Casa Forte Fieis, amigos e familiares lotam missa de corpo presente de Padre Edwaldo Às 15h, após missa celebrada por dom Fernando Saburido, corpo deixará igreja em cortejo até o Cemitério de Santo Amaro

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 20/07/2017 11:01 Atualizado em: 20/07/2017 14:32

Fieis, amigos e familiares lotam missa de corpo presente de Padre Edwaldo. Foto: Peu Ricardo/ DP
Fieis, amigos e familiares lotam missa de corpo presente de Padre Edwaldo. Foto: Peu Ricardo/ DP

Fieis, amigos e familiares reuniram-se, na manhã desta quinta-feira, na Igreja Sagrado Coração de Jesus, em Casa Forte no adeus ao do padre José Edwaldo Gomes. O pároco do bairro há 47 anos faleceu na noite de ontem, aos 85 anos, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. O velório começou por volta das 6h e às 10h, foi celebrada a missa de corpo presente, comandada pelo Padre Paulo Sérgio Monteiro, da Igreja de Nossa Senhora das Graças e vigário especial do vicariado da Várzea. A igreja ficou lotada, com muitas pessoas acompanhando a cerimônia do lado de fora do templo.

 

Outra missa foi celebrada ao meio dia, pelo padre Baronto, da Arquidiocese de São Paulo e às 15h, no mesmo local, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido vai celebrar a missa final. Após a cerimônia, um cortejo seguirá para o Cemitério de Santo Amaro, onde haverá o sepultamento. O governo do estado e a Prefeitura do Recife decretaram três dias de luto. De acordo com nota assinada pelo cardiologista Rodrigo Pedrosa, chefe da UTI Coronariana do Hospital Memorial São José, o padre morreu às 21h06. Ele havia dado entrada na unidade no dia 22 de junho com parada cardiorrespiratória e foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva. 

 

Uma perda dolorosa para os cristãos de Pernambuco. O religioso estava internado há 27 dias. Amigo de dom Helder Camara, seguidor da Teologia da Libertação, considerado “pai” de Casa Forte e criador da Festa da Vitória Régia, padre Edwaldo deixou orfã não só a comunidade religiosa para a qual dedicou uma vida de trabalho. A aposentada Paula Lima, 65 anos, encontrada no padre Edwaldo um conselheiro e um amigo. "Conheço ele desde os anos 70 e desde então tinha nele um pai, amigo e professor. Vai deixar saudade, principalmente das brincadeiras porque ele sempre foi muito bem humorado. Fiz questão que ele batizasse minhas três filhas e tinha um convívio diário com ele", conta a voluntária da paróquia.

 

A notícia foi recebida com pesar por amigos, seguidores e autoridades. O assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), José Ernane Pinheiro, destacou a liderança de Edwaldo entre os padres. “Ele ajudou muito o clero a manter-se firme na evangelização. É um modelo de testemunho de vida e de sacerdócio muito profundo.” Já frei Aloísio Fragoso, um dos mais destacados membros da chamada “Igreja Progressista” em Pernambuco, ressaltou que padre Edwaldo era tido como um grande irmão para os religiosos pernambucanos. “Era uma pessoa com quem podíamos conversar sobre assuntos pessoais e encontrar grande compreensão. Os seus maiores legados são o amor pela igreja, em todos os seus sentidos, e a grande capacidade de ouvir as pessoas”, disse.


Padre Edwaldo também teve papel destacado durante os momentos de repressão política e, posteriormente, na época de dom José Cardoso Sobrinho à frente da arquidiocese. “Era um pastor libertador,  de uma igreja que não aprisiona as consciências. Dava apoio quando o clero vivia sob uma ditadura eclesiástica”, lembrou a integrante do Grupo de Leigos Igreja Nova Bete Barbosa.

Padre José Edwaldo Gomes nasceu em Barra de Guabiraba, Mata Sul do estado, em 8 de setembro de 1931, filho de José Caetano Gomes e Amara da Silva Gomes. Vindo de uma família simples e numerosa, com 11 irmãos, contou com a ajuda de algumas pessoas, que possibilitaram sua ida e permanência no Seminário Maior Nossa Senhora da Graça, conhecido como Seminário de Olinda. Aos 13 anos, ingressou na escola religiosa, onde realizou quase toda a sua formação para o Ministério Sacerdotal. Apenas no último ano de estudos, seguiu para Paris, onde se especializou em Catequese.
Ordenado a padre em 2 de dezembro de 1956 pelo bispo dom Ricardo Vilela, Edwaldo Gomes exerceu várias funções na Arquidiocese de Olinda e Recife. Antes de ser pároco de Casa Forte, para onde foi designado em dezembro de 1970, foi responsável pela paróquia de São José, no bairro homônimo. Também trabalhou em Casa Amarela e no Sagrada Família.

A primeira missa solene celebrada por ele ocorreu na Matriz de Bonito. Em 8 de setembro de 1973, foi nomeado cônego efetivo do Cabido Metropolitano, mas preferia a nomeclatura de padre. Na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, no bairro de Casa Forte, desenvolveu um trabalho assistencial por meio da creche beneficente Menino Jesus, da Casa da Criança Marcelo Asfora, do atendimento a gestantes e aos mais necessitados. A casa é mantida com doações da festa da Vitória Régia, além de doações de féis da comunidade católica.

O padre que abraçou o bairro de Casa Forte

Cidadão recifense e pernambucano por título, mas filho de Casa Forte pelo coração. Padre Edwaldo era considerado o morador mais influente do bairro da Zona Norte do Recife. A relação do pároco com os moradores dos arredores da igreja era intensa. Apesar de estar em um bairro de classe média alta, dizem os seguidores, sua principal preocupação era com os mais pobres. Nas sextas-feiras, moradores da Vila do Vintém, Santana e Vila do Bananal iam até a Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Praça de Casa Forte, não só para receber cestas básicas, mas para conversar com o padre.

A jornalista Vera Ferraz, frequentadora da igreja há 21 anos e autora do livro Um padre nosso, lançado no ano passado, destacou que Edwaldo era um padre que tinha como principal preocupação a miséria. “Ele tinha um cuidado especial com as populações mais pobres. A questão da moradia era muito importante para o padre Edwaldo. Ele procurava os políticos para cobrar casas e atenção as pessoas”, contou. Em uma de suas frases célebres, presentes na obra escrita por Vera, Edwaldo afirmou que “a impressão de que somos melhores desencadeia uma falsa ideia de nós mesmos e consequente desprezo pelos preferidos de Deus”.

Por causa da preocupação com as causas sociais e os direitos humanos, ele chegou a integrar a diretoria do Instituto Dom Helder Camara (IDHeC). “Ele conseguia ter uma penetração em inúmeros meios da sociedade. Se dava bem tanto com o pessoal dos movimentos mais populares quanto dos movimentos mais de elite. Também foi uma pessoa muito ativa. A gente dizia que ele se multiplicada e que não tinha sido bispo ainda para não deixar Casa Forte. De fato, Casa Forte era a casa dele”, pontuou a conselheira do Instituto Dom Helder Camara, Lúcia Moreira.

Ex-pároco do Morro da Conceição, o padre Reginaldo Velozo enfatizou o cuidado de Edwaldo com os pobres. “A paróquia dele, mesmo sendo de classe média, abriu espaço para a pobreza. Os pobres foram muito bem assistidos por ele.” O carinho de Edwaldo pela paróquia e pelo bairro, se refletiu em tributos. Ano passado, ele foi o grande homenageado da 38ª Festa da Vitória Régia.



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