Vida nova Chalé do Prata será restaurado e ganhará museu sobre a água Casarão foi erguido no século 19 no Parque Dois Irmãos

Por: Ana Paula Neiva - Diário de Pernambuco

Publicado em: 21/04/2017 08:26 Atualizado em: 21/04/2017 08:28

Quem entra no Parque de Dois Irmãos e segue em frente logo vê, do lado esquerdo, o Açude do Prata. À margem mais distante do manancial, um antigo casarão decora a paisagem. O Chalé do Prata, como ficou conhecido, foi construído no século 19. Em estilo eclético de influência inglesa, o imóvel passará por uma completa restauração. Os trabalhos devem começar até junho. Após a obra, a área vai servir de sede administrativa da unidade de conservação, abrigará ao Museu da Água, será base da polícia ambiental e terá alojamento para pesquisadores.

A área pertence à Compesa, mas desde setembro de 2014 foi repassada à administração do Parque de Dois Irmãos, vinculado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente. A execução será acompanhada pala Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), uma vez que o imóvel é tombado desde 1991. A previsão é que os serviços sejam concluidos em até um ano.

Os trabalhos de restauro estão orçados em R$ 1,8 milhão, com recursos provenientes de compensação ambiental, pagos por empreendimentos que causaram grande impacto no estado. Encravado numa área de mata atlântica, o imóvel encontra-se completamente abandonado. Sem paredes internas, com colunas derrubadas, sem telhado e com pintura pichada, o casarão passará por reforma em etapas. A obra deve começar pelo cercamento do canteiro.

O imóvel tem telhados ornamentados, terraços laterais e piso de madeira nos dois andares. “O piso está todo estragado. O teto também é pouco. Vamos ter que recuperar quase tudo”, explicou o gestor do zoológico, George Rêgo Barros.
A obra já deveria ter começado, mas devido aos trâmites burocráticos houve atrasos. O plano de manejo, instrumento obrigatório que define o tipo de intervenção e atividades que serão desenvolvidas, já foi concluído. “Já registramos o termo de referência para licitação, também a licença ambiental junto à Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH). Falta apenas a licença de construção pela Dircon, que estamos aguardando o trâmite com a Prefeitura do Recife, e a do Corpo de Bombeiros”, explicou.

O casarão está localizado dentro da maior área de preservação urbana do meio ambiente ao norte do Rio São Francisco. O chalé tem 500 metros quadrados de área e está inserido dentro da Unidade de Conservação do Parque de Dois Irmãos, que em 2012 foi ampliada de 387 para 1.161 hectares. O casarão foi erguido em 1842 pela Companhia do Beberibe, responsável pela captação de água do Açude do Prata. O manancial é ponto de captação de maior pureza na Região Metropolitana.

Fonte de lendas coloniais

Mesmo erguido durante o Império, o chalé e seu entorno são fontes de histórias que remetem ao período colonial. Uma delas versa sobre uma dona de engenho chamada Branca Dias, que, perseguida por ser judia, teria jogado suas baixelas de prata no açude antes de morrer. O nome do manancial surgiu dessa tradição. O historiador Leonardo Dantas Silva esclarece que muitas versões envolvendo a dona do engenho são lendas, inclusive a de que Branca Dias teria morado no imóvel. “Ela viveu até a metade do século 16 e o imóvel é do século 19”, explica.
Outra história desmistificada por Dantas Silva é de que Branca teria sido condenada pela inquisição. “A inquisição chegou a Pernambuco em 1593, quando ela e o marido já estavam mortos. As filhas do casal participaram do processo, mas nunca foram queimadas vivas”, observou. Mais detalhes estão no livro Gente da nação, de José Antônio Gonçalves de Melo, que conta a passagem de cristãos-novos e judeus em Pernambuco, entre os anos 1542 e 1654.

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