Diario nos bairros

Igreja de Santa Cruz espera benevolência de fiéis para restauro de estrutura tricentenária

Região da Boa Vista que abriga templo católico desde o século 18 é também o local onde nasceu um dos clubes de futebol mais populares do Brasil

Publicado em: 26/06/2018 10:10 | Atualizado em: 26/06/2018 10:30

Argumentos da campanha para sensibilizar os 'amigos da Santa Cruz' a contribuírem para o restauro da igreja são devocionais e históricos. Foto: Nando Chiappetta/DP

Por falta de placas, o Pátio da Santa Cruz jamais será esquecido. Há seis nas fachadas desse território da Boa Vista, onde em suas imediações surgiu o Santa Cruz Futebol Clube, em 1914, e o principal dos monumentos, a Igreja da Santa Cruz, espera a benevolência dos fiéis para ter o telhado e as instalações elétricas e hidráulicas recuperados. O apelo para contribuições consta em um banner amarrado ao gradil do templo, de 1716 e em torno do qual o pátio ou o largo, como relatam algumas das placas, se desenvolveu.

Os argumentos da campanha para sensibilizar os “amigos da Santa Cruz” a contribuírem para o restauro da igreja são devocionais e históricos. Afirmam que no templo se celebram as Exaltações à Santa Cruz e os pais da Virgem Maria, Santa Ana e São Joaquim, e detalham os traços arquitetônicos do monumento. Parte da nave e do coro, explica o material da campanha, é do estilo rococó tardio, com registros entre 1710 e 1780, enquanto o frontão da igreja data “provavelmente do século 19”.

O custo do restauro do telhado e das instalações hidráulicas e elétricas da Igreja da Santa Cruz está orçado em R$ 234 mil, sendo 65% desse valor destinado à mão de obra. A parte menor, R$ 81,9 mil, será para a compra de material de construção. As doações, segundo os organizadores da campanha, podem ser feitas no templo.

A igreja não é o único imóvel a precisar de restauro no pátio. Em parte dos prédios do logradouro, ao contrário o templo, os problemas são aparentes. Estão no reboco, na pintura, em portas e janelas. “O pátio sempre foi isso, com prédios precisando de melhorias, desde que frequento este lugar”, disse José Campelo de Albuquerque, 71 anos. Aposentado, ele tem uma relação de décadas com o largo. São 31 anos somente como comerciante do pátio, onde possui um fiteiro. Nesse tempo, ele viu imóveis se degradar, mas também restauros importantes, a exemplo do imóvel 438. 

O térreo do prédio 438, esquina com a Rua Gervásio Pires, abriga um dos bares responsáveis pela retomada do movimento boêmio, o Lisbela e Prisioneiros. A retomada se deu após ser desativado o posto de combustível existente no meio do largo. No lugar do posto, construiu-se uma praça, que tem parte do entorno frequentemente ocupada, à noite, pelo movimento dos bares. “As coisas melhoraram bastante. Quando comecei trabalhar aqui, esse tipo de movimento era mais fraco”, afirmou a cambista Marina Máxima, 43. Ela negocia no pátio há mais de 15 anos.

Conta-se nos dedos os imóveis do Pátio da Santa Cruz, que dá acesso às ruas Velha, da Santa Cruz, do Rosário da Boa Vista, Gervásio Pires e Barão de São Borja. São 11. De maior porte, a igreja, a Policlínica Gouveia de Barros e a sede da Associação de Ex-combatentes do Estádio de Pernambuco. O prédio da policlínica destoa do restante do casario, pelo estilo moderno, enquanto a sede da associação se destaca pelas características arquitetônicas. A sede foi erguida em meados do século passado seguindo as regras do estilo neomanuelino, movimento português desenvolvido entre meados do século 19 e começo do século 20. “Não lembro de ter visto outro prédio como este no Recife”, afirmou o estudante Pedro Araújo, 23. Ele é único na capital pernambucana. No Brasil, existem prédios deste estilo somente no Rio de Janeiro. O seu valor arquitetônico levou a prefeitura a inclui-lo entre os imóveis especiais de preservação do município.
 
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