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Espinheiro e suas 800 árvores: veja um raio x do bairro

Em apenas 32 ruas, o Espinheiro se mantém como um refúgio verde no coração da Zona Norte. Conheça mais detalhes do bairro que tem 10 mil moradores

Publicado em: 10/08/2018 08:29 | Atualizado em: 10/08/2018 09:28

Oitizeiros, que formam túneis verdes em alguns pontos, são da espécie mais plantada no bairro da Zona Norte. Foto: Thalyta Tavares/Esp. DP
São apenas 32 ruas, espremidas entre duas das principais avenidas da cidade. O Espinheiro é como se fosse a porta de entrada de quem vem do Centro para a Zona Norte do Recife. É também um local cheio de peculiaridades, a começar da arborização – que deu nome e fama ao bairro. O bairro tem quase 800 árvores plantadas, uma média de 24 por rua. É uma das áreas mais verdes da capital, consequentemente uma das mais agradáveis para a caminhada. Por outro lado, carece de espaços públicos de lazer. Uma contradição do planejamento urbano recifense. 

O bairro do Espinheiro teve origem em meados de 1800 em um loteamento de sítios, conhecido como Matinha, justamente pela densidade da vegetação. No século passado, caiu nas graças da nobreza da cidade, passando a ser local de moradia de comerciantes portugueses e usineiros. Com o início do processo de verticalização, foi um dos mais afetados pelo levante imobiliário. Por isso, as árvores plantadas no bairro são resistência ao processo de crescimento da cidade.

Para a engenheira aposentada Juliana Maria Oliveira, 74 anos, morar há 40 anos em um bairro tão verde é um privilégio. “Antigamente, costumava andar muito por aqui. Era muito agradável. O Espinheiro, ainda por cima, tem uma ótima infraestrutura. Tem farmácia, supermercado, restaurantes”, comentou. O administrador Amom Santos, 31, concorda, mas faz uma ressalva. “Você consegue fazer tudo a pé. Até para o cinema, se eu quiser, consigo ir andando. É um bairro muito completo, porém, falta acessibilidade nas calçadas para todo mundo”, reclamou. 

É que qualidade nem sempre quer dizer quantidade. O Espinheiro sofre com a falta de planejamento da arborização urbana. Um inventário realizado em 2015 pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), nas duas ruas mais arborizadas do bairro, mostrou que 71% das espécies afetam de alguma forma a estrutura da calçada. O levantamento mostrou que em 58% dos casos o problema foi de afloramento do passeio. Dentre os oitizeiros, espécie mais plantada na área, 65% dos existentes nas ruas do Espinheiro e da Hora causavam esse dano. 

Basta percorrer as ruas do Espinheiro e da Hora, cerca de quatro anos após a publicação do inventário, para ver que a situação permanece. O que se transforma em risco para dois entre cada 10 moradores do bairro, já dentro da faixa etária idosa. É o que acontece com Juliana Oliveira. “As calçadas ficam estreitas, por causa das raízes, e fica ruim para passar. Uma vez, estava vindo para a igreja de manhã cedo, tropecei numa raiz e caí”, conta ela, que hoje evita caminhar pelo bairro como costumava fazer.

De acordo com o Manual de Arborização Urbana do Recife, a arborização de passeios em vias públicas deve considerar o livre trânsito dos pedestres, a própria largura da calçada e o espaçamento entre as árvores. Cabe à Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) executar as ações necessárias para manter a sanidade, o equilíbrio e o desenvolvimento da vegetação. O órgão afirmou que realiza ações de manutenção preventiva no bairro ao longo do ano. Neste sábado, haverá uma nova operação na Rua do Espinheiro, no trecho entre a Rua Amélia e a Rua Quarenta e Oito, das 8h às 17h. 

Faltam espaços públicos de lazer

Apesar de ser conhecido pela arborização, o bairro do Espinheiro ocupa apenas o lugar de número 50 no ranking de territórios com mais árvores da cidade. Ele tem 213,1 mil metros quadrados de área verde, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto da Cidade Pelópidas Silveira, em 2012, com o uso de imagem de satélite. O curioso é que a taxa de arborização do bairro não se converte em espaços públicos de lazer. 

O Espinheiro faz parte da lista de 15 bairros que não têm praças e parques. Oficialmente o único espaço público verde que dizem pertencer ao bairro, na verdade, pertence aos Aflitos. É a Praça da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que fica na Rua 48. “No passado, meus filhos costumavam brincar dentro do prédio mesmo. Hoje, com esse trânsito intenso do bairro, acho que não seria diferente”, lembra Juliana Maria Oliveira, que chegou a escrever um livro, nunca publicado, no qual conta detalhes da história do Espinheiro por meio da história da paróquia do bairro. Em 2015, a Prefeitura do Recife fez um inventário de árvores em áreas públicas de 11 bairros. O Espinheiro foi um deles. Foram identificadas 26 espécies arbóreas, sendo apenas cinco espinheiros, responsáveis pela nomenclatura da área. Dentro do plano de arborização da cidade, a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente identificou que o bairro ainda tem potencial para receber mais 490 árvores.
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