Violência Morte de menina de dois anos por bala perdida revolta moradores da UR-10, Ibura Sthefanny Vitória morreu no colo da tia, uma adolescente de 14 anos. Três suspeitos foram presos

Por: Anamaria Nascimento

Publicado em: 04/08/2017 21:28 Atualizado em: 04/08/2017 22:09

Banners usados na comemoração do aniversário da menina foram retirados de casa para os pais, em choque, não verem. Foto: Nando Chiappetta/DP.
Banners usados na comemoração do aniversário da menina foram retirados de casa para os pais, em choque, não verem. Foto: Nando Chiappetta/DP.
Fazia sol e, finalmente, Sthefanny Vitória da Silva podia voltar a passar a tarde na rua onde morava, no Alto do Urubu, na UR-10 do Ibura, Zona Sul do Recife. Nos dias de chuva, as saídas eram mais raras. Ela ficava em casa assistindo a programas de TV. Masha e o Urso era o  preferido. Apesar de ter apenas dois anos, gostava de brincar de peão com as crianças mais velhas da rua.

Nesta sexta-feira (4), por volta de meio-dia, estava descansando no colo da tia, uma adolescente de 14 anos, depois de brincar. Comia pipoca salgada, sua preferida, quando foi atingida no rosto por uma bala. Policiais militares cumpriam um mandado de prisão no bairro quando traficantes reagiram disparando com arma de fogo.

No momento em que a menina foi atingida, a mãe, a dona de casa Terezinha da Silva, 20, estava em um supermercado. O pai, o agente de reciclagem João de Jesus, 20, trabalhava. “Eles disseram que não querem mais viver. Ela era filha única. Ainda era amamentada. A mãe ia voltar do mercado para alimentá-la”, contou uma parente que não quis ser identificada.

As fotos da menina precisaram ser recolhidas de casa. Primas de Terezinha as esconderam, pois a mãe tem crises de choro sempre que as vê. “Vou esconder esses banners das festas dela, pois eles não vão aguentar ficar olhando”, disse outra familiar.

Os painéis, da Galinha Pintadinha e Masha e o Urso, foram confeccionados para as festas de um e dois anos, respectivamente. “A gente fazia questão, mesmo com pouco, de comemorar os aniversários dela. Era uma menina muito sapeca, inteligente, falava tudo”, contou a parente. O último aniversário foi celebrado no dia 5 de maio em uma festa que reuniu a família e vizinhos.

Sthefanny foi baleada enquanto estava no colo da tia nessa esquina. Foto: Nando Chiappetta/DP.
Sthefanny foi baleada enquanto estava no colo da tia nessa esquina. Foto: Nando Chiappetta/DP.

Protesto

De acordo com a assessoria de comunicação da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Lagoa Encantada, para onde a menina foi levada depois de ser socorrida, Sthefanny deu entrada sem vida, por isso, nenhum procedimento médico foi realizado. Ela foi atingida no rosto por uma bala que entrou na região do nariz. O corpo da menina será enterrado neste sábado (5). A família ainda não definiu o local e hora do sepultamento.

Revoltados, moradores da UR-10 fizeram um protesto na BR-101 na tarde desta sexta-feira, bloqueando todas as faixas no sentido Recife-Jaboatão dos Guararapes, na altura do posto Padre Cícero, das 15h às 17h. “É uma revolta muito grande que a gente sente. As ruas ficam sempre cheias de criança brincando e acontece isso. O tráfico, nos últimos meses, tem dominado o bairro e nos feito reféns”, disse um morador da UR-10 que não quis ser identificado.

Resposta
Sobre o caso, a Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que policiais militares do 19º BPM estavam na UR-10, no Ibura, cumprindo mandado de prisão. “Ao visualizar quatro homens em atitude suspeita e dar ordem de parada, dois fugiram e atiraram contra o policiamento, atingindo uma criança de dois anos. Os policiais, imediatamente, levaram a menina para a UPA de Lagoa Encantada, mas ela não resistiu”, respondeu o órgão.

Três suspeitos foram presos: Moisés Cabral da Silva, Felipe Lopes Prado e Edson Souza de Araújo. Também foram apreendidas duas armas de fogo (uma calibre 38 e outra calibre 32), 28 munições, um quilo de maconha prensada em barra e 28 papelotes da droga. As armas dos policiais também foram apreendidas para realização de exames periciais. O caso será investigado pelo delegado Francisco Océlio, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

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