Educação Professor de história de escola de rede estadual incentiva alunos na produção de filmes Mais luz, câmera e educação

Por: Anamaria Nascimento

Publicado em: 26/09/2016 15:40 Atualizado em:

Produção cinematográfica dos estudantes é tão intensa que festival já na segunda edição premia melhores trabalhos. Foto: Anderson Freire/Esp. DP
Produção cinematográfica dos estudantes é tão intensa que festival já na segunda edição premia melhores trabalhos. Foto: Anderson Freire/Esp. DP
A câmera que o professor Wilson Falcão exibe com orgulho está com o visor rachado. O cartão de memória já está cheio e falta um computador com recursos de edição para finalizar os vídeos. Nada disso parece desanimar o professor de história da Escola de Referência em Ensino Médio Jornalista Trajano Chacon. Como se não enfrentasse problemas típicos da educação pública com equipamentos quebrados e falta de estrutura física, ele chama os alunos para “viajarem” juntos. Os devaneios dos estudantes se materializam em filmes e é por meio do diálogo entre cinema e história que o professor faz os alunos se apaixonarem pela matéria que leciona.

“O cinema é como uma viagem. Podemos estar aqui fisicamente e nos transportar para outros lugares com a mente. É isso que fazemos”, diz o professor. Além de assistirem a obras cinematográficas, os estudantes produzem os próprios filmes curta-metragem. As películas dialogam com os conteúdos trabalhados em sala, mas os adolescentes têm total liberdade para executarem as filmagens. “A principal vantagem de trabalhar com cinema na escola é estimular o olhar crítico dos estudantes. Eles dialogam com outros saberes e desenvolvem uma visão mais analítica sobre as questões não só na escola, mas para a vida”, pontua Wilson.

O desejo de levar a sétima arte para o cotidiano escolar era uma vontade antiga do professor. Durante a infância, Wilson viu o pai comprar o cinema da cidade onde nasceu, Brejo da Madre de Deus, no Agreste do estado. Foi no Cinema Carlos Gomes que o pequeno Wilson aprendeu as primeiras lições ensinadas pelos filmes. “Cresci vendo as exibições. O cinema sempre esteve presente em minha vida e proporcionou o prazer do conhecimento”, conta.

A paixão pelo cinema que passou de pai para filho agora é passada de professor para alunos. “As aulas do professor Wilson são inesquecíveis, marcantes. Não dá para esquecer o que ele diz porque não precisamos decorar. A escola tem tantas regras, mas nas aulas com cinema, somos livres para criar e aprender brincando”, afirma a estudante do 2º ano do ensino médio, Débora Dantas, 16 anos.

A aprendizagem é tão divertida que faz o ex-aluno João Felipe Ferreira, 18, voltar à escola só para continuar aprendendo com o “mestre cineasta”. “Concluí o ensino médio no ano passado, mas me sinto muito bem aqui. Venho ajudar o professor e os alunos e fazerem os filmes. Já pensei até em fazer pedagogia só para trabalhar aqui com o professor Wilson e a equipe da escola, que é muito boa”, revela João, que está organizando com o professor a segunda edição do Festival de Mini Curtas EREM Jornalista Trajano Chacon.

No primeiro ano do festival, em 2015, o curta editado por João Felipe (Getulio contra Lampião) foi filme escolhido pelo juri popular  - formado pelos alunos da escola - como grande vencedor.    

Projeto leva a sétima arte para sala de aula  


Transformar a realidade dos estudantes por meio do cinema é uma missão não só da Escola Jornalista Trajano Chacon, mas de toda a rede estadual de ensino. Para isso, o projeto cineCabeça, fruto de parceria entre a sociedade civil e o governo estadual, disponibiliza a sétima arte como instrumento de transformação através do tripé educação, cultura e sociabilização.

No campo da educação, o cineCabeça dá suporte ao trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula, estimulando a reflexão dos participantes e ampliando a maneira como os estudantes veem o mundo. “Ir ao cinema na hora da aula faz toda a diferença para esses alunos. Eles veem os filmes, e os professores trabalham os assuntos em sala de aula. Isso gera um aprofundamento da construção do conhecimento”, afirma a gestora do projeto, Andréa Mota. Atualmente, o cineCabeça é realizado com 90 escolas públicas da Região Metropolitana do Recife.

O projeto é dividido em três diferentes ações. A primeira delas, “Educativa”, recebe alunos do ensino fundamental 2 e do ensino médio e para sessões cinematográficas no Cinema São Luiz. A outra ação, “Cineclubista”, acolhe o público em geral em exibições semanais no Teatro Arraial seguidas de debates, além de realizar oficinas que ensinam professores e estudantes como montar e manter um cineclube na comunidade. Há ainda a “Iniciação Audiovisual”, que tem como objetivo inserir os estudantes no mercado de trabalho através de uma grade curricular que engloba as etapas da produção audiovisual.

Cinema na escola

Veja como introduzir o tema nas aulas e como incluir a sétima arte em quatro disciplinas: língua portuguesa, história, arte e sociologia.

Introduzindo a temática

Explicar aos alunos que irão  realizar uma pesquisa sobre as experiências com cinema na educação e dialogar sobre a sua utilização como ferramenta pedagógica e não somente como entretenimento. Podem participar deste projeto professores de português, história, sociologia e artes.

Para motivar os alunos sobre a temática, apresente o filme Tapete vermelho  (100 minutos).

Na sequência, trabalhe as preferências dos alunos sobre cinema. Peça que os alunos respondam individualmente as seguintes questões:

    Qual seu gênero favorito;
    Quais são os filmes favoritos;
    Com que frequência vai ao cinema;
    Qual livro gostaria que fosse transformado em filme.

Por disciplina…

Língua Portuguesa

Apresente um texto sobre a arte cinematográfica. A leitura deve ser feita em grupos de seis a oito alunos que irão dialogar enquanto fazem o exercício. Estimular a produção de textos e roteiros.

História

Apresente o texto sobre a história do cinema no Brasil. Os alunos, divididos em grupos, devem ler o texto por partes. Ao longo da leitura, acompanhe os alunos em suas dúvidas e comentários.

Arte

Os alunos devem acessar sites sobre cinema e analisar as críticas com atenção à fotografia, arte, composição, iluminação. Para a análise, os alunos irão acessar textos sobre filmes que já assistiram e atentar para o que os críticos escreveram sobre eles.

Sociologia

O professor pode trabalhar a sociedade brasileira, sua evolução e como o cinema tem representado o povo ao longo dos anos. Peça que os alunos prestem atenção ao retrato que o cinema faz da sociedade brasileira e seus problemas.

Sugestões de filmes:  Vidas secas (103min) e Central do Brasil (112min)

Fonte: Klenio Antonio Sousa/Portal do Professor (MEC)

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