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Chega de machismo. Chega de tanta morte

População protesta contra assassinato da fisioterapeuta Tássia Mirela Sena e vai às ruas pedir Justiça

Publicado: 07/04/2017 às 07:26

Não faltam evidências nesse sentido, mas, também, sobra clareza sobre a decisão da sociedade de gritar contra toda forma de machismo. Foto: Facebook/Reprodução/

Não faltam evidências nesse sentido, mas, também, sobra clareza sobre a decisão da sociedade de gritar contra toda forma de machismo. Foto: Facebook/Reprodução/

Não faltam evidências nesse sentido, mas, também, sobra clareza sobre a decisão da sociedade de gritar contra toda forma de machismo. Foto: Facebook/Reprodução

Muitas mães de jovens que moram sozinhas amanheceram aflitas, perguntando às filhas se têm certeza de estar de fato seguras nos lugares onde vivem. É que a incessante cobertura do caso da fisioterapeuta Tássia Mirella Sena de Araújo, 28 anos – que a polícia acredita haver sido violentada e morta pelo vizinho, Edvan Luiz da Silva,32, na madrugada de quarta-feira, em um flat de Boa Viagem – parecia lembrá-las do óbvio: a vítima poderia ser qualquer uma. Num país em que o feminicídio cresce assustadoramente, sem resposta ao menos razoável por parte do poder público, supõe-se que dúvidas assim só sirvam mesmo como indicativo do quanto os pais são ingênuos quando imaginam existir algum ambiente à prova de ameaças para mulheres, afinal, trata-se de uma terra marcada pela misoginia e pela falta de pulso das autoridades no combate à violência de gênero. Na melhor hipóteses, elas são vítimas em potencial de um machismo que passou a vida disfarçado de galanteio, pois, na cabeça dos agressores, levar “cantada” ou “um tapinha”, não dói. Dói, sim, e ao menos nas redes sociais o estardalhaço pedindo providências é grande e capaz de causar arranhões na imagem de qualquer um.

Para além dos protestos nas redes, o caso Tássia Mirella arrastou para o Fórum Rodolfo Aureliano, na tarde de ontem, uma multidão pedindo justiça enquanto o vendedor de cosméticos chegava para a audiência de custódia onde seria decidida a forma como responderia à acusação – se detido ou em casa. Parentes, amigos e pessoas revoltadas com o crime queriam ver Silva privado da liberdade já a partir dali, reflexo de um desejo que acabou revelando o mais alto grau de intolerância, nas redes: não faltou quem escolhesse dar um basta veemente à violência se revelando a favor da instituição da pena capital no país. Justo este, um país onde os poderes se mostram minados por episódios os mais escabrosos e a balança da Justiça está longe de pender com equidade. É, no mínimo, perigoso defender medidas assim quando instituições que zelam pela segurança e a ordem pública são questionadas de cima a baixo, pela falta de seriedade. No entanto, nada parece mais legítimo do que a população dar mostras cada vez maiores de insatisfação ante a apatia do poder público em se manifestar de forma convincente face ao problema. Se as reações são inversamente proporcionais aos desafios, as leis e quem as executa fatalmente caem em descrédito.

Não faltam evidências nesse sentido, mas, também, sobra clareza sobre a decisão da sociedade de gritar contra toda forma de machismo, mesmo aquelas que não resultam em dano físico, mas em dano moral. O pepino mais recente vem sendo descascado pelo veterano ator José Mayer, 67, que assediou a figurinista da Rede Globo Su Tonani, 28, tratando-a, diante da recusa em aceitar o assédio, com palavras grosseiras. A moça trouxe o assunto a público e os estragos causados pela campanha envolvendo o episódio (Mexeu com uma, mexeu com todas) foram tamanhos que embora o galã tenha reconhecido a agressão, foi suspenso pela emissora, o mesmo acontecendo com o apresentador Otaviano Costa, neste caso, afastado do programa Vídeo Show por apenas um dia. Com o caldeirão de críticas contra Mayer fervendo, Costa achou de brincar no estúdio depois de assistir a uma cena de machismo exibida durante o Big Brother Brasil.

Os casos de misoginia se sucedem no país e quando repercutem de forma estrondosa nas redes sociais, os protestos, infelizmente, sempre encontram do outro lado da tela alguém disposto a classificá-los como “mimimi” ou muito barulho por nada. Estas pessoas, também, deveriam ser punidas de alguma forma, porque apoiam e acabam incentivando a violência de gênero, um crime que responde por estatísticas terríveis. Agindo assim elas não se diferenciam tanto dos agressores e deles, a parte decente do país deseja se ver livre.
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