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Empreendimento Sem cardápio, wi-fi e hora para fechar Bar mais antigo do Bairro do Recife se confunde com história da região, mas também quer novos clientes

Por: Thamires Oliveira

Publicado em: 02/09/2017 08:35 Atualizado em:

Foto: Gabriel Melo/ Esp.DP
Foto: Gabriel Melo/ Esp.DP


Um copo de puro malte, um sanduíche de queijo do reino, uma conversa agradável e 82 anos de história. Próximo ao Marco Zero, o Bar 28 é dono de trajetória que se confunde com a do Bairro do Recife. Desde 1935 acompanhou todas as mudanças do local. Passou pela Segunda Guerra Mundial e pela ditadura militar, viveu a pujança do porto nos anos 1950. Permaneceu aberto durante a desvalorização da região e sobreviveu à chegada do século 21. 

Conhecido por servir uísque sempre original e atrair personalidades às suas mesas, o bar foi fundado por Antônio Cândido da Silva Filho, um guarda das docas, antiga denominação para os seguranças do porto. Identificado pelo número 28 no trabalho, Antônio, que era analfabeto, assumiu a numeração e assinava com os dois dígitos. O nome original do estabelecimento era Scotch Bar, mas de tão comum que era se falar no bar do guarda 28, ou no bar do 28, o apelido pegou. 

“Mesmo no período em que eram proibidas as importações, o bar conseguia os uísques por contrabando dos navios. Nunca serviu produto falsificado. Por isso sempre teve a qualidade reconhecida”, afirma o historiador Leonardo Dantas.

A mesa única e comprida de madeira garantia que todos se conhecessem e que as conversas se misturassem. Não havia segregação por grupos. Até hoje não se toca música nem há cardápio, mas o sanduíche Tostex 28, de queijo do reino e salame, é o preferido dos clientes. O quadro na parede que diz “Não temos wi-fi, conversem entre si” garante que o papo continue de pé em tempos de smartphone. “Se tornou tradição. Qualquer um que vier aqui certamente vai encontrar um amigo”, afirma o advogado Paulo Belfort, 65 anos, cliente diário há mais de 30 anos.

A conta no “prego” é um dos mais tradicionais costumes. Até hoje cada cliente tem uma conta individual, presa em um pregador. Os “penduras” também permanecem. “Uma vez roubaram o bar e gritaram lá de fora para o ladrão levar a caixa de vales”, lembra o engenheiro Ricardo Neves, 73 anos, cliente há 40 anos. Nos anos 1950 o bar era em sua maioria frequentado por portuários e marinheiros. Quando a operação migrou para Suape, a zona comercial se esvaziou e nasceu uma região mais noturna, de bares e prostíbulos. “Tinha gente que quando você queria encontrar não precisava ligar, era só ir no bar. O poeta Mario Mota sempre estava lá às 17h”, conta Leonardo Dantas. 

O 28, entretanto, era um dos poucos bares em que prostitutas não entravam. Seguia o antigo modelo dos pubs ingleses, frequentados majoritariamente por homens. Políticos, artistas, jornalistas, juízes, desembargadores e intelectuais integraram seu público. “Lembro bem que no dia que Jarbas Vasconcelos assumiu a prefeitura, a primeira vez que ele despachou foi aqui na mesa do bar”, conta Ricardo.


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