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Educação Comunidade judaica se reúne com escola do Recife que divulgou aula com símbolos nazistas Professor de história do Colégio Santa Emília usou bandeiras, suásticas e velas para retratar regimes totalitários

Publicado em: 12/04/2017 15:28 Atualizado em: 12/04/2017 15:35

Depois de a divulgação de uma aula de história do Colégio Santa Emília repercutir nas redes sociais pelo uso de símbolos nazistas como recurso pedagógico, representantes da comunidade judaica de Pernambuco agendaram uma reunião com a direção da escola. O encontro acontece nesta segunda-feira (17).

Na última segunda (10), a unidade de ensino localizada no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, publicou em uma rede social imagens de uma aula de história. Para abordar o assunto, o professor usou várias bandeiras da Alemanha nazista, velas e usou uma suástica no braço esquerdo. "No início da semana, os alunos do 3º ano tiveram uma super aula temática, quase uma superprodução. O tema da aula preparada pelo professor Luiz Fernando abordava as origens dos estados totalitários, suas características, conceitos e formas. Será que eles curtiram? Com certeza!", dizia a postagem da escola particular, que foi apagada após comentários de internautas que questionaram se o horror dos campos de concentração também foi mostrado aos alunos.

A divulgação de fotos da aula na página do Facebook do colégio causou revolta em judeus e descendentes de vítimas dos campos de concentração. "Se você vai dar aula sobre estado totalitário, precisa abordar com senso crítico, que só pode ser feito do ponto de vista do oprimido. Não é o caso aí, onde o professor usou a simbologia nazista bem ao modo como os nazistas usavam. Com a suástica no braço, que crítica o professor poderia fazer ao nazismo que seja mais forte do que a imagem que ele está representando?", questionou um internauta. Outros usuários da rede social comentaram na página da escola que exaltar os símbolos nazistas é proibido por lei.

A legislação federal proíbe o uso de símbolos que utilizem a cruz suástica quando há o objetivo de divulgar o nazismo. Em resposta à comunidade escolar e sociedade após o episódio, o Colégio Santa Emília ressaltou que "quanto às acusações de apologia à divulgação do nazismo, não merecem prosperar. Como já afirmamos e reiteramos, não apoiamos qualquer tipo de regime ou ideologia que coloque desprezo ao ser humano ou alguma forma de vida".

De acordo com a lei federal 7.716, de 1989, é crime "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo". A pena é de dois a cinco anos de reclusão.

Em nota, a Federação Israelita de Pernambuco informou que vai buscar esclarecimentos sobre o fato. "Fomos surpreendidos no dia de ontem (terça-feira, 11) por veiculação nas redes sociais de matéria sobre aula temática no Colégio Santa Emília abordando a origem dos estados autoritários. O ambiente escolar estava repleto de símbolos nazistas e o próprio site da escola se referiu ao evento como 'super aula temática'. A Federação Israelita de Pernambuco está atenta ao fato e irá em busca de maiores esclarecimentos", informou. A reunião entre o colégio e representantes da Federação acontece nesta segunda em horário não divulgado.


Confira a nota de esclarecimento da Escola Santa Emília sobre o assunto:

O corpo administrativo e pedagógico da Escola Santa Emília - Unidade Cordeiro vem a público manifestar-se a respeito da postagem publicada nas nossas redes sociais sobre a aula do professor Luiz Fernando e tranquilizar pais, alunos e a comunidade que confia no trabalho realizado por nós.

1. A aula ministrada pelo professor de história, Luiz Fernando, cujo tema foi regimes totalitários, desenvolveu-se em um ambiente temático, com o intuito de torná-la mais dinâmica e interativa, oferecendo aos alunos uma experiência mais diferenciada.

2. Durante o decurso da aula, segundo relatos dos nossos alunos, em momento algum cogitou-se a possibilidade de defender, pregar ou incitar a ideologia do regime nazista. Pelo contrário, o professor trouxe à tona o horror dos regimes totalitários e o quanto é importante a democracia.

3. Os professores e equipes que compõem esta instituição não compactuam com valores que incitam o ódio, a violência e qualquer tipo de desprezo ao ser humano e outra forma de vida. Acreditamos, sim, como educadores, na potência de crescimento do nosso corpo discente e nos valores democráticos de direito.

4. Decidimos, de forma estratégica, excluir a postagem específica do Facebook, dados os comentários agressivos e lamentamos profundamente que a forma encontrada pelo professor para ministrar a aula tenha sido má interpretada.

5. Quanto às acusações de apologia à divulgação do nazismo, não merecem prosperar. Como já afirmamos e reiteramos, não apoiamos qualquer tipo de regime ou ideologia que coloque desprezo ao ser humano ou alguma forma de vida. No link abaixo, o Dr. Denes Menezes, advogado especialista em direito digital, publicou rapidamente em seu blog um artigo sobre o ocorrido, com base jurídica de referência, demonstrando não haver nenhuma ilicitude na aula do professor: http://www.dmjus.com.br/suasticas-crime-nazismo/.

6. Por fim, queremos agradecer ao apoio e a solidariedade dos pais e dos alunos sobre o ocorrido. De qualquer forma, também queremos pedir desculpas caso alguém tenha se ofendido devido à divergência da intenção do professor em ministrar a aula.

A Escola Santa Emília - Unidade Cordeiro novamente firma o seu compromisso com a educação, os valores democráticos e o respeito ao ser humanos. É dessa forma que acreditamos ser possível fazer do mundo um lugar melhor.



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