Desafio Usuários dos ônibus querem viajar sem se preocuparem com assaltos Mais do que o preço da passagem, o conforto e a regularidade das linhas, a maior reclamação dos passageiros é em relação à falta de segurança dentro dos coletivos

Por: Tânia Passos - Diário de Pernambuco

Publicado em: 17/01/2017 06:55 Atualizado em: 17/01/2017 15:08

Medo é um dos incômodos que acompanham os usuários diariamente. Foto: Allan Torres/Esp. DP
Medo é um dos incômodos que acompanham os usuários diariamente. Foto: Allan Torres/Esp. DP

No primeiro dia útil de vigência da nova tarifa dos ônibus da Região Metropolitana do Recife, cujo Anel A passou para R$ 3,20, usuários do sistema ainda expuseram sua insatisfação. Contudo, mais do que o preço da passagem, o conforto e a regularidade das linhas, a maior reclamação dos passageiros ouvidos ontem pelo Diario foi em relação à falta de segurança dentro dos coletivos. Já foram registrados, na primeira quinzena do mês de janeiro 136 assaltos, segundo o Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco. Os números do mês ainda não foram fechados pela Secretaria de Defesa Social (SDS), que divulgou 1.222 assaltos a ônibus em 2016 na Região Metropolitana.

O analista de sistemas Edson Matias, 36 anos, acompanha e contabiliza os assaltos pela imprensa. Segundo ele, que sai do segundo emprego às 22h para pegar o ônibus, o medo de ser assaltado é diário. “Eu ando com dois celulares. Um do “dono” e o meu. Uma vez, entreguei o celular velho para o ladrão e ele devolveu. A sorte é que não fez nada comigo, mas mandou eu comprar um mais novo e com WhatsApp”, revelou.

“A gente paga mais e não tem garantia de nada. Todos os dias eu saio de casa com medo de ser assaltada dentro do ônibus”, reclama a universitária Jenifer Cosmo, 31 anos.  Embora a segurança pública não seja, diretamente, um problema de mobilidade, os assaltos constantes começam a mudar essa lógica. Para o especialista em mobilidade urbana e professsor de transporte no Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maurício Andrade, o usuário paga por um serviço que não recebe. “Nem o estado consegue levar segurança nem as operadoras de ônibus oferecem segurança aos seus clientes. O usuário é o elo mais frágil e não tem a quem reclamar”, ressaltou Maurício Andrade.

Entre as medidas adotadas pelo Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano para coibir os assaltos está a de exigir a instalação de quatro câmeras por veículo para garantir uma melhor imagem dos assaltantes nos ônibus e facilitar o trabalho de inteligência da polícia. Da frota de 2,8 mil ônibus, 1,4 mil dispõem de câmeras em quatro ângulos diferentes no veículo. O restante da frota deverá se adequar ao modelo neste ano.

Dentro do balanço da SDS, há um total de 42 mil abordagens a coletivos no ano passado e 92 pessoas conduzidas às delegacias. Durante as ações nos coletivos foram apreendidas 36 armas entre revólveres e facas, Já a Força- Tarefa da Polícia Civil contabilizou em cinco meses, 24 inquéritos e realizou 78 diligências com um total de 104 pessoas ouvidas.

De acordo com a SDS, o trabalho resultou em 16 prisões. Sem fechar os números do mês de janeiro deste ano, a pasta não avalia se houve aumento nos assaltos em relação ao mesmo período do ano passado. A sensação, no entanto, de quem precisa usar o sistema diariamente, é de que as abordagens estão mais constantes. “No primeiro fim de semana de janeiro foram 14 assaltos e no último fim de semana foram 34. Não tem como a gente se sentir seguro”, afirmou o analista Edson Matias.

Perda de 10% na clientela
Com uma perda de 10% no número de passageiros, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Urbana-PE), o desafio de atrair novos usuários ou recuperar os que se afastaram é uma tarefa difícil de ser alcançada, pelo menos a curto prazo. A melhoria na qualidade vai além da capacidade das operadoras. Passa, na verdade, por todas as áreas. Segurança, iluminação, calçadas, paradas acessíveis, faixas exclusivas e ainda linhas que atendam às demandas de deslocamentos.

Nos dados nacionais, os números não são diferentes. De acordo com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), a queda no número de passageiros é de 9%, em média, comparando os anos de 2014 e 2015. Os dados são baseados em nove das principais capitais brasileiras (Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). “Precisamos andar mais rápido. Se fizerem corredores exclusivos, o transporte será mais rápido e atrativo. O quadro de perda no país no número de passageiros já chega a 30 milhões de passageiros”, afirmou o presidente do Urbana-PE, Fernando Bandeira.

No caso do Recife, além dos assaltos, os ônibus ainda não são prioridade na maioria dos corredores de transporte. Os atrasos e a lotação dos horários de pico também estão entre as reclamações. “Eu sempre pego ônibus da linha de Piedade e, independentemente do horário, eles estão sempre cheios”, reclamou Cláudio Coelho, 45 anos, funcionário público. A regularidade das viagens, prejudicada com a falta de corredores exclusivos, também está fora do alcance do sistema de monitoramento das viagens, que ainda não foi inaugurado pelo Grande Recife.

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