Vidas dedicadas aos animais Criadouros de animais exóticos têm desafio que vai além da burocracia para obter autorização para criá-los

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 10/12/2016 09:28 Atualizado em:

Para a agente de viagens Juliana Carvalho, o desejo de criar um furão só pôde se tornar realidade quando ela se mudou para São Paulo. “Sempre tive vontade de ter um, mas no Recife não tinha”, comenta. Ela foi a um veterinário especializado para saber informações sobre a espécie e decidiu criar o primeiro roedor. Logo depois, adquiriu outro. Oito anos se passaram e hoje, Farofa, ainda vivo, é seu melhor amigo e a dupla chega a dormir junto todas as noites. “Costumo dizer que ele tem o silêncio do gato com a alegria do cachorro. Eles não atendem pelo nome, mas são muito amigáveis”, brinca.
A dificuldade de encontrar animais exóticos em Pernambuco envolve vários tipos de bicho e atinge também a oferta desses animais. E os criadouros que existem enfrentam vários trâmites legais para nascerem. Um exemplo é o criadouro Caetés. Foram cinco anos de investimentos até ter autorização oficial para passar a existir. Negociações, vistorias e muita papelada foi necessária para que o local, onde é possível encontrar até mesmo aves em risco de extinção, pudesse ser aberto, ainda no ano 2000. Distantes do centro do município de Igarassu, os quase 200 viveiros hoje abrigam cerca de 600 aves, algumas delas, a exemplo do papagaio cinza do Congo ou o Lori australiano, valendo milhares de reais.
Uma série de preocupações envolve quem se aventura nesse ramo. Entre os alimentos preferidos dos pássaros estão manga, maçã e jiló. Caixas são compradas semanalmente para alimentação e o veterinário faz visitas periódicas. Junto a manutenção de gaiolas e pagamento dos funcionários, o custo mensal chega a R$ 12 mil.
O controle dos animais é feito em espaços de reprodução, incubadoras e conta com a ajuda de uma caderneta de atividade de cada espécie. Os filhotes são marcados com um número de triagem, requerido pelo Ibama, e os compradores passam por um processo de orientação para dar a melhor estrutura aos bichos. Quem cuida deles assegura: “Nenhum é agressivo, todos são tranquilos desde que você manuseie-os de forma adequada”, diz o proprietário do Caetés, que preferiu não se identificar.
A professora de inglês Renata Sturlini é dona de quatro espécies diferentes de aves e garante que elas podem ser tão carinhosas quanto os tradicionais animais domésticos. Escolheu os animais silvestres porque a cachorrinha de estimação, da raça Shi-Tzu, não aceitava um companheiro de quatro patas. Em pouco tempo, se apaixonou. Hoje, conversa, brinca e tira até “selfies” com eles. O custo, tanto para adquirir quanto para cuidar dessas aves, porém, é grande. “Em Pernambuco, é difícil achar rações e sementes de qualidade, então trago do interior de São Paulo. As visitas de veterinário, feitas a cada três meses, também são um investimento alto”, conta.
Na cidade de Rio Formoso, Mata Sul do estado, quem cuida de quase 100 serpentes, lagartos e tartarugas é a veterinária Luciana Rameh. Em 2003, criou um viveiro com o marido, o biólogo Alex Zanotti, no estado de São Paulo. Em 2007, mudaram-se para Pernambuco e precisaram esperar três anos para legalizar a situação com o Ibama. Seu viveiro, no entanto, serve de “refúgio de preservação”, em vez de ponto de vendas. Entre os destaques está a tartaruga-aligator, de água doce e considerada um dos animais com a aparência mais próxima dos dinossauros.
Mas a licença obtida, na verdade, sequer permite a cobrança de ingressos para visitação dos animais, significando que ela precisa tirar os cerca de R$ 600 mensais para manter as instalações e pagar a alimentação dos bichos, de maioria carnívora, do próprio bolso. “Sou veterinária e meu marido é biólogo, então não preciso contratar ninguém pra cuidar desses animais, mas se não tivéssemos essas profissões seria impossível”, afirma.
 
Criadouros estimulam a reprodução 
 
Há licenças específicas para os locais autorizados a criar espécies raras em Pernambuco e nem todas necessariamente envolve o comércio dos animais. Em alguns casos, é possível que a casa os crie para a exposição enquanto em outros, a intenção é puramente a manutenção da espécie.
 
Paixões e tratamentos fora do comum
 
Mesmo os veterinários precisam pensar “fora da caixa” na hora de lidar com as necessidades de animais exóticos criados como bichos de estimação, o que inclui soluções criativas para contornar suas limitações


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