hoje se dá a relação com os números?

Quando é vivenciada uma situação de prazer, o cérebro libera um neurotransmissor chamado dopamina que envia informações para as células cerebrais das seguintes áreas: amígdala, responsável pelo controle das reações emocionais e fixação de informações emocionalmente importantes; córtex pré-frontal, responsável por focar sua atenção naquilo que está te dando prazer; hipocampo, área responsável pela formação de memórias. Ao passo que, sensações de tédio ou desprazer, desconectam algumas partes do cérebro, segundo o neurocientista Daniel Weissman, da Universidade de Michigan em Ann Arbor. E a raiva ativa, primordialmente, o Hipotálamo, estrutura responsável pelo controle da sede, fome e nível geral de atividade. 

Diante das informações acima, advindas da Neurociência, percebe-se que conteúdos trabalhados por meio de metodologias que despertem prazer e para isso, focadas no conhecer prévio dos alunos, resultam em mais atenção, fixação e construção de conhecimento mais facilmente. Ao passo que, a falta de adequação da metodologia de ensino ao público alvo, pode tornar o aprendizado ineficaz. Os alunos ficarão inquietos e desatentos por vezes sentindo fome, sede e cansaço “fora de hora”.
A razão cartesiana, defendida pelo filósofo francês René Descartes, traça um caminho de pensamento constituído pela dúvida, a experimentação e a formulação de leis muito útil na produção de conhecimento dos séculos XVII, XVIII e XIX.  Porém, a partir do século XX, notou-se o quanto o pensamento cartesiano foi responsável pelo desenvolvimento de uma noção bastante rígida de razão, estabelecendo formas muito rígidas de pensar o mundo.

Então, escolas de vanguarda devem construir cenários para um aprendizado efetivo com base em:
1 - Aulas com foco na repetição, no acúmulo de conteúdo pelo professor, na relação de via de mão única, professor sabe e aluno aprende e na dissociação completa entre alegria e estudo; ou
2 – Aulas que considerem o aprendizado prévio dos alunos, busquem vivências para tornar real e concreto o aprendizado e que tenham como objetivo o brilho nos olhos de cada aluno. 

Como propunha Rubem Alves: “O objetivo da educação não é ensinar coisas porque as coisas já estão na Internet, estão por todos os lugares, estão nos livros. É ensinar a pensar. Criar na criança essa curiosidade, precisamos de professores de espanto”.

Segundo a psicologia de Henri Wallon, o homem é um ser completo, isto é, expressa domínios da cognição, da afetividade e do movimento, sendo que esses domínios se influenciam, e em cada momento do desenvolvimento da criança, há a predominância de um desses aspectos. 

Por isso, não é possível que dentro da escola as emoções sejam ignoradas. Ao entrar na sala de aula, o professor não pode pedir: “Caro aluno, vou fechar a porta, por favor, deixe do lado de fora suas emoções e sentimentos”. Nem mesmo o professor pode despir-se de suas manifestações afetivas quando está lecionando. Desta forma, o caminho mais adequado talvez seja compreender as manifestações afetivas, ajudando-os no seu desenvolvimento.

Esse entendimento de que as emoções nos constituem e são importantes para a própria evolução da inteligência, revela a necessidade de professores preparados para além do conteúdo didático. A reflexão acerca do perfil do alunado, perfil do grupo, metodologia e recursos mais adequados, envolvimento familiar e apoio multidisciplinar, são condições básicas e permanentes para o aprendizado efetivo. 

Aprendizagem e disciplina brotam pelo cultivo do afeto e do prazer. A ausência desses elementos implica ameaça, obrigatoriedade e anulação do pensar. Que tal o período escolar ser tão prazeroso quanto os finais de semana, apenas com objetivos e rotinas diferentes?

Nair Carolina Montenegro
Neuropsicopedagoga
Sócia-fundadora do Berçário Espaço Sementinhas
Graduada em Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas pela UNICAP; MBA Executivo em Formação e Gestão de Competências pela UFPE e Pós Graduada em Neuropsicopedagogia pela FG. Experiência em docência e didática na área da Neuropsicopedagogia; Conhecimento teórico e prático sobre prevenção, avaliação, intervenção e desenvolvimento no processo de ensino/aprendizagem com foco nas funções neuronais envolvidas. Primeira infância como linha de estudo e atuação. Sócia-fundadora do Berçário Espaço Sementinhas.
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