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Mercado da Ribeira: refúgio da arte do entalhe no coração de Olinda

Artesãos da Cidade Alta utilizam corte preciso na madeira para dar forma a ruas, casas, janelas, céu e mar dos principais pontos turísticos de Olinda

Publicado em: 08/06/2018 08:16 | Atualizado em: 08/06/2018 08:36

Foto: Thalyta Tavares / Esp. DP
O Mercado da Ribeira produz uma das mais ricas tradições do artesanato de Olinda. Os quadros em óleo sobre madeira revelam parte do folclore e da paisagem da cidade pelas mãos dos artistas. Pedaços de madeira ganham forma com paisagens e personagens folclóricos. Pelas mãos dos artesãos surge o traçado do desenho que dá lugar à talha em alto relevo. O último passo é a pintura a óleo dando o toque final nos quadros. Os tamanhos são os mais variados e dependem da madeira que cada um consegue. Muitas são reaproveitadas de mobílias antigas. O corte preciso na madeira  revela ruas, casas, janelas, o céu e o mar de Olinda, de dia ou de noite. Cada cantinho se eterniza em algum pedaço do que um dia foi parte de uma gaveta ou porta e ganha um lugar de destaque na decoração de quem se rende à beleza dos quadros.

Parte das peças produzidas no Mercado da Ribeira é vendida nas feiras e lojas do Alto da Sé, principal ponto turístico de Olinda. A Sé atrai não apenas pela diversidadee de produtos comercializados, mas pelos equipamentos turísticos, como a própria catedral, o Observatório,  a Igreja da Graça e o Seminário, no ponto mais alto da cidade. “A Sé é o primeiro ponto de parada das agências de turismo. Muita gente não sabe que a maior parte das peças vendidas lá foi feita por nós aqui no mercado”, afirmou o artesão Manu de Olinda, 56 anos, que trabalha no Mercado da Ribeira criando e vendendo peças há 33 anos.

No momento da entrevista, o artesão Manu pintava o quadro de uma via sacra em tamanho vertical, sob encomenda. Parte do que ele vende é de pedidos de clientes já conhecidos. “Se a gente for contar só com o movimento daqui não consegue pagar as contas”, disse.  No box de nº 13, encontramos o artesão José Miguel Gomes Filho, 56 anos, que trabalha no mercado há 22 anos. Seu trabalho também é com madeira e ele faz quadros, caixinhas, porta-controle, abridor de garrafas, imã de geladeira, entre outras miudezas. Mas são os quadros, onde ele se sente mais à vontade para revelar o seu talento. “Gosto de retratar Olinda e o nosso folclore. O preto véio é uma das peças de maior saída”, revelou José Miguel Gomes.

A família de Luiz Andrade é toda artesã. As peças ocupam as prateleiras e paredes para chamar a atenção dos visitantes. O que não é de madeira foi comprado de outros artesãos. Os produtos em barro são oriundos do Alto do Moura, em Caruaru. “Nosso principal produto é feito em madeira e toda a família confecciona peças. Cada um com seu estilo. Mas também vendemos de artesãos de fora” contou Luiz Andrade.

A movimentação no mercado também sofreu a retração da crise, mas os artesãos acreditam que há possibilidade de melhora com uma maior divulgação. “Basta colocar o mercado na rota dos passeios turísticos, mas passando por aqui antes de subir na Sé”, sugere o artesão Manu. A limpeza do pátio e dos banheiros do mercado é bancada pelos artesãos. “A gente faz uma cotinha e um rapaz faz a limpeza. E vem funcionando assim por alguns anos”, contou.

Construído por volta do ano de 1693, o Mercado da Ribeira está localizado na Rua Bernardo Vieira de Melo, na parte alta da cidade de Olinda. O local já abrigou o antigo mercado de carne, farinha, peixes e escravos.  A edificação é caracatéristica do Brasil Colônia, com piso em tijolos, dois terraços com colunas e batente em pedra. Durante o carnaval de Olinda, no pátio do Mercado da Ribeira são realizados vários encontros de blocos e caboclinhos, saindo depois para os desfiles pelas ladeiras da Cidade Alta. A partir da década de 60 é que o mercado passou a ser explorado como equipamento turístico.
 
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