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Alfredo Bertini e o desafio de resgatar o papel social da Fundaj

Produtor cultural tinha o sonho de ser economista da fundação. Não conseguiu. Agora é o presidente

Publicado em: 09/02/2019 11:25 | Atualizado em: 09/02/2019 11:49

(Foto: Leo Malafaia/Esp.DP)
O economista, professor, pesquisador e produtor Alfredo Bertini sempre teve no imaginário uma forte ligação com a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Na década de 1970, quando era estudante de economia, sonhava ser economista da fundação criada por Gilberto Freyre. No ano passado, em uma viagem à Italia, foi abordado em uma um visita acadêmica sobre os trabalhos de pesquisa no estado e o primeiro nome que veio à mente foi a Fundaj, também reconhecida pelos pesquisadores italianos que logo fizeram o link com Gilberto Freyre. Bertini nasceu no Derby, região central do Recife, onde há duas unidades da instituição. Ele não imaginava que um dia iria presidir a instituição dos sonhos.

A posse no dia 28 de janeiro contou com o ministro da Educação, professor Ricardo Vélez Rodríguez, em sua primeira viagem ao Nordeste como titular da pasta. Bertini foi escolhido pelo próprio ministro para uma das mais importantes missões de sua vida. Há mais de 25 anos ele atua na área de audiovisual e já chegou a receber da Assembleia Legislativa de Pernambuco a Medalha de Mérito Cultura Gilberto Freyre. Também foi criador e gestor do projeto Festival de Cinema do Recife, conhecido como Cine-PE. Em entrevista ao Diario, onde foi recebido pelo vice-presidente do jornal, Maurício Rands, ele destacou a palavra-chave do seu discurso de posse: resgatar. A ideia é fazer o resgate do papel histórico, social e econômico da fundação. Outro desafio, segundo ele, é tornar a instituição mais conhecida e próxima da população no auge dos seus 70 anos. 

O Desafio do resgate
É um desafio animador. A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) representa uma marca muito forte. Quando estive na Itália, em setembro do ano passado, recebi o convite para uma visita acadêmica e conversando com um dos pesquisadores, eu mencionei a Fundaj e ele imediatamente disse que conhecia e falou de Gilberto Freyre. Infelizmente a instituição não é muito conhecida pelos próprios pernambucanos. Quando recebi a indicação de presidir a instituição teve gente que associou a fundação ao cinema. Não sabe o que é produzido em termos de pesquisa científica. A Fundaj já foi a terceira instituição do país na divulgação de índice de inflação. Era o Índice de Custo de Vida (ICV) da Fundaj, que era muito usado e publicado mensalmente. E tinha também a taxa de desemprego. Mas hoje muito gente associa a instituição apenas a questões culturais e ela é muito mais que isso. 

O aniversário da Fundaj
Caiu no nosso colo o aniversário de 70 anos da instituição e de 170 anos de Joaquim Nabuco. Nós já estamos planejando uma série de atividades para a semana do aniversário, que vai do dia 21 de julho a 19 de agosto. E a ideia é fazer essa aproximação da fundação com a população.  No período de férias foi criado o programa: Um domingo na Fundaj, mas queremos disponibilizar também uma sexta-feira para visitas de grupos formadores de opinião, que vão poder saber mais sobre a produção da Fundaj. Nós temos um rico acervo de vinil, que é considerado o segundo maior do país. Temos também acervo fotográfico e uma rica biblioteca. Nas comemorações, uma ideia é produzir uma cantata luso-brasileira para fecharmos as atividades do aniversário com chave de ouro. Também pretendemos realizar um grande seminário sobre a fundação.  

O futuro da fundação
Havia uma certa preocupação dos pesquisadores em relação ao futuro da instituição com um governo liberal. Muitos questionamentos se a Fundaj sobreviveria. Sobreviveu. E algumas pessoas haviam me dito que não haveria nem dez pesquisadores na minha posse e, para minha surpresa, dos 43 pesquisadores da casa, 36 estavam presentes e outros estavam de licença ou férias. Mas após uma conversa, onde expus as diretrizes, houve uma calmaria. Embora houvesse uma desconfiança em relação ao ministro da Educação,  Ricardo Vélez Rodríguez, por ser colombiano, a verdade é que ele está dando um banho em relação ao conhecimento luso-brasileiro e é um grande conhecedor da obra de Gilberto Freyre e de Joaquim Nabuco. O cara tem isso na veia e me surpreendeu já no primeiro momento. E na conversa que tive com os pesquisadores, eu disse que devemos aproveitar e agradecer que temos um ministro comprometido quanto ao futuro e investimentos da Fundaj. Eu achei que a reação dos pesquisadores foi muito boa e fiz uma conversa individual sobre o que cada um está produzindo em termos de pesquisa. Deixei claro que a pesquisa é a célula mater da Fundaj, que eu sou do diálogo e devemos deixar as questões políticas de lado e trabalhar abraçados em prol da instituição. Além da Diretoria de Pesquisa, que tem à frente Carlos Osório, temos também as diretorias de Inovação e Formação, com Tiago Levi; Memória, Educação, Cultura e Arte com Fernando Halisnk, e Planejamento com Ivete Lacerda. 

O apoio institucional
Quando recebi o convite, o ministro disse que precisará de um apoio para que eu seja um braço da relação dele com o Nordeste, por meio da Fundaj. Na vinda dele, articulei com os reitores das universidades Federal e Rural, uma agenda com o governador, além de reitores de instituições privadas e diretores de escolas. E, de certa maneira, foi muito positivo e houve uma boa receptividade. Essa foi a primeira viagem dele ao Nordeste como ministro da pasta e ele ficou muito à vontade, se integrou, dançou frevo e colocou no twitter que esteve em Pernambuco e levou um novo banho de cultura. Ele só lamentou não ter tido a oportunidade de ir até a Faculdade de Direito. Alias, ele até corrigiu um assessor, que disse que Tobias Barreto era pernambucano. De pronto afirmou que Tobias era  sergipano. 

O trinômio do desenvolvimento
A Fundaj tem que voltar a ser o que era. No início, ela era voltada ao trabalho da pesquisa social com o trabalhador rural. Historicamente essa foi a missão do instituto que ampliou sua linha de atuação. A prioridade é o desenvolvimento regional. Eu vou me reunir com a Sudene, retomando o que Gilberto Freyre fez lá atrás quando teve início o instituto em 1949. Eu até brinco que na minha sala há uma foto de Gilberto Freyre assinando o texto da criação da fundação há 70 anos com o presidente Eurico Gaspar Dutra. É um peso na minha cabeça e aumenta a responsabilidade. E anos depois teve início o estudo para o desenvolvimento do Nordeste e por mais que se possa considerar um diálogo, ideologicamente excludente, entre Gilberto e Celso Furtado, a conversa se deu em favor da região Nordeste. Eu acho que é preciso restaurar esse diálogo. Nesse aspecto é importante uma ação articulada. A Fundaj pesquisa, propõe e avalia. Já a Sudene executa a política e o BNB (Banco do Nordeste do Brasil) financia. Dessa forma se fecha o triângulo do desenvolvimento do Nordeste. Precisamos trabalhar em sintonia e colocar nossos ministros na articulação política em cima. A Sudene está no Ministério do Desenvolvimento Regional, nós no Ministério da Educação e o BNB no Ministério do Planejamento. A conversa inicial com a Sudene foi excelente e já alavancamos algumas ações para atuar em parceria com a Universidade Federal. Vamos iniciar um projeto de avaliação da política de incentivos para apresentar e submeter aos ministros. O dinheiro para o projeto já existe e está orçado em R$ 500 mil. Nossa prioridade é atuar em duas frentes: água e educação. O desenvolvimento regional será centrado nessas duas áreas. É preciso atender essas necessidades da população para estimular o desenvolvimento. O MEC já tem como base a prioridade do ensino básico e envolve a questão da merenda e do transporte. São cobranças grandes da população e precisamos usar o nosso conhecimento para otimizar melhor os recursos e as soluções por meio das nossas pesquisas.
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