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Projeto Alunos do Ibura criam peixes e plantam horta em escola de referência Estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio Apolônio Sales produzem alimentos e conhecimento

Por: Anamaria Nascimento

Publicado em: 16/01/2017 07:06 Atualizado em: 16/01/2017 07:14

Terreno que fazia parte do colégio foi transformado em horta escolar. Foto: Marlon Diego/Esp.DP
Terreno que fazia parte do colégio foi transformado em horta escolar. Foto: Marlon Diego/Esp.DP

As opções de proteína na merenda da Escola de Referência em Ensino Médio Apolônio Sales, no Ibura, eram limitadas. A quantidade restrita de verduras no cardápio fazia muitos estudantes ignorarem o sabor de folhas e legumes que só conheciam de nome. A realidade na cantina da unidade escolar e na mesa dos alunos mudou depois que o professor de biologia Ademilson Bispo resolveu unir o conhecimento abordado na disciplina que leciona à necessidade de transformar os hábitos alimentares dos quase 800 adolescentes da escola.

Em junho de 2016, duas piscinas de 6,5 mil litros cada foram instaladas em uma área ociosa do colégio. Nelas, os estudantes, sob a orientação do professor, colocaram 30 peixes. Também levaram plantas aquáticas para reproduzirem o habitat natural das tilápias - espécie de água doce que escolheram criar. Com a experiência, aprenderam sobre ecossistemas, pesquisaram sobre os tipos de peixes existentes e estudaram ecologia. Além do conhecimento teórico, ajudaram a escola, fornecendo alimento para a cozinha. A próxima “fornada” de peixes do viveiro da Apolônio Sales sai em abril deste ano. “Vamos consumir na comemoração da Semana Santa”, explica o professor.

Os ensinamentos não ficaram apenas na disciplina que deu início ao projeto. Mais do que os conhecimentos em biologia, os alunos foram estimulados por professores de outras disciplinas a usarem a experiência. Com o professor de matemática, calcularam a biomassa dos peixes. Em química, analisaram a qualidade da água das piscinas. “Os estudantes que participam produzem conhecimento a partir da prática. Eles conseguem ver o que é dito em sala de aula com os próprios olhos. Projetos como esse melhoram a comunicação entre as turmas e a autoestima dos alunos”, ressalta Ademilson Bispo. 

Depois de comprovar a eficácia do viveiro de peixes como ferramenta pedagógica, alunos e professor migraram para outra área disponível da escola. Um terreno que fazia parte do colégio, mas que não era usado pela comunidade escolar e que servia de depósito irregular de lixo pelos moradores do entorno foi transformado em horta escolar. Amendoim, abóbora, macaxeira, quiabo, tomate, milho, mamão, batata doce, inhame, banana e cajá são alguns dos itens que podem ser encontrados no espaço. “Participar desse projeto melhorou meu rendimento, me tornou mais comunicativa e também mudou minha forma de consumir alimentos. Hoje, tenho uma horta também em casa. Já plantei coentro, cebolhinho e tomate”, conta a estudante Isabela Albuquerque, 16, que pretende cursar ciências biológicas quando concluir o ensino médio.
 
O protagonismo levado a sério no ambiente escolar
Nos corredores da Escola Apolônio Sales, os estudantes que participam dos projetos de horta e do viveiro são referência para os demais colegas. Eles fazem parte de um grupo de adolescentes conhecidos na escola como Alunos Protagonistas. Essa denominação para estudantes que ajudam os professores em atividades na sala de aula e os gestores em eventos escolares é comum nas escolas de tempo integral da rede estadual de ensino.

Entre as atribuições do aluno protagonista estão acolher os novatos, organizar as feiras de ciência, controlar as atas em reuniões de pais e professores além de estimular as turmas a participarem de projetos pedagógicos. “Esses alunos não se limitam a assistir aulas, fazer exercícios e obter notas. São voluntários que acabam recebendo responsabilidades dentro da escola”, explica o gestor da Apolônio Sales, Marcos Antônio de Souza. Na escola, 50 dos 780 estudantes são alunos protagonistas. “É uma grande honra poder ajudar a escola mais efetivamente. Os professores e diretores lançam ideias e cabe a nós executar, levando informações e estímulo a outros estudantes”, afirma Tainá Hilário, 14, uma das protagonistas da unidade de ensino.

O modelo adotado na escola do Ibura é uma das ações que faz parte da proposta pedagógica das escolas de referência da rede estadual de ensino. Criada pela Secretaria de Educação do Estado, a ação é fundamentada na concepção da educação interdimensional, que tem como base o protagonismo juvenil como estratégia para a formação de estudantes autônomos, competentes, solidários e produtivos.


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