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A brigada que salva a vida de mulheres

Publicado em: 17/04/2019 08:15 | Atualizado em: 17/04/2019 14:36

Grupo tem como principal arma o comprometimento com os direitos da mulher. Foto: Mandy Oliver/DP. (Grupo tem como principal arma o comprometimento com os direitos da mulher. Foto: Mandy Oliver/DP.)
Grupo tem como principal arma o comprometimento com os direitos da mulher. Foto: Mandy Oliver/DP. (Grupo tem como principal arma o comprometimento com os direitos da mulher. Foto: Mandy Oliver/DP.)
“Você é gorda. Você não vai arrumar outra pessoa. Nenhum homem vai te querer com um filho. Você é uma vagabunda.” Rebeca, 41 anos, ainda sofre o efeito devastador dessas frases. Todas foram ditas pelo ex-marido ao longo do casamento de quatro anos. Mesmo afogada na dor da violência verbal, pensava que as palavras eram parte de uma discussão normal entre marido e mulher. Quando a violência física lhe tirou o resto de chão, decidiu procurar ajuda.

Rebeca é uma das mulheres atendidas pela Brigada Maria da Penha, um braço da Guarda Municipal do Recife para prestar assistência e proteção às mulheres vítimas da violência doméstica e familiar, sob medida protetiva, atendidas no Centro de Referência Clarice Lispector. “Até hoje essas falas mexem comigo. Três anos depois da separação, ainda não consigo me envolver com outro homem.”

A brigada tem duas equipes formadas por homens e mulheres que se revezam em plantões de 12h por 36h. A principal arma do grupo é o comprometimento com a garantia de direitos das mulheres. Carregam também uma arma de choque e um cacetete. Outra ferramenta indispensável é o contato por telefone, que liga as equipes diretamente às mulheres vítimas. “Depois da separação, muitas vezes ele bebia e ficava na minha porta ameaçando. Quando ligo para a brigada, a equipe chega bem rápido. Se eu acionasse o 190, os policiais militares iriam demorar muito mais”, conta Rebeca.

O serviço completou um ano em março e nos primeiros três meses deste ano já acompanhou 150 mulheres encaminhadas pela equipe do Clarice. Além das chamadas de emergência e rondas nas imediações da residência das vítimas para monitorar se há descumprimento da medida protetiva por parte do agressor, a brigada também acompanha a equipe técnica da Secretaria da Mulher, a qual o Clarice está ligado, nas atividades internas e externas de atendimento às vítimas, como ouvidas em delegacias, audiências na Justiça e visitas domiciliares.

Segundo Janaína Albuquerque, integrante da brigada, o acompanhamento somente acaba quando a mulher assina um termo onde deixa clara essa decisão. As visitas às mulheres podem acontecer até mesmo uma vez por semana, a depender da gravidade das ameaças. “Também é importante dizer que muitas vezes o agressor fica sabendo da frequência das rondas nas imediações da casa da ex-companheira e evita descumprir a medida protetiva.”

Gisele Costa também é da brigada, mas saiu das ruas para prestar apoio jurídico no Clarice. É ela quem encaminha para a guarda os nomes das mulheres com medidas protetivas que precisam de atendimento. Oriunda do serviço de guarda patrimonial, não pensou duas vezes quando foram abertas vagas na Brigada Maria da Penha, há um ano. Queria levar para campo suas ideias feministas. Agregar mais valor ao trabalho. Gisele tem apenas 24 anos, é formada em direito e tem dois anos de corporação.

O Clarice Lispector também recebe mulheres trans e lésbicas do Recife. Oferece atendimento psicológico, jurídico e social. “Sabemos que não é só a ação repressiva que vai estancar a violência contra a mulher. Tem a questão histórica, social e cultural que precisa ser levada em conta”, pontua Ana Magalhães, gerente de prevenção e enfrentamento à violência do Clarice. Nesta linha de ação preventiva, Ana anunciou para este mês o lançamento do programa Viver sem violência, que prevê, inclusive, a abertura de 27 vagas, por seleção pública simplificada, para arte-educadores, advogados, psicólogos e assistentes sociais. A ideia é estar com a equipe montada em julho.
 
Atenção aos sinais de violência:

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Controlar/proibir
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Confinar/aprisionar
Ameaçar de morte

Fonte: Secretaria da Mulher do Recife 
 
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