Justiça

Restaurante Leite, o mais antigo do Brasil, é alvo de disputa familiar

Publicado em: 26/04/2019 13:48 | Atualizado em: 26/04/2019 15:49

Com mais de um século de história, o Leite estaria passando por problemas internos. Foto: Leandro de Santana/Esp.DP.
O Leite, mais antigo restaurante em funcionamento do Brasil, considerado um patrimônio pernambucano, é alvo de um impasse familiar. A responsabilidade pela administração do estabelecimento está sendo disputada na Justiça pelo antigo dono, o português Armênio Dias, e as duas filhas, Daniela Ferreira da Fonte e Silvana de Souza Ferreira. Em um informe publicitário veiculado na mídia do estado, o empresário esclarece que está afastado da administração do restaurante e considera lamentável a situação em que se encontra a casa secular. Fundado há 137 anos, o Leite estaria passando por problemas internos, como falta de qualidade das instalações e de produtos.

A situação veio à tona nesta semana, em função da nota pública. De acordo com Armênio, em 1956 ele começou a gerir o Leite com os irmãos, depois de chegar ao Recife. “Nosso objetivo era devolver ao Leite os seus anos de glória, ampliando sua fama para além das fronteiras de Pernambuco Esta parte da missão foi integralmente cumprida”, diz no informe. O português relata que em 2009 constituiu uma empresa jurídica em nome das filhas, com o objetivo de substituir a pessoa jurídica anterior. “Na mesma ocasião foi feito um Instrumento Particular Confidencial de Compromisso Jurídico garantindo os direitos societários dos titulares da empresa substituída.”

O restaurante, localizado na Praça Joaquim Nabuco, bairro de Santo Antônio, foi fundado em 1882. Foto: Leandro de Santana/Esp.DP.
Há cerca de três anos, a gestão financeiro-administrativa teria sido transferida para Daniela. “Não venho concordando com a condução do negócio. Para mim, que estive à frente do Leite ao longo desses últimos 60 anos, isso não é só inadmissível, mas uma mácula à dedicação e amor que tenho pelo restaurante Leite”, afirmou Armênio. O Diario procurou a administração atual do estabelecimento. Todos os funcionários que falaram com a equipe de reportagem disseram que "não podiam comentar o assunto". Todos também informaram que começaram a trabalhar no restaurante "ontem". 

Nesta sexta-feira (26), Daniela e Silvana responderam por nota de esclarecimento. "A competente equipe do Leite continua a receber calorosamente seus clientes, cabendo às suas filhas, Daniela e Silvana, a administração que garante o seu perfeito funcionamento", pontuaram no texto. Ainda de acordo com o informe, os fatos levantados na nota do pai serão "a tempo e modo adequados esclarecidos".

Nota de esclarecimento foi veiculada em veículos de comunicação do estado. Foto: Reprodução.
Com o apoio da esposa, Célia Maria de Souza Ferreira, e do sobrinho, Amadeu de Souza Dias, o empresário solicitou que as filhas se afastassem do restaurante, para que a antiga sociedade fosse restaurada. “Para minha surpresa, elas se recusaram a devolver o controle da empresa. Embora constrangido, me sinto obrigado a informar aos clientes, frequentadores e admiradores do Leite que, em razão dessa situação, entramos com uma ação na Justiça.”

Filhas de Armênio também publicaram nota de esclarecimento. Foto: Reprodução.
O restaurante, localizado na Praça Joaquim Nabuco, bairro de Santo Antônio, foi fundado em 1882. Em suas mesas já passaram presidentes, como Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e Fernando Henrique Cardoso, além de outras personalidades ilustres como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Orson Welles e Gilberto Freyre. Armênio Dias, 88 anos, é dono da casa desde a década de 1950. O estabelecimento preserva um ar aristocrático. As cadeiras são de jacarandá; as bandejas, de prata e os guardanapos, de algodão puro.

Estabelecimento é conhecido por ser frequentado por personalidades ilustres, como ex-presidentes. Foto: André Marins/Arquivo DP.
Frequentador do Leite desde a década de 1960, o ex-superintendente do Ministério da Fazenda de Pernambuco José Eudes Lima lamentou a situação atual. “O Leite é um ponto turístico do estado, as pessoas vêm do exterior para comer nele. Tornei-me muito amigo da família. O desentendimento não é bom para ninguém, isso abala a sociedade pernambucana. Acho que a cidade perde muito”, comentou ele, que, entretanto, não percebeu diferença no atendimento.

Por outro lado, clientes insatisfeitos têm usado redes sociais de avaliação de pontos turísticos para criticar o restaurante. “O Leite azedou. Cheguei às 15h e a atendente nos informou que o restaurante já tinha encerrado as atividades. Argumentei que só vim porque dizia que fechava às 16h. Ou seja, o horário é de acordo com a vontade do cozinheiro”, comentou uma cliente.  “Já estive no Leite anteriormente e gostei muito da comida. Desta vez, contudo, foi horrível. u e meu amigo pedimos bacalhau com natas e o que nos serviram foi um purê de batatas com quase nada de bacalhau. Uma decepção!”, escreveu outra. 
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