Aniversário

Recife e Olinda: cidades que encantam os estrangeiros

Publicado em: 12/03/2019 07:47 | Atualizado em: 12/03/2019 13:47

Francesco Carretta mora há duas décadas no sítio histórico de Olinda, onde mantém um restaurante. Foto: Tarciso Augusto/Esp. DP.
Italiano radicado em Pernambuco, o cozinheiro Francesco Carretta, 58, escolheu Olinda para chamar de lar há 20 anos. Encontrou uma casa colorida na Rua Prudente de Moraes e comprou ainda sem a pretensão de morar nela. Casou-se com uma mineira e, na Itália, tiveram uma filha. A menina tinha alergia ao aquecedor durante o inverno e, por orientação médica, se mudaram para os trópicos. A casa de Olinda veio na receita médica e se tornou residência dos Carretta. Como ele, muitos estrangeiros escolheram as cidades-irmãs, Olinda e Recife, para viver. Neste aniversário de 484 anos da Marim dos Caetés e de 482 anos da capital pernambucana, o Diario conta as histórias de imigrantes que se apaixonaram e fixaram residência nas cidades.

Vem da casa de Francesco as massas mais desejadas pelos moradores do Sítio Histórico de Olinda. Há 18 anos, ele transformou parte do imóvel na Don Francesco Trattoria, um restaurante italiano premiado. “Na Itália, existe o costume de vender as comidas e os molhos para as pessoas levarem. Aqui, percebi que havia a necessidade de um lugar para as pessoas sentarem, comerem”, conta. No quintal da casa, uma horta fornece insumos para os pratos. Manjericão, rúcula, tomate são plantados e cuidados pelo próprio Francesco. As massas e pães também são artesanais.

Nas paredes do restaurante, fotos do carnaval de Veneza lembram que a festa não acontece só por aqui. “São carnavais muito diferentes. Na Itália, a festa acontece em pleno inverno. Pode até nevar, quando as datas caem em fevereiro. Já brinquei o carnaval de Olinda. Costumava sair de papa, mas parei. Acho que estou muito velho para isso”, diz, sorrindo. Na juventude, Francesco saía de Padova, sua cidade natal, para acompanhar o carnaval de Veneza, a 20 km de onde morava.

Nem só de belezas e festa vive Olinda e foi justamente nisso que o inglês Andy Roberts, 33, viu a necessidade de se mudar da histórica York para a vizinha do Recife. “Quando cheguei, vi em Olinda o belo de uma cidade com um patrimônio histórico e arquitetônico que, de alguma maneira, remete à minha cidade natal, mas também vi que há muitos problemas sociais”, afirma.

Morador de Casa Caiada, Andy completou 11 anos como “olindense de coração” na véspera do aniversário da cidade. Além de escolher Olinda como residência, escolheu como sede da ONG ReaViva Brasil, que acolhe meninas vítimas de abuso. Cuida da organização com a esposa, uma olindense. “Estamos reformando uma segunda casa. Na primeira, já recebemos meninas de 5 a 15 anos. Agora, passaremos a abrigar bebês também”, revela. Quando recebe ingleses visitantes, costuma apresentá- -los ao que considera os três principais símbolos olindenses: as sombrinhas de frevo, a tapioca do Alto da Sé e o mar multicolorido da orla de Casa Caiada. “Eles ficam surpresos com o tamanho da sombrinha. Guarda- -chuva é um item muito popular na Inglaterra, já que chove muito, então eles não entendem quem se protege com a sombrinha de frevo”, comenta. “A tapioca é um nome também conhecido pelos ingleses, pois temos uma espécie de arroz-doce detestável com esse nome. Aqui, mostro que tapioca pode ser algo delicioso. Além disso, o mar é surpreendente, pois não é só azul ou verde. Ele tem várias cores, diferente do mar inglês, que costuma ser cinzento”, compara.

A francesa de origem argelina Amina Mazouza, 40, escolheu e foi escolhida, como frisa, o Recife para viver. Foto: Tarciso Augusto/Esp. DP.
Já a francesa de origem argelina Amina Mazouza, 40, escolheu – e foi escolhida, como frisa – o Recife para viver. Há um ano e meio morando em Boa Viagem, ela recebeu a notícia de que se mudaria para a capital pernambucana enquanto vivia em Portugal. Especializada em ensino de francês como língua estrangeira e trabalhando para o governo da França, recebeu a missão de dirigir a Aliança Francesa do Recife, organização que existe há 70 anos na cidade. “O que mais chama a minha atenção é o patrimônio arquitetônico da cidade. É a partir dele que o Recife conta a sua história. A presença da natureza, seja pelos manguezais, pelo mar ou pelos rios, também dão um charme à cidade”, observa.

De origem argelina, a francesa Amina Mazouza reside na capital pernambucana há cerca de um ano e meio Da culinária, a francesa destaca a tapioca, o queijo coalho assado, a água de coco e as frutas tropicais. “Gosto de comer o que é diferente do que tenho lá (na Europa)”, afirma. Nas primeiras horas da manhã, Amina costuma caminhar pela orla de Boa Viagem.Gosta da praia sem o agito dos fins de semana e feriados. “Escolhi morar no bairro pela proximidade com o mar. É algo que me encanta”, diz.

Como Amina, a venezuelana Marioly Guerrero García, 26 anos, também se mudou para o Recife não propriamente por escolha, mas por necessidade. Natural de Pegonero, no estado de Táchira, veio para a capital pernambucana em meio à crise político-econômica que o país vizinho atravessa. “ A escolha do Recife se deu no sentido de que minha família optou por uma cidade que não estivesse perto da fronteira. A ideia era ter mais possibilidade de encontrar empregos. Queríamos também que a nossa presença como imigrante não incomodasse. Além disso, fomos acolhidos por um casal que já estava aqui”, lembra.

Marioly é formada em turismo e vive no Recife há 2 anos e meio. “O que mais gostamos, sem dúvidas, é da hospitalidade dos pernambucanos. Vivemos em um ambiente sem xenofobia e amamos as tradições nordestinas, como o carnaval e a festa de São João. Na Venezuela, morávamos nos Andes, onde o regionalismo e as tradições são muito fortes como aqui. Acabo me sentindo em casa”, ressalta.
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