Local Diario urbano: Por Santo Amaro Desde a madrugada, os fiéis chegaram aos milhares ontem no distrito de Santo Amaro, em Sirinhaém

Por: Jailson da Paz

Publicado em: 16/01/2017 07:19 Atualizado em:

Pedinte e devoto. Ivaldo Barbosa une as duas coisas nesta época do ano em frente à Capela de Santo Amaro. De Abreu e Lima, na Região Metropolitana, o cadeirante viajou 98 quilômetros até o lugar do templo, o Distrito de Santo Amaro, em Sirinhaém, na Mata Sul. Ivaldo desembarcou no sábado. Posicionou a cadeira de rodas junto à porta principal da igreja, donde saiu apenas ao fim da cerimônia de encerramento da festa no começo da noite deste domingo. Estava com os cabelos e a barba espetados. 

Enrijecidos pela ação da poeira e do suor. E satisfeito. Tinha algumas dezenas de reais no bolso e havia cumprido duas tradições herdadas da mãe, falecida, as de pedir graças ao santo e de pedir esmolas aos romeiros. Os fiéis chegaram aos milhares ontem no distrito, desde a madrugada. Chegaram a pé, vindos de municípios vizinhos, em ônibus e vans, vindos de cidades do interior pernambucano, alagoano e sergipano. Muitos tiveram que subir andando a ladeira de acesso a Santo Amaro, uma estrada asfaltada e sem acostamento pavimentado, pois no topo do monte, local da igreja, ruas e caminhos de barro estavam tomados de automóveis. Vencer a altura de um caminho de quase dois quilômetros, sob o sol, era resposta da fé. Ao chegar à capela, rezaram e deram esmolas. Parte das moedas ficou com Ivaldo.

Brasão na fachada 
As cores da Capela de Santo Amaro raramente mudam. Branco ao fundo e ocre nas linhas em alto relevo, como as dos festejos religiosos deste ano. Entre as partes em alto relevo, degraus, colunas, contornos de portas e janelas, flores, folhas, coração - o Sagrado Coração de Jesus - e brasão, que exibe a data em que se construiu o templo: 1796.

Força do tempo
Na capela, o altar-mor pede socorro. A ação do cupim fica evidente a quem se aproxima da peça para fazer orações. O contorno dos nichos dos santos - Jesus no topo e Santo Amaro no meio do altar - perdeu pedaços e o dourado já não possui o brilho do ouro em pó empregado originalmente na capela.

Grade metálica
Por conta da violência, os administradores da paróquia a que pertence a Capela de Santo Amaro ergueram um muro, de grade metálica, na lateral do templo voltada para a praça do distrito. Ganhou a segurança. E se acresceu algo estranho aos traços originais da igreja.

Iguarias da terra
Em dias de festa, a exemplo de ontem, a rua principal de Santo Amaro e de acesso à capela, a Cardoso da Fonte, ganha parque de diversão, barracas de guloseimas e de artigos religiosos, além de uma feira gigante. Na feira, entre roupas e panelas, tradições culinárias do lugar - caranguejo, peixe assado e farinha de castanha de caju.

Lombo de cavalo
A quantidade de romeiros não é contada. Alguns arriscam: cinco mil na procissão. Outros, 10 mil nas missas. Gente como Severina Flor dos Santos, 74 anos. Na infância, ela saia de Escada, na Mata Sul, a pé e em lombo de cavalo, em companhia dos pais, para Santo Amaro de Sirinhaém. Eram de dois a três dias de viagem. Agora vai de carro.

Apenas cochila
Para acolher a multidão de romeiros, moradores de Santo Amaro integram a comissão de festa. Severina Gercina da Silva, 67, faz isso há quatro décadas. Da véspera para o dia da festa, ela quase não dorme. Ajuda na limpeza e na decoração. 


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL