Ubuntu

Encontro de afoxés no Bairro do Recife pede proteção para o carnaval

Publicado em: 28/02/2019 18:38 | Atualizado em: 28/02/2019 19:07

Lavagem do ponto 0 km da cidade aconteceu nesta quinta.Foto: Tarciso Augusto/Esp.DP.
A professora Maria da Conceição Ferreira, 56, alisava os cabelos crespos quando assistiu pela primeira vez a um encontro de maracatu no Marco Zero. A apresentação ainda acontecia nas sextas-feiras, durante a abertura do carnaval do Recife, com a regência de Naná Vasconcelos. Aquela noite foi como um ritual de passagem, diz ela. Com mais de 50 anos, a professora se identificou como negra pela primeira vez. Já com o cabelo cheio de tranças, símbolo de identidade e resistência negra, ela acompanhou, na tarde dessa quinta-feira (28), a segunda edição do Ubuntu - Uma consagração ao povo negro, que reuniu 24 grupos do afoxé para uma lavagem simbólica do quilômetro inicial da cidade e palco principal do carnaval do Recife.

Ela levou a filha, a assistente social Gabriela Ferreira, 27, e o neto, Antônio, 2. "Desde aquele primeiro encontro que eu assisti, nunca deixei de estar aqui", conta. A dona de casa Rosimere Santos, 50, também é presença certa nas festividades ligadas a religiões de matrizes africanas que antecedem o carnaval. "Não importa se na sexta-feira (como era até 2017) ou na quinta (como acontece desde o ano passado), faço questão de estar aqui", afirma.

No palco do Marco Zero, afoxés pediram proteção para o carnaval. Foto: Tarciso Augusto/Esp.DP.
Os grupos de afoxé, manifestação oriunda do candomblé, chegaram ao Centro da cidade por volta das 10h desta quinta. Eles se reuniram no Pátio de São Pedro, no bairro de Santo Antônio, onde prepararam o amaci (banho com ervas), isto é, água misturada com a ewé (folhas sagradas). De acordo com as tradições dos cultos de influência nagô, o líquido constitui um elemento fundamental na "gênese da vida". O preparo feito por babalorixás e ialorixás evoca fertilidade, manutenção, renovação e, principalmente, a purificação.

Cortejo começou por volta das 16h. Foto: Tarciso Augusto/Esp.DP.
O cortejo do Ubuntu começou por volta das 16h, com 24 grupos que saíram da Rua Mariz e Barros rumo ao Marco Zero, abrindo caminho para foliões e evocando bênçãos. Uma lavagem do ponto 0 km da cidade sob os batuques dos afoxés foi realizada. No segundo ano, o evento foi acompanhado por um público que não chegou a lotar o Marco Zero, mas empolgado com os batuques e mensagens de resistência.

Afoxés encerraram o ciclo pré-carnavalesco da cidade. Foto: Tarciso Augusto/Esp.DP.
O projeto foi idealizado e proposto pela iabassê Dona Carmem Virgínia, do afoxé Ogbon Oba e do restaurante Altar Cozinha Ancestral, além de outros integrantes da União dos Afoxés de Pernambuco (UAPE). Ela foi uma das apresentadoras do evento. Em 2019, os homenageados foram o babalorixá Genivaldo Barbosa e Sandra Guerra, atuantes no Afoxé Alafin Oyó desde os primeiros anos. "Estamos aqui denunciando o racismo, a desigualdade e trazendo a paz dos orixás", disse Carmen Virgínia. 
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL