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Três séculos depois, recifenses se encantam com o boi voador

Publicado em: 17/03/2019 21:44 | Atualizado em: 17/03/2019 22:14

Praça do Marco Zero lotada para ver o boi voar - Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR
Um boi atravessou o céu do Recife na noite de hoje. Sim, provavelmente já ouviu essa história, mas, neste domingo, quem passava pela praça do Marco Zero teve a oportunidade de ver a cena se repetindo mais de 300 anos depois. Desta vez, através de atores e atrizes, que recriaram a Cidade Maurícia, o Recife do século 17, que começava a se desenvolver enquanto centro urbano. 

O conde alemão-holandês Maurício de Nassau, que governava o Nordeste brasileiro no período da colônia holandesa, chamou toda a gente da cidade para ver um boi voar. O feito aconteceu na recém-construída Ponte do Recife, a primeira da América Latina. A construção teve um orçamento tão caro, que foi preciso Nassau tirar dinheiro do próprio bolso para finalizar a obra. Como forma de recuperar parte do investimento, ele teve a ideia de cobrar pedágios da população para quem quisesse ver o tal boi voador. 

E o conde cumpriu com o prometido: diante de centenas de olhares ansiosos e cheios de ceticismo, o boi voou. Mesmo que apenas um boi empalhado, suspenso por cordas e roldanas, como crêem a maioria dos historiadores. O feito encantou a todos que, literalmente, pagaram para ver o animal passar voando de um lado para o outro da ponte, que hoje se chama Maurício de Nassau. 

Em 2019, ano em que o Recife completa 482 anos, os atuais moradores da cidade tiveram a chance de também ver o boi voar. Assistiram à materialização da história que permeia o imaginário pernambucano há três séculos. Muitas famílias com seus filhos pequenos, casais apaixonados e grupos de amigos aguardavam curiosos para ver o bovino alçar voo pelo céu. 

O jornalista Júlio Andrade contou que veio para o espetáculo com a esposa e as duas filhas pequenas. No caminho, vinha explicando para as crianças um pouco da história que elas assistiriam mais tarde, mas confessou que nem ele mesmo se lembrava com detalhes do porquê que o boi voou pela Ponte do Recife. “Fiquei encantado. Esperava algo menor. Sabia que ia ser uma coisa grandiosa, mas não tanto quanto o que eu vi aqui”, relata ele. 

Foram 50 artistas do teatro pernambucano que interpretaram o texto escrito por José Pimentel e Ruy Aguiar, se dividindo entre dois palcos e as sacadas dos antigos edifícios localizados no Marco Zero. A cada ato, o elenco se deslocava de um lugar para o outro, permitindo a quem estava na plateia, assistir a um espetáculo mais interativo. No meio de tudo isso, uma ponte cenográfica também foi montada. 

O arquiteto Gabriel Lins, ressaltou a importância do espetáculo ocupar um espaço aberto, utilizando a própria arquitetura do Recife para “remontar a história cidade”. “Usa as casas como cenário e tem uma dinâmica com o público”, destaca. “Acho importante tentar fazer o máximo de programas ao livre porque, hoje em dia, a gente segue muito esse padrão de ocupar espaços onde o consumo é excessivo, como os shoppings centeres”, completa.

Michelly Cristovam, que é filha de dois atores, veio com os pais e a amiga assistir ao espetáculo. Assim como Gabriel, ela também falou sobre a importância de se preservar a história da capital pernambucana através de suas casas e edifícios antigos. “Nós estamos perdendo arquitetura da cidade, que conta a cidade”, explica. “Esses espetáculos servem para mostrar a cultura do Recife, fazendo a população lembrar e ter orgulho da nossa história”, 

E foi da janela do edifício prédio histórico que fica bem no meio do Marco Zero e hoje abriga a sede a Associação Comercial de Pernambuco, que o boi alçou voo e encantou, novamente, centenas de olhares curiosos. Todos queriam saber como o animal ia atravessar o céu do Bairro do Recife. Enquanto o elenco cantava, chamando o “boi manso”, ele saiu todo iluminado e colorido, deixando em êxtase, os recifenses do século 21.
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