Professor Familiares e ex-alunos se despedem do professor Rubem Franca Ele morreu nesta madrugada, aos 93 anos, depois de uma série de complicações cardíacas que sofria há alguns anos

Por: Ketheryne Mariz

Publicado em: 21/12/2016 18:01 Atualizado em: 21/12/2016 19:10

Velório do professor Rubem Franca. Foto: Amanda Oliveira/Esp.DP (Velório do professor Rubem Franca. Foto: Amanda Oliveira/Esp.DP)
Velório do professor Rubem Franca. Foto: Amanda Oliveira/Esp.DP

"Um dia fui buscar meu pai onde ele ensinava e enquanto subia para entrar na sala de aula em que ele estava escutei uns barulhos estranhos e uma gritaria. Ao abrir a porta, encontro meu pai do outro lado da mesa enquanto os alunos o bombardeavam com bolas de papel. Ele me viu entrando e gritou 'Vem Guilherme, estamos na Segunda Guerra Mundial'", contou o filho de Rubem, o médico Guilherme Franca.

"Ó capitão! Meu capitão!". A frase célebre do filme Sociedade dos Poetas Mortos pode resumir o sentimento dos que foram dar o último adeus ao professor de História Rubem Franca. Ele morreu nesta madrugada, aos 93 anos, depois de uma série de complicações cardíacas que sofria há algunsanos. Amigos, ex-alunos e familiares foram ao velório do mestre no Cemitério Morada da Paz, em Paulista.

Seguindo a carreira acadêmica, Franca lecionou na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), no Ginásio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco, Colégio Santa Maria, Colégio e Curso Radier, Colégio Padre Felix (extinto), entre outros. Além de historiador, também era formado em Medicina pela Universidade do Recife e especializou-se em cardiologia no Hospital Matarazzo, São Paulo. No Recife, ele exerceu a profissão durante 40 anos no Hospital da Restauração.

Reconhecido internacionalmente pela sua especialidade na vida e obra de Luís de Camões, ele memorizou a exegese dos 8.816 decassílabos de Os Lusíadas.  Até mesmo o governo de Portugal o homenageou, em 1987, pelo conhecimento que tinha da obra. Uma mente inquieta que percorreu as ruas do Recife e desenhou casas, monumentos, placas comemorativas e pontes. Dedicou parte da vida à astronomia tendo estudado as 88 constelações do universo. Além disso, frequentava a Sociedade Astronômica do Padre Polman. O primeiro infarto que sofreu foi depois de perder um processo por causa do seu embate à Astrologia.

Professor, escritor, médico, recitador, interpréte e também andarilho. "Segui junto ao meu pai, no ano de 1978, andando do Recife até João Pessoa, na Paraíba. Fomos andando e dormindo onde dava. Não é porque ele é meu pai, mas ele era incrível, um pai presente e uma pessoa maravilhosa", disse o filho e professor Rubem José da Fonte Franca.

As histórias faziam parte da vida do professor de diversas formas: contadas, declamadas ou interpretadas. Dentre os comentários a respeito de um professor dito por muitos como inesquecível, um dia ele teria se vestido de Napoleão durante uma aula. "Estudei no colégio Radier entre 1975 e 1977. Muitas aulas de Rubem ficaram marcadas. Ele mudou a forma como eu via a história. Compro inúmeros livros e sempre lembro dele. Na época, tinha 15 anos quando ouvi o Sermão das Montanhas. Me lembro até hoje", contou o desembargador André Genn.

O professor deixa sete filhos e centenas de alunos inspirados em sua vida e na de Camões. Nas redes sociais, diversos ex-alunos comentaram a respeito da morte do professor: "O universo do conhecimento se abriu de uma forma brilhante, emocionante e veloz no dia da minha primeira aula com o Professor Rubem Franca! A ele agradeço pelo meu amadurecimento como estudante e como pessoa, pelo meu gosto pela investigação, pelo conhecimento, pela leveza e encanto pela vida. Querido professor, um forte abraço e sei que seguirás em busca do conhecimento e da verdade por toda eternidade”, escreveu o ex-aluno Christian Costa Villarreal no Facebook.

 

Em nota, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, emitiu pesar pelo falecimento do professor Rubem. “Quero me solidarizar com os familiares, amigos e admiradores do professor Rubem Franca. O professor nos legou uma longa e profunda produção intelectual, especialmente sobre a obra de Luís de Camões, um trabalho que teve o reconhecimento da Academia e dos seus pares, dentro e fora do Brasil”, escreveu.



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