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ENTREVISTA

A educação passa por profunda crise

Papa Neto afirma que o sistema tradicional e linear de ensino não mudou nos últimos 100 e precisa ser atualizado

Publicado em: 25/05/2019 08:00 | Atualizado em: 25/05/2019 10:48

Chairman da Bett, plataforma sediada na Inglaterra, esteve no Brasil. Foto: Divulgação
José Papa Neto, que já atuou como diretor geral da Cannes Lions e, antes disso, como CEO global da WGSN, é atualmente chairman global da marca Bett, plataforma sediada em Londres e que tem como objetivo conectar diversos setores da educação e plataformas de tecnologia para fomentar novidades e tendências que ajudem a definir o futuro da educação em todo o mundo. “Zizo”, como é conhecido, retornou ao Brasil nesta semana para discutir as diretrizes para o desenvolvimento do setor na Bett Educar, maior encontro de EdTechs da América Latina, que aconteceu de 14 a 17 de maio, no Transamérica Expo Center, São Paulo. Segundo o empresário, a educação vem sofrendo uma transformação profunda graças à tecnologia, o que na prática significa uma readequação de toda uma cadeia, desde sistemas pedagógicos ao próprio formato acadêmico proposto atualmente. “A Bett é a plataforma que propõe caminhos para transformar o ensino e definir o futuro da educação, independente da classe etária e financeira apostando nas tendências e reunindo propostas inovadoras das principais EdTechs do país”.

A educação vem sofrendo uma transformação profunda graças à tecnologia, o que na prática significa uma readequação de toda uma cadeia, desde sistemas pedagógicos ao próprio formato acadêmico proposto atualmente. Como as escolas estão respondendo e se adaptando às novas ondas tecnológicas?
Estamos preparando as gerações para esse futuro de forma correta? Estamos vivendo uma profunda crise na educação e a sensação é que todos os sistemas pedagógicos atuais não estão adaptados ao sistema de trabalho futuro.O formato acadêmico atual sugere que as pessoas estão perdendo tempo e os jovens acabam chegando nas escolas e salas de aula desestimulados a mergulhar no aprendizado, uma vez que a tecnologia não está incorporada no dia a dia pedagógico e os jovens interagem com ela a todo tempo.A verdade é que as escolas nos formatos atuais não estão preparando de fato essas gerações para o futuro. O sistema tradicional e linear de ensino não mudou nos últimos cem anos e precisa de atualizar, daí a importância da tecnologia e dessa revolução exponencial que estamos vivendo na educação.

Você que está inserido no mercado global de educação e tecnologia, como enxerga essa crise global no ensino? Como os países que integram a Bett têm se posicionado para buscar soluções para essa crise?
A Bett Global age como um alicerce e ponte de integração de todas as visões de futuro e de diversas regiões do mundo. Então conseguimos interagir com ministros da educação, sistemas de ensino e toda a parte institucional de diversos países, criando um Global Fintech de educação. Exatamente para entender o que é necessário para a educação evoluir, alinhado à evolução do sistema de trabalho global. Por isso que estamos presentes em diversos cantos do planeta e promovemos a Bett em diversas regiões: para chegarmos à cadeia de valor como um todo, sempre com uma visão global, mas com um foco local.

Você tem percebido um movimento dentro das universidades na formação de educadores que busquem novas soluções e metodologias de ensino para engajar alunos que já nascem inseridos no universo tecnológico?
Como digitalização, gameficação, realidade virtual e automação. Essa é a principal movimentação. As escolas e as universidades estão se adaptando e estimulando os alunos a interagirem no sistema de ensino de uma forma que prepare os jovens para a geração de trabalho futura, por meio de metodologias como gamification, inteligência artificial e realidade virtual.Como citei, eles chegam nas escolas desestimulados exatamente porque o pensamento linear é o vigente. No sistema global de ensino apenas 3% do investimento total envolve o universo tecnológico, então quanto mais for a digitalização, e o investimento em gamification, realidade virtual, etc mais vai ser possível “curar” os programas de ensino e dessa forma estimular o engajamento dos jovens.

Levando em consideração o atual cenário político brasileiro. Como o governo pode contribuir de maneira mais efetiva para o desenvolvimento do processo pedagógico?
Levando em consideração o atual cenário político do Brasil, acho que a melhor maneira do país contribuir é com uma radical revolução na interpretação do que é o pensamento linear da educação. Uma vez que haja coragem para se discutir temas que hoje são complexos e que não está clara qual que é o processo de trabalho futuro, tem que ter muita coragem para mergulhar no processo pedagógico atual e de fato alinhá-lo à evolução tecnológica e preparar as gerações.
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