meio ambiente

Matas urbanas do Recife seguem sob ameaça

Conservação dos 'pulmões' da capital enfrenta desafios. Levantamento em curso busca soluções

Publicado em: 04/12/2018 09:15

Santuário da mata atlântica, Jardim Botânico é uma das áreas de conservação. Foto: Samuel da Silva Souza/Divulgação
Mais de um terço dos 218 mil km2 de área territorial do Recife é formado por unidades de conservação, boa parte delas com maciços intactos de mata atlântica e manguezais. Apesar de protegidas por lei, essas áreas sofrem constantes pressões, seja pela exploração de seu ecossistema ou por demandas ocupacionais pela população de alta e baixa rendas.  Ao todo, o Recife possui 25 unidades de conservação, sendo 20 fragmentos florestais. Os principais são a Mata de Dois Irmãos, a do Jiquiá e a do Engenho Uchôa, que tangencia 11 bairros. Um levantamento em curso vai apontar as principais necessidades dessas áreas, através da elaboração de planos de manejo. 

“Esses fragmentos são consideradas áreas de tensões urbanas e sofrem muito com as ocupações clandestinas, mas também com a especulação imobiliária. Com o crescimento populacional, aumentam as demandas territoriais e as regiões mais vulneráveis são justamente as matas urbanas, que sofrem tanto o risco de ocupações clandestinas como do extrativismo”, explica o pesquisador do Laboratório da Paisagem, vinculado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPE, Célio Rocha. 

Com a pesquisa Os valores naturais das unidades de conservação do Recife: Mata de Dois Irmãos e Mata do Engenho Uchôa, Célio foi vencedor do 29º Prêmio Jovem Cientista promovido pelo CNPQ. Ele também foi um dos agraciados pelo Prêmio Orgulho de Pernambuco, na categoria Ciência, concedido pelo Diario de Pernambuco. 

O pesquisador participou, na semana passada, do encontro Provocações Urbanas com o tema Matas do Recife - Como conciliar interesses?, organizado pelo Inciti/UFPE com o objetivo de promover o diálogo sobre os interesses que envolvem as unidades de conservação dentro do contexto urbano e as possibilidades de convergência entre eles de forma sustentável, contemplando as complexidades de cada fragmento florestal. 

Em seu trabalho, o pesquisador chegou à conclusão de que essa relação entre o homem e o meio ambiente natural, apesar das tensões envolvidas, é uma oportunidade de melhoria das convivências socioespaciais dentro do contexto urbano. “A partir do momento que se tem uma comunidade estabelecida em torno das matas, o poder público precisa ser um agente de mediação para que a população possa se tornar protetora e defensora daquele fragmento florestal”, coloca Célio. 

Segundo ele, em outros lugares, inclusive dentro do Brasil, há exemplos de convivência entre um patrimônio natural e a exploração sustentável da mata, estratégia defendida pela Unesco. Ele cita o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, como exemplo bem sucedido dessa convergência de interesses. “No Recife, a Mata de Dois Irmãos é a mais representativa, tanto do ponto de vista de laboratório de ciências biológicas a nível de Nordeste pela sua fauna e flora, como por desempenhar funções culturais importantes para a população, ajudando a preservar lendas urbanas e a promover atividades ecológicas, por exemplo”, diz Célio.

De acordo com a gerente de Unidades Protegidas da Secretaria municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente, Maíra Braga, a prefeitura já tem trabalhado junto às comunidades próximas às matas urbanas para convergir os diversos interesses que as envolvem. 

“Estamos elaborando os planos de manejo das unidades de conservação, visando a sustentabilidade desses ambientes naturais com envolvimento da população. Estamos fazendo o diagnóstico de 23 das 25 unidades. Há situações de degradação ambiental e desmatamento, porque o fato dessas áreas estarem dentro do ambiente urbano, sofrem pressões de uso e ocupação. Mas ao mesmo tempo elas cumprem um papel importante para cidade, promovendo o equilíbrio do clima, a produção e conservação de água, provendo alimentos e servindo de amortização das marés, além de ser espaços para educação ambiental”, afirma a gestora. 
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