Iniciativa

Pernambucana cria canal no Youtube para aproximar mundo de ouvintes e surdos

Carolina Longman, 44 anos, viveu "exilada" e precisou aprender uma língua diferente da sua para se conectar com o mundo

Publicado em: 17/06/2018 09:11 | Atualizado em: 17/06/2018 09:22

Carol e sobrinha, Luiza, criaram canal em março deste ano. Crédito: Nando Chiappetta/DP (Crédito: Nando Chiappetta/DP)
Carol e sobrinha, Luiza, criaram canal em março deste ano. Crédito: Nando Chiappetta/DP (Crédito: Nando Chiappetta/DP)

Durante mais de uma década, a pedagoga Carolina Longman, 44 anos, viveu exilada. Precisou aprender uma língua diferente da sua para se conectar com o mundo ao redor. Foi condicionada por necessidade a se adequar, mas sempre se viu expatriada vivendo no próprio país de nascença, o Brasil. Carol vem de um povo que ouve pelos olhos e fala pelas mãos. Só depois de descobrir a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) se sentiu em casa. Hoje, por meio de um canal no YouTube, ela quer reforçar na sociedade o papel político e educativo de se reconhecer como surda.

Até os 13 anos, Carol tinha entre os compromissos semanais as consultas de fonoaudiologia, com o objetivo de aprender o português. A própria mãe havia viajado para a antiga Iugoslávia e passado seis meses estudando para desenvolver a oralidade da filha e de outras crianças surdas. Filha de uma mulher formada em letras, Carol tinha em casa uma rígida educação também visando a redação em língua portuguesa. Era assim ou não teria muito espaço naquela realidade projetada para os ouvintes.

Foi somente aos 15 anos que ela conheceu a Libras. “Ela me deu a cidadania depois de tanto tempo de exílio. Por isso, tenho medo de perdê-la”, explica a pedagoga. Em março deste ano, Carol deu mais um passo rumo a essa afirmação identitária. Depois de algumas incursões no mundo da produção de vídeos, decidiu criar em parceria com a sobrinha, a estudante e produtora Luiza Samico, 22 anos, o canal no YouTube A moda muda.

No começo, apenas com um celular, ela começou a retratar a realidade de uma pessoa surda. “Como consigo migrar entre os dois mundos, de surdos e ouvintes, sempre notei a ausência de informação que chegava ao público surdo, pela falta de acessibilidade comunicacional”, explica. A ideia dela e da sobrinha é levar informações sobre assuntos variados, como entretenimento, moda, esportes, cultura e arquitetura para essas pessoas.  Carol fica responsável pela seleção de pautas e apresentação dos conteúdos nos vídeos, enquanto Luiza tem o papel técnico de gravação, edição e tradução. O que inclui colocar legendas em português a partir do que a tia apresenta, em Libras. Agora, na 13ª produção, elas já usam câmera profissional e adquiriram um tripé e um sofá, para o cenário. A compra mais importante, porém, é a de um caderno, onde Carol transcreve todo o conteúdo para que Luiza faça as legendas. “Não queremos fechar o canal apenas aos surdos”, ressalta Luiza.

Os vídeos são publicados toda sexta-feira, e a dupla tem reuniões diárias para planejar o conteúdo. “Recebemos muitas mensagens de ouvintes e surdos elogiando. Queremos ser influentes e mostrar que não tem nada demais em ser surdo, que dificuldades e barreiras existem para todos”, explica Carol, que conta que a tecnologia tem ajudado a romper as fronteiras de preconceito. “Esse canal é um instrumento político de afirmação e divulgação do cotidiano e da cultura surda”, escreve ela no caderno de gravações. 
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