Por: Anamaria Nascimento
Publicado em: 12/06/2017 07:32 Atualizado em: 12/06/2017 07:41
Localizado em uma região marcada geograficamente por morros e ladeiras, o Ibura é uma das localidades mais violentas do Recife. De acordo com o Censo 2010, do IBGE, o bairro tem 50.617 habitantes em um território de 1.125,3 hectares, e o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da capital pernambucana: 0,732. O índice de Boa Viagem, também na Zona Sul, por exemplo, é de 0,974, numa escala que vai de zero, quando não há nenhum desenvolvimento humano, a um, que é o total de desenvolvimento.
Os números se refletiam na realidade encontrada pelos dirigentes e professores da escola. “Quando chegamos à escola, perguntamos aos alunos o que eles esperavam do futuro quando terminassem o ensino fundamental, já que só oferecemos turmas até o 9º ano. Percebemos que eles não se viam estudando em uma boa escola, que não sonhavam e não estavam motivados para o ensino médio e para o ensino superior. O nível de aprendizagem deles era baixíssimo e faltava perspectiva de mudança”, conta o gestor da unidade de ensino, Rinaldo Beltrão.
Os professores deram início, então, a um projeto de aulas de reforço focadas nos conteúdos de língua portuguesa (base para que eles compreendessem outras disciplinas). A iniciativa, que começou em 2013, fez o índice de aprendizagem em português saltar de 11% (2013) para 30% (2015) na Prova Brasil. Agora, os professores focam também em matemática, disciplina cujo índice de aprendizagem na escola é de 1%, também na Prova Brasil. “Para aprender, o aluno tem que estar motivado e esse projeto faz com que eles desejem estudar”, afirma a vice-gestora da escola, Karla Pereira.
No contraturno das aulas, os professores de português e matemática se colocam à disposição, voluntariamente, para tirar dúvidas dos estudantes. Questões de avaliações nacionais são aplicadas, simulados são respondidos pelos alunos, que são estimulados a participarem de processos seletivos de escolas técnicas, como o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE). Desde que o projeto começou, 53 estudantes, sendo 21 só no ano passado, passaram em seleções de cursos profissionalizantes.
“Os professores são guias em todo o processo e não só dando as aulas de reforço. Eles ajudam a fazer a inscrição, levam de carro para as provas, acompanham até a matrícula no novo colégio”, diz Maykon da Silva, 17, ex-aluno da Florestan Fernandes, que está cursando mecânica no IFPE. “Também quero isso para mim e venho a todos os encontros do reforço”, revela Emellyn Andrade, 15, do 9º ano.
Raio x do aprendizado na Escola Municipal Professor Florestan Fernandes:
Média de aprendizado
4,63
Prova Brasil
Português
Proporção de alunos que aprenderam o adequado
na competência de leitura
e interpretação de textos até o 9º ano
2011 14%
2013 11%
2015 30%
Dos 91 alunos, 27 demonstraram
o aprendizado adequado
Matemática
Proporção de alunos que aprenderam o adequado na competência de resolução de problemas até o 9º ano
2011 2%
2013 0%
2015 1%
Dos 91 alunos, um demonstrou o aprendizado adequado
Entenda: 70%
Essa é a proporção de alunos que deve aprender o adequado até 2022, segundo o movimento Todos Pela Educação
Indicador de fluxo da escola
0,93 (significa que a cada 100 alunos, sete não foram aprovados).
Ideb 2015
Média de aprendizado 4,63 x indicador de fluxo 0,93 = Ideb 4,3
Entenda: O Ideb 2015 nos anos finais cresceu, mas não atingiu a meta (4,7) e não alcançou 6,0 (valor referência). Tem o desafio de garantir mais alunos aprendendo e com um fluxo escolar adequado.
Fonte: Prova Brasil 2015, Inep
Escolas federais, técnicas e militares como objetivo
Na educação pública do país, as escolas federais, técnicas e militares são as que apresentam os melhores índices de aprendizagem entre os alunos. Pelo menos em avaliações oficiais. Isso explica o fato de os professores e gestores da Escola Municipal Professor Florestan Fernandes estimularem os estudantes da unidade de ensino a passarem em um processo seletivo de uma dessas modalidades.
Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgados em 2016 sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2015 mostram que as escolas públicas com melhores desempenhos na prova que dá acesso às principais universidades do país formam estudantes desde o primeiro ano do ensino médio e têm maior parte dos professores formada na área que lecionam.
Nove das dez escolas públicas que encabeçam o tiveram melhor desempenho no Enem tinham 80% dos estudantes matriculados na instituição desde o primeiro ano do ensino médio e mais de 70% dos professores formados na disciplina que lecionavam. Sete das dez escolas com as maiores médias gerais eram federais.
Também ficaram bem classificadas escolas militares e técnicas estaduais. Os dados divulgados pelo Inep são referentes aos resultados de 14.998 escolas, isto é, aquelas nas quais pelo menos 50% dos alunos do terceiro ano participaram no Enem e que esse número equivalesse a pelo menos dez estudantes.