ESPECIAL Santo Antônio: protetor dos pobres, guardião dos enfermos e casamenteiro Primeira reportagem da série especial conta as tradições do Santo

Por: Ana Paula Neiva - Diário de Pernambuco

Publicado em: 10/06/2017 16:56 Atualizado em: 10/06/2017 19:29

Convento de Santo Antônio (Marlon Diego/Esp.DP)
Convento de Santo Antônio


O mês de junho traz consigo as celebrações típicas da época. Em meio ao forró e às comidas típicas, os verdadeiros "donos da festa"nem sempre são lembrados com a devida reverência. As comemorações, que surgiram na Europa pagã para invocar boas colheitas durante o solstício de verão, foram trazidas ao Brasil pelos colonizadores portugueses já como uma homenagem a três santos cristãos - Antônio, João e Pedro - sobre os quais o Diario inicia uma série de três reportagens. A primeira conta as tradições Santo Antônio, conhecido como o casamenteiro, mas também o padroeiro dos pobres e protetor dos enfermos, que é comemorado em 13 de junho.

Desde a década de 1960, a aposentada Josefa Barbosa de Queiroz, 87 anos, deposita sua fé em Santo Antônio. Uma das frequentadoras mais antigas do convento em nome do santo, no bairro homônimo, no Centro do Recife, Zezita, como é conhecida, descreve com orgulho a sua certeza de devoção. "Quando peço alguma coisa, olho para a imagem. Se o menino nos braços de Santo Antônio sorrir para mim, é porque vou alçancar a graça", revelou Josefa, que há 50 anos participa, às terça-feiras, da celebração ao meio-dia no convento. Assim já foram alcançadas muitas graças, diz ela. A primeira, há 30 anos, quando o filho mais velho formou-se em medicina. "Vim para a missa na terça-feira, pedi a Santo Antônio que arrumasse um emprego para ele. No dia seguinte, meu filho foi chamado para trabalhar por quatro meses em Manaus, e até hoje está lá", falou Zezita, que reside em Apipucos, no Recife.

Nascido em Lisboa, em Portugal, em 1195, Antônio é o padroeiro de Pernambuco e do Recife, junto com Nossa Senhora do Carmo, copadroeira. Segundo o historiador Leonardo Dantas Silva, durante as lutas com os holandeses, o santo já era reverenciado. "Os estandartes da tropa tinham a imagem dele", lembrou. Ele revelou que o culto vem desde 1606, quando os franciscanos se instalaram na Ilha de Antônio Vaz sob proteção de Santo Antônio. "Em 1709, quando o povoado foi elevado a vila, a cidade recebeu o nome de Vila de Santo Antônio do Recife", diz. No Dicionário do folclore brasileiro, Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) cita 70 localidades com o nome do santo no Brasil.

De acordo com a Arquidiocese de Olinda e Recife, entre os 19 municípios que abrangem 127 paróquias, há igrejas com nome de Santo Antônio em Água Fria, Torrões e Estância, no Recife; Prazeres, Jaboatão dos Guararapes; Tiúma, em São Lourenço; além do Cabo, na Região Metropolitana, e de Primavera, na Mata Sul. O franciscano é lembrado por ser casamenteiro. "Ficou conhecido por ajudar as moças pobres a conseguir o dote. Mas também é protetor dos pobres, animais e ajuda as pessoas a encontrar objetos perdidos", explicou o frade Romualdo Bezerra de Araújo, guardião do Convento de Santo Antônio.

No convento, na Rua do Imperador, às terças-feiras são celebradas três missas, às 7h, às 12h e às 16h. As terças também são dia do Pão de Santo Antônio. Conta a história que o pão era distribuído por ele entre os pobres nos conventos. Um dia, um frade chegou para Antônio e disse que pães haviam sido roubados. Antônio mandou verificar o cesto e o frade encontrou o depósito transbordando. Por isso, durante a festa, a igreja distribui pão para os fiéis. O alimento deve ser colocado em uma vasilha com arroz ou farinha para que nunca falte no lar. Matriz A igreja matriz do Santíssimo Sacramento de Santo Antônio, de 1790, está fechada há dois anos e meio para reforma. As missas acontecem num salão improvisado.


Devoção festejada entre amigos


Márcia Lima é devota há 17 anos e promove um evento anual  (Marlon Diego/Esp.DP)
Márcia Lima é devota há 17 anos e promove um evento anual

O dia 13 de junho é sempre comemorado com festa na casa da empresária Márcia Lima Cavalcanti, 51 anos. Devota de Santo Antônio há 17 anos, ela sempre promove um arrasta-pé para os amigos no dia dele. Dona de uma confecção em Olinda, promovia a comemoração na empresa há 15 anos em seu ateliê. Há dois anos, devido ao aumento de participantes, o lugar ficou pequeno. "Fizemos a festa nos dois últimos anos no Clube Atlântico. Como neste ano o espaço está fechado, resolvi realizar num café próximo do ateliê, que pertence ao meu irmão. Montamos um altar para as pessoas fazerem advinhações", informou Márcia, que mantém uma imagem do santo na porta de entrada da sua loja.

O pai de Márcia é fiel devoto. "Os médicos desenganaram meu cunhado. Meu pai disse que Santo Antônio salvaria minha irmã. No mesmo dia, os médicos conseguiram reverter o quadro", contou. A festa promovida por Márcia será no Café Barril, na Avenida Joaquim Nabuco, 5-A, no Varadouro, na terça-feira, e será aberta ao público.

Fé que une duas gerações

A produtora de eventos e jornalista Solange Mendonça herdou de suas avós paterna e materna a devoção fervorosa pelo santo.
 (Marlon Diego/Esp.DP)
A produtora de eventos e jornalista Solange Mendonça herdou de suas avós paterna e materna a devoção fervorosa pelo santo.

As duas avós da produtora de eventos Solange Mendonça, 30 anos, são devotas fervorosas dos santos juninos. Não foi por acaso que seu pai foi batizado de João Batista. "Ele nasceu na véspera de São João. O parto se complicou e ela prometeu que se ocorresse tudo bem ele se chamaria João Batista", contou a jornalista por formação, que trabalha com casamentos. Já a avó materna tinha o hábito de rezar para Santo Antônio e acabou levando o costume para as netas. "Ela viajou para Barbalha, no Ceará, onde há uma grande festa em homenagem a Santo Antônio, e deu de presente a mim e à minha irmã duas imagens pequenininhas. Pediu que a gente as colocasse em um copo com água de cabeça para baixo. Depois que minha irmã fez isso, casou-se em um ano. Minha avó também trouxe um pedaço da lasca de madeira, que a moça deve guardar até conseguir um casamento."

Solange seguiu as recomendações, mas demorou mais para casar. Tendo colocado o santo de "castigo", conseguiu o noivo, mas terminou antes da data marcada para o casamento, em 13 de junho de 2015. "Eu perdi meu Santo Antônio. Peguei emprestado o da minha irmã e no outro ano já estava casada", comentou. Em poucos dias, Solange dará à luz o primeiro filho, João Felipe. "João em homenagem ao meu pai e ao santo e Felipe pelo nome do meu marido", diz.

Celebrações no Convento de Santo Antônio

Sábado, dia 10/6 Missa às 17h
Domingo, dia 11/06 Missa às 17h
Segunda, dia 12/06 Missa às 17h Terça, dia 13/6 Missa às 6h, 8h, 10,12h 15h Benção das crianças e dos lírios 16h Procissão e missa de encerramento
Endereço: Rua do Imperador, 206
Informações: (81) 3224-0493



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