BOA VIAGEM

Aguardando cadastro, comunidade cresce em cima de túnel na Zona Sul do Recife

Quase um ano após ordem de retirada, moradores seguem instalados em área irregular da Zona Sul. Prefeitura alega que está fazendo cadastramento das famílias

Publicado em: 26/07/2018 09:23

Comunidade Pocotó, no Túnel Augusto Lucena
Foto: Julio Jacobina/DP
A comunidade do Pocotó cresceu. Agora, em vez das 40, são 47 casas construídas sobre a laje do Túnel Augusto Lucena, situado na Avenida Dom João VI, ao lado do Viaduto Tancredo Neves, no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Mas não é só isso. Além da construção de novas residências, tudo indica que algumas das mais antigas foram ampliadas através dos chamados “puxadinhos”, enquanto outras passaram por significativas transformações, inclusive com a substituição da madeira pela alvenaria. 

Ao que parece, a determinação da demolição das moradias, por parte da juíza Mariza da Silva Borges, da 3ª Vara da Fazenda Municipal, que completará um ano em setembro, e atendeu pleito da Prefeitura do Recife, não provocou mudança na rotina do local. Adelmo José de Farias, residente no local há seis anos, confirma que “o poder público informou que a derrubada ia ser geral, mas até o momento está tudo do mesmo jeito.”  

Os moradores demonstram certa preocupação com a possibilidade da demolição das habitações, mas garantem que as negociações com a Prefeitura não avançam, apesar das rápidas reuniões que vêm ocorrendo desde o segundo semestre de 2017. A última foi realizada no dia 4 de junho. 

Luciana Maria da Silva Barbosa se diz residente do local há mais de 10 anos. “O prefeito quer retirar a população daqui, pagando um auxílio-moradia irrisório, no valor de R$ 200. O pior é que não será para todos, como já ficou muito claro em algumas ocasiões. Na verdade, não sabemos qual é o critério adotado, pois escolheram apenas algumas pessoas para receberem a doação. Mas em bairro nenhum vamos conseguir um aluguel com esse dinheiro.” 

Para Adelmo Farias, outro fator de preocupação é que nem todos os moradores sabem ler. “A Prefeitura dificulta ainda mais a negociação quando entrega uma folha de papel a um morador e solicita que ele assine, sem ter conhecimento se o mesmo é alfabetizado. O que aconteceu aqui foi que algumas pessoas receberem um papel, parecendo uma cópia, para assinar, e tempos depois surgiu a informação de que, ao colocar o nome, estavam aceitando a remoção. Agora a ordem é não assinar nada”, afirmou o morador. 

Luciana Barbosa assegurou que todos os residentes vão continuar dizendo para o poder público que não têm para onde ir. “Cada vez que eles vêm por aqui, até com a polícia, como se a gente fosse marginal, conversam rápido e vão embora. No início, falaram que a gente teria um prazo de 10 dias para sair daqui. Agora já se vai quase um ano. Se nós moradores tivéssemos condições, não estaríamos aqui, arriscando nossas vidas e as dos outros. Somos conscientes disso, mas nada podemos fazer. Não gostaríamos de continuar aqui, mas o poder público não acena com a possibilidade de nos transferir para outro local, nem que provisoriamente, até construírem um conjunto habitacional para nós”, lamentou Luciana. 

Cadastro

Em nota, a Prefeitura do Recife informou que, em cumprimento de decisão judicial, equipes sociais da Secretaria de Infraestrutura e Habitação estão trabalhando para cadastrar e incluir no auxílio-moradia as famílias que construíram barracos e ocupam irregularmente as laterais e a parte superior do túnel.
 
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