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Pesquisa revela forte do século 17 no Cabo de Santo Agostinho

Com base em um antigo mapa de sua mãe, arqueólogo fez monografia sobre fortificação do período de confrontos entre holandeses e luso-brasileiros

Publicado em: 25/06/2018 08:22 | Atualizado em: 25/06/2018 08:33

Fotos: Leonardo Malafaia/Esp DP

Por quase quatro décadas, Maria da Conceição Alves Rocha, 60 anos, guardou um mapa. Recebeu o documento de uma historiadora, no período em que o governo do estado planejava criar o Parque Metropolitano Armando de Holanda Cavalcanti, no Cabo de Santo Agostinho, e nunca imaginou o quanto ele seria importante para o filho, Lucas Alves da Rocha, 24.

Formado em arqueologia pela Universidade Federal de Pernambuco, ele encontrou no mapa o motivo para a monografia da graduação, defendida no ano passado. O papel indicava que na Vila de Nazaré existiu uma fortificação, o Forte Real de Nossa Senhora de Nazaré, do século 17. Lucas decidiu ir atrás das informações.

Após a análise de mapas, de fotografias antigas e de levantamentos de campo de pesquisadores, Lucas, orientado pela professora Neuvânia Curty Ghetti, concluiu ter encontrado indícios da existência da fortificação. “A vegetação ajudou a preservar o que ficou exposto às intempéries, do forte construído de taipa”, frisou.


Na pesquisa, ele se deparou com evidências do fosso e de um dos quatro baluartes do forte. Nos mapas e fotos há referências à igreja dedicada a Nossa Senhora de Nazaré. Alguns documentos, os mais antigos, tratam de uma ermida. Vista do mar, a construção lembrava uma vela branca. As referências dos séculos mais recentes falam do templo nos moldes atuais, o mais bem preservado dos monumentos históricos do parque.

Lucas cresceu ouvindo relatos sobre a igreja e seus arredores. A mãe dele tem “parcela de culpa” nisso. Maria da Conceição tem apego pela Vila de Nazaré, onde nasceu e mora. “Sou nativa desse lugar”, diz. O carinho pela vila se revela no seu contar da história do lugar, tomado pelos holandeses em 1635 e retomado pelos luso-brasileiros em 1640. A reconstrução da capela começou no mesmo ano.

Oito anos depois estava concluída. Ao lado dela, aponta a nativa, foi construído um convento. E tem um cemitério ainda em uso. À frente do templo, na Praça da Aurora, com a placa pregada na fachada da igreja, o cruzeiro. Do lado oposto, ao Sul, o casario da vila e as casas dos faroleiros. A cem metros, ou talvez mais perto, o imóvel mais jovem. Distante, próximo ao mar, as ruínas da antiga casa. “Quem pisa aqui tem vontade de ficar”, afirma a mãe de Lucas. Tem mesmo.

Mariano, o guardião da Capela de Nazaré


O zelador Mariano Manoel Amâncio, 45 anos, pisou na Vila de Nazaré no ano 2000. Terminada a reforma para qual foi contratado na capela, o ex-morador de Vitória de Santo Antão, na Mata Sul, decidiu ficar. E permanece na vila até hoje. Dois seriam os motivos para a mudança.

A energia do lugar, que lhe permitiu vida nova, e os licores. “Depois de beber um litro da bebida de jenipapo, a pessoa não é mais a mesma. Eu, por exemplo, fiquei mais inteligente e bonito”, brinca. Inteligente, bonito e disposto. Mariano é pai dez filhos, de quatro casamentos. Alguns deles nascida após experimentar o licor.

Mariano gostou tanto da bebida que aprendeu, com os nativos da vila, a fabricá-la. Produz de sabores diversos. Do tradicional jenipapo ao de amarula, transformado em carro-chefe de sua barraca, erguida na Praça da Aurora. No ponto, trabalha a sua mulher. Ele se dedica a outros afazeres. Ou melhor, a zelar da capela. Varre, espana e fica atento ao entra e sai de turistas, vindos principalmente do balneário de Porto de Galinhas, em Ipojuca.

Das janelas do pavimento superior da igreja, onde há os alojamentos para os frades carmelitas, Mariano “esquece os aperreios” ao olhar o mar em que as dezenas de navios deslizam na água e as praias, no sentido do Recife, a se perder de vista.

Por essas imagens, o bugueiro Jaaziel Ferreira da Silva, 33 anos, convence turistas nacionais e estrangeiros a colocar os pés na Vila de Nazaré. “O cenário é demais! Nunca, em centenas de passeios que fiz, ouvi alguém dizer que não gostou deste lugar”, revelou.

Nesta época, Jaaziel realiza de quatro a cinco viagens mensais com hóspedes de pousadas e hotéis de Porto de Galinhas para a Vila de Nazaré, enquanto no verão são de oito a 12. O passeio inclui uma parada entre as duas casas dos faroleiros. É o ponto ideal para se observar o mar, a força da erosão nas encostas de cascalhos e de barro vermelho e a vegetação, a crescer nas fendas abertas pelas chuvas.

Antes de deixarem a Vila de Nazaré, os visitantes dão uma parada na praça da igreja. Experimentam os licores “à disposição dos fregueses” em uma das duas barracas existentes. Uma dela, a de Mariano, que propagandeia os efeitos curativos e afrodisíacos das bebidas e de pimentas.

Difícil resistir a tanto bom humor. E não dizer um “não” diante do chamamento escrito sobre o portão do cemitério: “Nós que aqui estamos por vós esperamos”. O único retorno desejado, alega Jaaziel, é o turístico. Além disso, seria agouro. E para de Vila de Nazaré o que se espera, segundo a moradora da Praia de Suape, Marielza Epifânia de Sena, 69, são bons ventos, soprados do mar.
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