Júri

Depoimento dos acusados de matar e praticar canibalismo em Garanhuns prossegue no Fórum do Recife

Principal acusado, Jorge Beltrão negou autoria do crime e disse que confessou participação na polícia porque foi torturado e estava em surto de esquisofrenia

Publicado em: 14/12/2018 14:16 | Atualizado em: 14/12/2018 15:34

Imagem: Leo Malafaia/Esp DP

O depoimento dos três acusados de matar e praticar canibalismo em Garanhuns prossegue na tarde desta sexta-feira (14), no Fórum do Recife. A expectativa é de que o júri seja concluido até a madrugada deste sábado. Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, 57, foi o primeiro a depôr. Ele falou na ausência das outras rés. Durante toda a manhã, o acusado respondeu a perguntas feitas pelo juiz Enersto Bezerra Cavalcanti, pelo promotor André Rabelo, além das defesas dele e das outras duas acusadas, Isabel Cristina Pires da Silva e Bruna Cristina Oliveira da Silva. Os réus são acusados pelas mortes de Alexandra da Silva Falcão, 20 anos, e Gisele Helena da Silva, 31 anos, no município de Garanhuns, no Agreste pernambucano

Em depoimento, Jorge Beltrão afirmou que parte do livro escrito por ele próprio, foi ditado por Bruna, sobretudo quando detalha a criação do cartel, que seria uma espécie de seita para sugar a energia das pessoas e pretendia matar mulheres com filhos com objetivo de diminuir a densidade demográfica. “Bruna se dizia bruxa e falava que deveria matar quatro galinhas, que representavam os quatro elementos da natureza. Só não poderia matar uma pessoa, porque se não teria que matar mais quatro para purificar seus espíritos”, explicou Jorge. 

Com uma fala confusa e, vez por outra alterada, Jorge afirmou que no momento das mortes de Alexandra e Gisele, ele não estava em casa. Disse lembrar apenas de um 'flash de luz branca' e que chovia bastante no dia, mas não percebeu as manchas de sangue na casa. Jorge ainda negou ter conhecimento da prática de canibalismo, afirmando ser vegetariano. Para ele, Bruna articulou tudo e controlava os seus medicamos dos quais dependia para não entrar em surto. 

O réu disse, repetidamente, que tem esquizofrenia e que Bruna induzia a todos, tendo cometido todos os crimes. Jorge insistiu que as confissões que fez na delegacia foi sob tortura e que tudo falado naquele momento foi em meio a um surto de esquizofrenia. Ele afirmou que conheceu Bruna em 2012, quando ela ainda tinha 17 anos e ele 45, na época. Naquele momento, ele contou que Bruna o assediou induzindo ele a tratar Isabel como irmã. “Eu passei três dias na casa da minha mãe e Isabel estava na casa da irmã”, justificou ao falar da morte de Gisele, ocorrida dentro da casa dele. Para Jorge, Bruna teria aptidão física suficiente para consegui matar e esquartejar as duas mulheres, informando que dos 17 aos 25 anos Bruna havia treinado defesa pessoal com orientações dele. 

De acordo com o acusado, a motivação de Bruna foi o desejo de ter um filho com ele, mas como ela tinha problemas de saúde que não permitia, se aproximava de mulheres que já tinham filhos para ganhar a guarda. Jorge foi casado com Isabel de 1984 a 2012, quando se divorciaram, mas continuaram morando na mesma casa, inclusive enquanto ele mantinha o namoro com Bruna. Ele disse nutrir por Isabel um amor fraterno. “Ela é uma mulher frágil, uma pessoa amável que nunca teve participação”, alegou. 

A defesa de Jorge irá pedir que o réu seja internado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), em Itamaracá. “Jorge é um homem doente. Não é apto a viver mais em sociedade. O nosso pedido ao corpo de jurados será a medida de segurança para que ele fique internado no HCTP, fazendo tratamento psiquiátrico. Na verdade, ele está escolhendo praticamente a prisão perpétua. Sendo condenado na medida de segurança, ficará na prisão perpétua porque irá fazer esse tratamento no HCTP e lá, com certeza, nenhum psiquiatra vai conceder a ele um laudo pericial dizendo que ele está apto a viver em sociedade porque a esquizofrenia paranoide não tem cura”, comentou o advogado de Jorge, Giovanni Martinovick. 

A defesa de Isabel pede pela absolvição da ré. De acordo com os advogados, laudos que serão apresentados durante o julgamento comprovam que Isabel é incapaz de responder por seus atos. Durante o momento que esteve presente na sessão, Isabel se balançava para frente e para trás, sentada, fazendo sinal negativo com a cabeça repetidamente. “Ela não tem participação nos dois homicídios ocorridos em Garanhuns. Temos documentos que comprovam que ela não estava presente no homicídio das duas vítimas”, disse o advogado de defesa da ré, Renato Vilela. 

Com relação à participação de Bruna Cristina, a defesa argumenta que ela não teve condições psicológicas e físicas de tentar impedir as ações de Jorge, coagindo Bruna. “Ela nutria um amor platônico e incondicional por Jorge, queria defendê-lo. Após o julgamento de Olinda, ela ouviu o depoimento de Jorge a acusando de vários crimes e a partir de então, passou a relatar as coisas bárbaras que ele fazia com ela. A nossa tese irá afastar a culpabilidade dela e atinge exclusivamente o co-autor, que é Jorge. Ele é o mentor, mandante e executor dos cries”, afirmou o defensor de Bruna, Rômulo Lyra, pela promotoria, defesas dele, de Isabel e de Bruna.


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