Igreja

"É um reconhecimento por parte do papa", comemora fundador da Obra de Maria

Gilberto Barbosa falou em entrevista sobre a aprovação internacional que a comunidade está prestes a receber

Publicado em: 29/10/2018 17:28

Foto: Camila Pifano/ Esp. DP

A Obra de Maria se prepara para celebrar 28 anos de existência no próximo sábado (4), em evento que também marcará o recebimento da aprovação pontifícia, realizado na Arena de Pernambuco, a partir das 13h. São esperados 50 mil fiéis. Fundador e coordenador da comunidade, Gilberto Barbosa abordou em entrevista, dentre outros temas, a relação que possui com o Papa Francisco, a importância do projeto receber esse reconhecimento e o papel da igreja no atual momento vivido pelo país. Confira:

 

Como é a sua relação com as novas comunidades da Igreja Católica?
Na igreja católica existem mais de 3 mil associações espalhadas pelo mundo e a Obra de Maria é apenas mais uma que promove esse trabalho de evangelização. Essas comunidades funcionam como uma cooperativa. Elas se juntam para dividir as experiências e se ajudar mutuamente e possuem uma sede no Vaticano. A Obra de Maria, há cerca de 15 anos, se associou a esse grupo no Vaticano e começamos a participar dos encontros anuais. Após isso, fui nomeado por um conselho internacional e me tornei presidente desta fraternidade internacional de comunidades em Roma.

Vimos algumas fotos de você em encontros com o Papa Francisco. Como é o vínculo de vocês?
A minha relação com o Papa Francisco é uma relação de trabalho. Eu presido uma associação que existe dentro do Vaticano, no Palácio de São Callisto, e é em nome do Papa que eu trabalho. Nós temos encontros, conferências e reuniões. É muito fácil trabalhar com o Papa Francisco por que ele é latino. A gente que é da América Latina se identifica muito na forma de trabalhar e eu, particularmente, me identifico muito com o trabalho realizado por ele. A forma como ele lidera a igreja é muito bonito. O admiro muito e, se Deus quiser, dia 17 de dezembro teremos uma reunião. Temos um ótimo relacionamento. Ele já se dirigiu algumas vezes, até por escrito, admirando e elogiando a minha forma de trabalhar.

Você fala muito de São Francisco de Assis. Quais os ensinamentos dele que você leva para a vida?

São Francisco de Assis foi a coluna mor da Igreja Católica. É incrível que esse espírito franciscano ainda hoje está presente na vida dos frades. Você olha para um religioso, como um frade franciscano, e percebe que ele continua com o espírito e a pobreza de São Francisco. Nos últimos momentos de sua vida, beirando os 100 anos, perguntaram a ele "o que nós faremos agora?" foi quando ele olhou para os seus seguidores e respondeu "nós vamos fazer tudo. vamos começar tudo novamente, por que até agora nós não fizemos nada". É essa a sensação que eu tenho. Estamos chegando aos 28 anos, mas a sensação que eu tenho é de que estamos apenas no início. A estrada é longa, o caminho é longo e a gente precisa avançar.

E a sua educação, como foi a criação dos seus pais? Você é religioso desde sempre?
Meus pais foram maravilhosos. Me educaram e mostraram que a vida é dura. Que temos que estudar bastante para poder vencer na vida. Mas faltou uma coisa: meu pai e minha mãe não me educaram na fé. Eu nunca vi o meu pai ou a minha mãe fazeram o em nome do pai nem sequer rezar uma ave maria. E quando eu conheci esse movimento carismático, pela forma de celebrar a fé, a alegria, eu me apaixonei. E aí comecei a participar da vida da igreja católica, de ir à missa e contribuir com o movimento carismático católico. Depois descobri que dentro da igreja católica eu poderia ser casado, construir uma família - como eu assim o fiz - e poderia ser, também, missionário. Pensei: se isso existe é o que eu quero para a minha vida. De repente, sem perceber, já existia um grupo de jovens que caminhava comigo e aí nasceu a Obra de Maria.

Como surgiu a sua ligação com a fé?

Quando eu tinha 17 anos eu estava para um compromisso da vida mundava. Eu ia para o capim verde. Passando ali na Caxangá, em frente à uma igreja chamada São Francisco de Paula, a igreja estava aberta e havia um grupo de jovens do movimento carismático católico. Eu não tinha conceito de nada. De fé, de igreja e de prática religiosa nenhuma. Me pegaram na frente da igreja. Na porta, praticamente. Me falaram sobre o amor de Deus e me convidaram para experimentar e eu entrei. Sentei no sexto banco. Cheguei por volta de 22:40/23h e quando eu achei que era meia-noite, eram 06h da manhã. Eu passei a noite na igreja e não havia percebido. Essa é a história do amor de Deus na minha vida.  

O que é um benfeitor?
Dom Hélder já dizia. "Um sonho que se sonha só é apenas um sonho, mas se sonharmos juntos, ele se torna realidade”. Todos os trabalhos desenvolvidos pela Obra de Maria, sejam no Brasil ou no mundo, só são possíveis graças a ajuda dos nossos benfeitores. E o que é um benfeitor? Ele é chamado de Braço Forte. É aquele que, através da sua doação, da sua contribuição mensal, realiza também a caridade e ajuda aos pobres, doando para a Obra de Maria, que redistribui esses valores no Brasil e no mundo, fortalecendo o desenvolvimento das suas ações sociais. Normalmente as pessoas se inscrevem no nosso site oficial, fazem um cadastro e passam a nos ajudam com as suas contribuições.

O que significa essa aprovação pontifícia que a Obra de Maria poderá receber?
É um reconhecimento por parte do papa, quando ele reconhece o papel internacional e aprova a instituição. Isso começa com a aprovação diocesana, dos bispos, que é como se fosse o primeiro degrau. Como o papa é o sucessor direto de Jesus Cristo, dos Apóstolos, é o degrau final. Para chegar até ele, a gente tem um histórico de 84 bispos e cardeais que escreveram para o Vaticano dizendo que éramos aptos a receber essa aprovação. É um processo que começou há quatro anos e vai passando por etapas. Quando recebermos essa aprovação, o carisma fica livre, fica subordinado diretamente ao Vaticano. Um bispo não pode mais extinguir a instituição.

Qual é o seu principal objetivo com a Obra de Maria?
O principal objetivo é alcançar o mundo para Deus. Quando eu fui alcançado, quando o evangelho chegou até mim, tive essa vontade que o mundo experimentasse a mesma alegria, o mesmo sentido de vida, essa mesma fé que eu alcancei. Eu tenho o dever que o mundo experimente essa experiência. Que ele acredite que tudo é passageiro e que acredite nessa passagem, nesse encontro com a eternidade. É um desafio grande, mas Madre Teresa de Calcutá já dizia que não podia resolver o problema social do mundo, que o que você faz é uma gota no oceano. Mas que se você não fizer, será uma gota a menos no oceano. É impossível alcançar o mundo com a evangelização, mas se você pensar assim, você não faz a sua parte.

O que mudou na sua fé ao longo desses 28 anos?
Trago muita a mudança da experiência. Eu amadureci. Quando entrei na Igreja Católica, não tinha nenhuma prática de fé, tinha uma conceito de fé infantil, não tinha clareza do que é a santidade, a igreja. E com os passar dos anos isso foi mudando, minha fé foi ficando mais concreta. Me decepcionei muito com a igreja, mas, ao mesmo tempo, por conhecer tanto as limitações, também conheci o dom que ela é, a beleza que é a igreja e aprendi a amá-la. Encontrei na igreja modelos de pessoas, como o papa Francisco, e o dom da igreja em favor dos pobres, da igreja que chega aonde ninguém chega, que está em busca de ajudar a sociedade. Na guerra, a igreja chega, nos hospitais, ela chega.

Como você enxerga o papel da igreja no momento atual do país?

O Brasil vive uma crise moral, espiritual e política. Precisa de um rumo. O papa Pio 12 disse que tem duas coisas que ele considerava as mais importantes. Uma era a família, porque sem a família não há uma base. Como vai construir uma casa se não há um terreno fértil e uma rocha? O próprio Jesus nasceu em uma família, todo mundo nasce de um pai e uma mãe. Depois da família, a segunda coisa mais importante ele disse que era a política. Que é através da política que passa todo o bem da sociedade. Se a política é injusta, a sociedade também é injusta. A força da igreja na política não é o padre, porque sou contra o padre na política, já que ela é partidária. A força da igreja é o leigo, que forma 99% dela. E como católicos nos vejo muito omissos.

Isso tem a ver com eleger candidatos?

Os católicos ficam divididos , mas não deveriam. O critério não é se o candidato é católico, mas se ele é honesto.

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