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Trânsito da Torre ajuda palhaço-pipoqueiro com renda

Com uma frota de cerca de 700 mil veículos, o Recife convive diariamente com os engarrafamentos, que favorecem ação de ambulantes nos semáforos

Publicado em: 26/10/2018 07:41

Gilmar Oliveira, 55 anos, resolveu usar a fantasia para atrair clientes no sinal. Foto: Marina Curcio/ESP. DP
Entre as buzinas e a fumaça do escapamento dos veículos que ficam enfileirados no engarrafamento da Rua Padre Anchieta, no bairro da Torre, os motoristas veem correndo entre os retrovisores um pontinho colorido. Quando finalmente o colorido ambulante se aproxima, os motoristas dão de cara com o vendedor de pipoca Gilmar Oliveira, 55, vestido de palhaço. Com o rosto maquiado e usando uma peruca colorida, ele escolheu a fantasia como estratégia para chamar a atenção dos clientes.

O palhaço ambulante tem a seu favor o trânsito do Recife. Até agosto deste ano, 2.980.756 era o total da frota de veículos de Pernambuco. Só na capital o número era de 693.838 veículos, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE). A cidade tem, pelo segundo ano consecutivo, o pior trânsito do Brasil, de acordo com a segunda edição do Índice 99 de Tempo de Viagem (ITV99).

As viagens na capital pernambucana levam, nos horários de pico, 77% mais tempo do que no tráfego livre. Em Porto Alegre e em Salvador, cidades que aparecem na segunda e terceira posição, respectivamente, a taxa é de 74% e 71%. Enquanto a solução para desatar o nó no trânsito não chega, Gilmar aproveita para ganhar dinheiro. “As pessoas que passam sempre por aqui já estão acostumadas a me encontrar com a fantasia. Quando não venho com ela, eles cobram e eu providencio para o dia seguinte”, garantiu o palhaço.

Gilmar é um dos 13,5 milhões de brasileiros que ficaram desempregados por causa da crise econômica que assola o país. Desde os 19 anos, ele trabalhava como palhaço. Começou no bairro do Ipsep, onde se juntou aos integrantes do Circo Alakazam. “Eu ia tanto assistir às apresentações, que me chamaram para ficar”, conta. Depois, passou a trabalhar para o Le Cirque, que deu ao palhaço a oportunidade de conhecer outras cidades do Nordeste, como João Pessoa, Natal e São Luiz. “Passei dez anos em circos. Acho que já nasci palhaço. Não tem um dia ruim na minha vida. Prefiro sorrir do que chorar, sempre”, conta.

O último emprego formal foi como porteiro em uma escola de dança no bairro da Torre. Há dois anos, quando ficou desempregado, decidiu vender pipoca e água no trânsito para se sustentar. “Estou aqui, sempre nesse cruzamento. As vendas de pipoca caíram no último mês por causa do episódio do rato. Foi quando tirei a fantasia de palhaço do armário e voltei a viver o personagem”, revelou, referindo-se ao episódio registrado em setembro deste ano quando uma fábrica de pipocas foi interditada no Recife por problemas sanitários. “Não vendo essa marca. Os produtos que comercializo são confiáveis e ainda arranco um sorriso do cliente”, disse.
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