Polícia

Número de vítimas do golpe do bitcoin pode chegar a 200

Publicado em: 15/02/2019 13:43 | Atualizado em: 15/02/2019 14:06

O bitcoin foi a primeira criptomoeda criada. Foto: Karen Bleier/AFP.
O número de vítimas de um empresário recifense que se apresentava como consultor de investimentos pode chegar a 200. Uma médica ouvida pelo Diario nesta sexta-feira (15) disse que a quantidade de pessoas lesadas pelo possível golpe é muito maior do que a divulgada pela Polícia Civil de Pernambuco. Apenas em grupos de redes sociais que reúnem pessoas que se dizem vítimas do empresário há mais de 180 membros. A maioria é da área de medicina, pois foi convencida pelo pai do suspeito, um médico conhecido da cidade, a investir em criptomoedas.

Há pessoas de vários estados do Nordeste, principalmente de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia e Ceará. Muitas estão com medo de prestar queixa. "Hoje, fomos informados de que o dinheiro não era investido apenas em bitcoins, que era o que acreditávamos até então. Os valores podem ser sido usados em sites de aposta esportiva. Havia muito dinheiro em aposta de jogos. Muitas vítimas estão temendo expor a situação por causa da Receita Federal", afirma uma vítima, um administrador de 40 anos, que não quis ter o nome revelado. "Minha raiva é saber que fomos enganados, manipulados. O dinheiro de economias de anos de trabalho sério foi embora", disse outra vítima, uma médica. 

O advogado do empresário que está sendo denunciado à Delegacia de Repressão ao Estelionato por ter perdido o dinheiro de clientes que investiam em criptomoedas informou, também nesta sexta-feira, que o cliente não tem a intenção de fugir e deve se apresentar à polícia. "Esclareço que, na tarde de ontem, entrei em contato com Doutor Rômulo (Aires), responsável pelo caso. Naquela oportunidade, firmei o compromisso de apresentar o Senhor Thiago, para que assim, o mesmo possa prestar os devidos esclarecimentos. Informei também, que ao contrário do que está sendo divulgado pelas redes sociais, Thiago não posssui a mínima intenção de fugir", afirmou o advogado Carlos Sá, em nota à imprensa. 

Até as 17h dessa quinta-feira (14), 12 pessoas haviam procurado a Polícia Civil para informar que foram lesadas por um golpe. O grupo denunciou o empresário recifense, que não teve o nome divulgado pela polícia, que teria usado os valores depositados pelos clientes e, por ser viciado em jogo, perdido o dinheiro deles.

O Diario conversou com dez pessoas que afirmam ser vítimas do empresário, sendo oito pernambucanos e dois paraibanos. Desses, sete eram médicos, dois administradores e um autônomo. Os valores investidos por eles variam entre R$ 50 mil e R$ 600 mil. “Durante a semana, ele deixou de atender o telefone e responder às mensagens. Só me dei conta de que era um golpe quando recebemos um comunicado”, disse o médico Luan (nome fictício), de 37 anos, que depositou R$ 120 mil na conta do empresário.

Além de ser filho de um médico conhecido pela maioria das vítimas, o empresário apresentava números e informações sobre o mercado que atuava. Um contrato era assinado entre ele e os clientes. No começo da semana, ele teria divulgado um comunicado aos investidores. “Bastante consternado, informo-lhes que, ante as variáveis do mercado financeiro, em especial ao risco das operações que as cercam, houve atrasos nos repasses dos saques, entre outros inconvenientes”, dizia a nota enviada.

Como conheciam o pai do consultor financeiro, muitos médicos o procuraram e tiveram outras respostas. “Fomos informados de que ele, que cuidava de parte do nosso dinheiro, era viciado em jogos e teria perdido toda a quantia investida pelos clientes. Ficamos sabendo que não está foragido, mas que estaria internado em uma clínica psiquiátrica. Queremos respostas concretas e nosso dinheiro de volta, por isso procuramos a polícia”, disse o autônomo João (nome fictício), 36.

A Polícia Civil informou que instaurou inquérito policial para “apurar a responsabilidade criminal de um jovem empresário, que seria corretor de ações e que fazia proposta de investimentos e gerenciamento de valores na moeda bitcoins. Ocorre que algumas pessoas que realizaram o investimento estão sentindo-se lesadas, por não conseguir mais contato com o agente financeiro”. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Repressão ao Estelionato, que não divulgou o nome do suspeito. O delegado Romulo Aires está a frente das investigações. Segundo ele, “ainda é cedo para falar em golpe”. O número de denúncias deve aumentar nos próximos dias, de acordo com as vítimas, pois, segundo elas, mais de 20 pessoas foram lesadas e devem procurar a Polícia até a próxima semana.

Alternativa ao sistema financeiro

O bitcoin foi a primeira criptomoeda criada. Surgiu em 2009 e, desde então, outras tecnologias semelhantes foram desenvolvidas. De acordo com o co-fundador da Bitjá, uma startup de compra e venda de criptomoedas, Victor Cavalcanti, o código do bitcoin é aberto. “Com isso, outras foram sendo criadas e mudadas em alguns aspectos. Hoje, existem várias criptomoedas”, afirmou. “Imagine que no seu computador você tem um arquivo de Word. Ele é virtual, não existe no mundo físico, mas você pode copiar e passar para quantas pessoas quiser. A criptomoeda é como esse arquivo no sentido de existir no mundo virtual. No entanto, diferentemente do arquivo Word, é impossível de ser copiado.”

Assim, quando o bitcoin é enviado, quem o remeteu perde o controle sobre ele. “Outra característica é que o mercado determina o seu valor. É uma forma fora do sistema tradicional financeiro de transacionar valor. Uma das diferenças (em relação ao sistema tradicional) é que a taxa para mandar qualquer valor é igual. Não importa se R$ 10 ou um milhão. Se para o Recife ou para o Japão”, esclareceu. “Onde estou colocando o meu dinheiro é a primeira questão que uma pessoa deve responder quando quer investir. Se você não possui a senha, o bitcoin não é seu”, completou Cavalcanti.

O consultor do BitRecife Marcos Vinícius Moraes enfatiza que a primeira dica para quem quer investir com segurança nesse mercado é procurar empresas estabelecidas. “É preciso procurar empresas com credibilidade e não se aventurar com pessoas sem escritório, site e CNPJ ativos, por exemplo. Nas empresas sérias, a conta é no nome do cliente. É necessário ainda ter cuidado com promessas irreais de riqueza. Não invista seu dinheiro em empresas que prometem ganhos extraordinários e lembre-se que só você é o responsável pelo seu investimento, pelos seus criptoativos”, pontuou.
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