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DP NOS BAIRROS

Casas que ainda resistem na Avenida Boa Viagem

Os oito imóveis revelam o que restou de um material arquitetônico há muito perdido diante do avanço imobiliário em um dos metros quadrados mais caros da capital. E todos cercados por prédios altos

Publicado em: 05/10/2018 08:15 | Atualizado em: 05/10/2018 09:13

A casa ao lado, a 62, pertence ao mesmo dono da 52 e está desabitada. Foto: Nando Chiappetta/DP

Elas são oito e resistem solitárias ao longo dos nove quilômetros das orlas de Boa Viagem e do Pina, no Recife. Muitas pessoas nem percebem suas existências. De tão espremidas que estão entre os prédios. As oito casas da orla pertencem à Marinha, à Aeronáutica e duas delas são particulares. Estão em variados estados de conservação. São supostos oásis de segurança para seus moradores, que se dizem protegidos pelas câmeras dos prédios vizinhos. As casas são o pouco que restou de um material arquitetônico há muito perdido diante do avanço imobiliário em um dos metros quadrados mais caros da capital pernambucana. 

No sentido Boa Viagem - Pina, a primeira casa é a de número 4.440  O imóvel pertence à Marinha e nele mora uma família de um oficial. Segundo um jovem que fazia a segurança em uma guarita, o morador estava viajando.

Seguindo na mesma direção, encontramos a Casa do Brigadeiro, no número 4.224.

Exemplar da Aeronáutica, no número 3.870. Foto: Nando Chiappetta/DP


Uma placa no muro informa que o prédio é de 1944. Foi construído no final da 2ª guerra mundial, pelo patrono da Força Aérea Brasileira, brigadeiro Eduardo Gomes. A placa informa que, na época, havia poucos vizinhos, presença de mangues e dificuldades viárias no terreno. “Voltada para o Atlântico, mantendo eterna vigilância do nosso litoral, onde 34 navios brasileiros foram torpedeados, causando a morte de 1081 pessoas, na maioria, civis inocentes”, diz um trecho do texto da placa colocada na Casa do Brigadeiro em dezembro de 2008. No imóvel, segundo um segurança, mora uma família de um oficial da Aeronáutica, que não estava na hora da visita da reportagem.

Mais adiante, encontramos outro exemplar da Aeronáutica, no número 3.870. No endereço moram Maria José Neves, 75 anos, e sua família, além de um cão e um gato. “Aqui é ótimo, muito calmo. Só tem barulho quando tem passeata. Para mim é um privilégio morar em uma casa nesse endereço”, brinca.

Segundo Maria, que é relações públicas aposentada, o imóvel é seguro porque está em meio às câmeras dos prédios vizinhos. A casa tem primeiro andar e fica em um terreno amplo e ventilado. “Apesar da gente estar cercada por prédios, ela é bem projetada. Ninguém vê quem está dentro. Além disso, a presença dos prédios termina amenizando a ventilação, que é muito forte em todo os cômodos”, explica.

A casa de número 2.388 vem logo a seguir. Nela moram Geanecir de Oliveira, 52, e sua família. Natural do Rio de Janeiro, ela mora no Recife há 22 anos, sendo 7 meses na casa pertencente à Aeronáutica. Antes ela morava na vila de apartamentos da Aeronáutica, no mesmo bairro. “Aqui é melhor porque posso criar meu cão e não precisamos nos preocupar tanto em incomodar os vizinhos com a questão do barulho nos apartamentos”, pontua. A maior dificuldade é dar conta do tamanho da casa, com sete cômodos distribuídos no primeiro e segundo andar.

Karine Ane Santos, 22, e sua família vivem no número 52 há três anos, de frente para o mar e cercados por prédios. Foto: Nando Chiappetta/DP


Outros exemplares das Forças Armadas são vistos nos números 2.198 e 2.144. Mais adiante, no Pina, mora Karine Ane Santos, 22, e sua família. Ela vive no número 52 há três anos. “Aqui é bom, não tem zoada, é perto da praia. A visão é linda quando amanhece. Para quem morava no Cordeiro, que tinha muita agitação de som, aqui é uma maravilha. Quando digo que moro em uma casa na orla de Boa Viagem o povo diz que é mentira”, conta. A casa ao lado, a 62, pertence ao mesmo dono da 52 e está desabitada. “A casa é linda, tem uma garagem subterrânea”, destaca.
 
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