Em Foco

O ''hellcife'' por ele mesmo é o da Rua das Calçadas

Centro comercial e popular mais conhecido de Pernambuco vive sua apoteose na semana pré-Carnaval

Publicado em: 08/02/2018 09:46 | Atualizado em: 08/02/2018 10:45

Foto: Silvia Bessa/DP
Recife, 32 graus de temperatura na nuca e ninguém arredava o pé ontem da Rua das Calçadas, o point mais badalado da semana do pré Carnaval de Pernambuco. Estimo que uma ladeira inteira de gente estava lá, naquela que é a porta-estandarte mais democrática e eclética neste período que antecede a algazarra.


Música do Bloco da Saudade tocando no último volume - e gente parando para se embalar, glitter e purpurinas nada básicos, saias rodadas de tule em cores neon, grito de camelô anunciando a promoção de última hora, menino chorando porque a fantasia do herói preferido acabou, dona de casa empenhada em se transformar em sereia por quatro dias, mocinhas e rapazes da Zona Sul circulando, em grupos descobrindo graça nas miudezas do centro comercial do povão. Turistas aproveitando para comprar a sandália de couro mais estilosa a R$ 30,00. Estavam todos lá, sob o mesmo sol. Na Rua das Calçadas e nas ruelas que fazem os braços dela. Até eu, que costumo me entrelaçar ali, devo dizer: nunca vi Recife tão fervente, tão “hellcife” - para fazer menção à gíria popular nativa.


"Parece até que o mundo vai se acabar de gente e de calor", suspirava dona Elizabete Medeiros, dona de casa que sustentava o filho pela mão, mal acreditando no movimento. Dayse Silva, ambulante que vende adereços ali no corredor da loja de tecidos Avil, garantiu-me: “Com certeza, o movimento está muito melhor que a do Natal e ano novo e qualquer outra data do ano”. Ela trabalha vendendo roupas em um ponto fixo mas foi chamada pelo colega Gilson Barbosa para ajudar a atender a demanda dele.


Gilson assegura vender 500 saias de tule por dia, com o melhor preço das redondezas: “R$ 12,00. Toda cor, todo tamanho. “Há mais de duas semanas estou com estas mercadorias por aqui. Comecei pedindo o primeiro lote de 2 mil, depois mandei fazer outros. Não temos mais costureira para dar conta da quantidade de pedido”, conta. Dona Eva Vanderlei, que atua por ali há três décadas, confirma.


“Água, olha a água, água geladinha”. Dona Maria das Graças aproveita o sobe e desce de gente para compensar o desemprego. “Eu acho é bom porque é uma época de gente feliz e animada”. Uma moça que negocia tiara, chamada Mariana, faz das calçadas a sua loja. As peças dela, com penas coloridas e cordões dourados, são lindas e ela faz questão de vender com histórias: “Minha tia faz com muito capricho e eu vendo para ela”. Mariana vai para longe, três metros depois, se vê que produção igual está espalhada no entorno, em dezenas.


Nas lojas maiores de pedrarias, as mulheres se ajudam no quesito pitacos. E desconhecidas se tornam amigas para dividir o preço dos produtos vendidos em grandes quantidades, como é o caso das lantejoulas. Vi isso na Casa Lapa, que anda lotada mas tem a variedade que os compradores esperam. Na Casa Lapa, de tanta gente, em certos momentos é preciso esperar a vez atrás de uma cordinha que limita a quantidade de clientes na entrada. Dentro, anda-se em filas indianas até a sobreloja, onde há fantasias para crianças e adultos.


Há quem diga que faltam apenas dois dias para o Carnaval, outros estão já mirando o final da montagem do Galo da Madrugada Gigante para emitir parecer. Até amanhã, a sexta gorda do Carnaval pernambucano, devo lembrar: a Rua das Calçadas vive sua apoteose.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL