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Saúde Alerta para os perigos do óleo de coco Especialistas ressaltam que produto não tem benefícios comprovados e gera série de riscos à saúde

Por: Mariana Fabrício - Diario de Pernambuco

Publicado em: 09/04/2017 14:47 Atualizado em:

Produto vendido no mercado não tem amparo em pesquisas. Foto: Thalyta Tavares/Esp.DP
Produto vendido no mercado não tem amparo em pesquisas. Foto: Thalyta Tavares/Esp.DP

Vendido em casas de produtos naturais, supermercados e até farmácias, o óleo de coco se tornou um produto intensamente procurado por quem deseja emagrecer sem muito esforço. Usado para fins estéticos e dietéticos, o produto tem sua eficácia questionada por especialistas. Nesta semana, a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) emitiu comunicado afirmando que não há estudos que comprovem os benefícios prometidos pela indústria de alimentos e que, se ingerido em grande quantidade, o óleo pode causar aumento do colesterol total, contribuindo para o maior risco cardiovascular.
Outros órgãos, como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), também se posicionaram contra a prescrição do óleo para tratamento da obesidade, doenças neurodegenerativas ou nutriente antimicrobiano e imunomodulador. As entidades concordam que a substância não tem efeito antibacteriano, antifúngico ou antiviral.

“Inúmeros pacientes chegam ao consultório já fazendo uso porque seguem famosos que misturam óleo de coco no alimento. Eles tomam de colherada e acabam tendo alterações no nível de colesterol. Uma das justificativas é que acelera o metabolismo, o que também não é comprovado. A medicina é baseada em evidências, algo que não existe quando consideramos os efeitos desse tipo de óleo”, esclarece a endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional Pernambuco, Maria Amazonas.

Uma analista contábil de 24 anos, entrevistada pelo Diario, costuma tomar uma colher de sopa do óleo por dia e também aplica nos cabelos para hidratar. A rotina já dura dois anos. “Comecei a ver vídeos, fiquei curiosa e comecei a colocar no meu dia a dia. Desde então, notei meu cabelo mais macio e percebi que meu intestino ficou mais regulado”, comenta. Apesar de não fazer acompanhamento nutricional, ela diz que não vai mudar seus hábitos. “Alguns médicos que vi pela internet recomendam, já outros não apoiam. Eu entendo que existem prós e contras e vou continuar usando”, opina a analista que já chegou a gastar R$ 50 em meio litro do produto.

De acordo com o médico nutrólogo da Associação Brasileira de Nutrologia Nelson Iucif Junior, não existem estudos clínicos que aprovem o uso do alimento para fins terapêuticos. “O óleo de coco possui 80% de gordura saturada, o que aumenta o colesterol total, e não existe suporte científico indicando que ele traga qualquer benefício. Algumas pessoas procuram por milagre para emagrecer. Na internet, como fosse uma terra sem lei, circulam informações de gente que não tem título de nutrólogo, mas utiliza canais, como o YouTube, sem base em evidências. É importante o acompanhamento de um profissional, assim como também é necessário filtrar o que se lê sobre saúde na rede”, alerta.

Quando comparado a outros óleos, Iucif conta que o azeite sai na frente quanto aos benefícios à saúde. “O óleo de oliva é rico em ácidos graxos monoinsaturados, antioxidantes e ômega 9. Ainda assim, deve ser consumido de forma moderada, porque, como toda gordura, provoca aumento de peso. E quando aquecido, perde propriedades”, diz.

O óleo de coco é feito pela extração da polpa do fruto maduro e formado por ácidos graxos saturados e insaturados. Normalmente, é usado no preparo de sorvetes e receitas de confeitaria por ser resistente à oxidação. Segundo a professora do Centro de Nutrição da UFPE Conceição Chaves, é necessário investir em estudos para indicar consumo adequado. “Há escassez de evidências científicas e o uso do óleo de coco já está inviabilizado. Esse é o tipo de óleo cuja gordura saturada se acumula nas artérias e pode obstruir os vasos. As pessoas aderem aos modismos de forma rápida, mas se o desejo é de emagrecer, como pode ingerir a gordura do coco? Nesse caso, o mais indicado é consumir carboidratos”, recomenda.

O produto

* Obtido a partir da polpa do coco fresco maduro (Cocos nucifera L.)
* Composto por ácidos graxos saturados (mais de 80%) e ácidos graxos insaturados

Estudos comprovam:
- Associação com o aumento do colesterol
- Não tem propriedades terapêuticas (contra Alzheimer ou doenças cardiovasculares)
- Não previne doenças crônicas, como quadros neuro-degenerativos, obesidade e
dislipidemia

Estudos não comprovam:
- Benefício para a pele (não possui substância antibacteriana, antifúngica ou antimicrobiana)
- Melhora na aparência dos cabelos (não indicado para quem tem caspa ou raiz oleosa)
- Emagrecimento (não existe suporte científico que comprove a associação do óleo de coco à perda de peso).

Fonte: ABRAN

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