DP NOS BAIRROS

Moradores de Parnamirim cultivam mudas a partir do lixo

Moradores do bairro tiveram a ideia de aproveitar restos de cascas de frutas e verduras para produzir adubo e cultivar mudas para uso coletivo

Publicado em: 10/10/2018 08:00 | Atualizado em: 10/10/2018 09:30

As mudas produzidas pelos moradores do Tejucupapo são cultivadas em espaços como praças e parques. Foto: Camila Pifano/Esp. DP.

O Recife gera 45 mil toneladas de lixo doméstico todos os meses. No país, estima-se que metade de tudo o que é descartado nas casas é composto por resíduos orgânicos, como restos de alimentos, galhos e folhas de vegetação, e que menos de 2% desse material seja reutilizado. Contrariando essa realidade, os moradores do Edifício Tejucupapo, na Avenida Dezessete de Agosto, no Parnamirim, reutilizam toda a matéria orgânica. Em vez de ir para o lixo, restos de frutas, legumes, verduras, grãos, sementes, sachês de chás, borra de café e cascas de ovos de todos os seis apartamentos do prédio vão para uma composteira. Os resíduos são transformados em adubo, usado em uma sementeira. Quando germinam, as mudas são levadas para espaços públicos da cidade.

O produtor rural Bruno Lopes, 32 anos, morador do Tejucupapo, conta que a ação  teve início há dois anos. A reutilização do material começa dentro dos apartamentos. Cada família faz a separação do próprio lixo. Foram orientados sobre quais resíduos orgânicos podem ir para composteira e os que não podem. Carne, limão, temperos fortes, óleo e líquidos não devem ser separados para o reúso. Bruno e o porteiro Brivaldo José são os responsáveis pela sementeira. Plantam mudas e levam para espaços públicos do Recife. Eles não revelam os locais, como margens de rios, parques e praças, para evitar que as mudas sejam arrancadas. 

Bruno Lopes, 32 anos, teve a iniciativa há dois anos. Foto: Camila Pifano/Esp. DP.


“Moro no prédio há mais de dez anos. Minha ideia inicial era reduzir o lixo do prédio. Lá perto tem um ecoponto (caçambas da prefeitura de coleta seletiva que recebem metralhas, móveis, materiais recicláveis e utensílios domésticos), mas o material orgânico não era reciclado”, lembrou Bruno. No começo, nem todos os moradores aderiram à sugestão do vizinho. Quando viram a ideia dando certo, começaram a fazer a separação do lixo. Hoje, todas as famílias apoiam e participam da ação. “A ideia foi crescendo aos poucos. Alunos do Colégio Militar (do Recife) visitaram (o prédio) e fizeram um trabalho de feira de ciências sobre o que fazemos aqui”, disse. 

As mudas criadas no prédio servem ainda como compensação ambiental do bloco carnavalesco Sai dessa nóia, que desfila nas ruas de Casa Forte desde 2012. “A gente limpa as ruas depois do bloco, mas sentimos a necessidade de compensar plantando mudas. No carnaval deste ano, plantamos 11 espécies. Pedimos um plano de replantio à Prefeitura do Recife e fizemos essa retribuição pelo uso do solo voluntariamente, já que não é uma obrigação imposta aos blocos”, afirmou Bruno. 

Só este ano, os moradores já plantaram 11 espécies. Foto: Camila Pifano/Esp. DP.


REUTILIZAÇÃO
O reúso de resíduos é uma medida consolidada em diversos países e regiões do mundo como a Califórnia, nos Estados Unidos, onde cerca de 80% de todo o resíduo orgânico é valorizado. A ação conta com o apoio do poder público, que incentiva o tratamento descentralizado dos resíduos, já que essa é uma solução mais econômica e evita a necessidade de transportar milhares de toneladas de resíduos diariamente. Além de diminuir a sobrecarga nos aterros sanitários, a atitude reduz a emissão de gases de efeito estufa e estimula a consciência ambiental.
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