Transporte Mulheres preferem táxis dirigidos por outras mulheres, diz pesquisa Razões da preferência envolvem principalmente a segurança, segundo o estudo encomendado pelo aplicativo 99 Taxi, com 16 mil entrevistadas

Por: Nathallia Fonseca

Publicado em: 23/09/2016 14:45 Atualizado em: 23/09/2016 17:22

Motorista da Uber há dois meses, Adriana Fernandes diz que "quase 100%" de suas se sentem mais confortáveis ao perceberem ser conduzidas por outra mulher. Foto: Marcela Cintra/Esp. DP
Motorista da Uber há dois meses, Adriana Fernandes diz que "quase 100%" de suas se sentem mais confortáveis ao perceberem ser conduzidas por outra mulher. Foto: Marcela Cintra/Esp. DP
 

O medo do assédio, uma maior afinidade e até o desejo de incentivar outras mulheres no mercado de trabalho são alguns dos motivos que fazem com que as passageiras mulheres prefiram ser conduzidas por motoristas do mesmo gênero em transportes individuais, como uber e táxi. Uma pesquisa realizada recentemente pelo aplicativo 99 Taxi mostrou que 58% das 16 mil entrevistadas gostariam de ter a opção de serem conduzidas por taxistas mulheres. No Recife, o público feminino desse tipo de serviço é de 50%, maior até do que a média brasileira, de 45%.

"Sempre usei táxi acompanhada do meu marido ou amigas, quando ia para festas. É raro usar sozinha, mas acontece às vezes de voltar na madrugada", conta a empreendedora Erika Ferreira Lima, lembrando o que considera o episódio mais grave que viveu, numa viagem ao Rio de Janeiro. "Um taxista me perguntou se eu estava procurando sentir algum prazer na cidade e deu a entender que, se eu quisesse, poderia ter relações sexuais com ele. Isso daquele jeito bem agressivo, aproventando o sinal fechado para virar para trás e falar essas coisas olhando bem na minha cara. Fiquei paralisada e nao saí do táxi porque não conhecia a cidade. Só rezei para ele não tentar fazer mais nada", comenta Erika, afirmando que nunca teve a chance de encontrar uma taxista mulher nas ruas, mas que isso a tranquilizaria.

Na direção

Luciene de Oliveira trabalha há mais de quatro anos como taxista e diz que a preferência das mulheres pelas suas corridas é perceptível. "No meu ponto, além de mim, há mais duas taxistas. Nossa clientela normalmente é feminina e a gente percebe que há uma confiança maior. Normalmente, no final da corrida, elas pedem nosso cartão para alguma necessidade, dizem que só querem andar com a gente". Luciene, que divide o carro com o pai também taxista, possui ponto na Rua Santa Elias, no Espinheiro. A motorista relata, também, que já chegou a sofrer preconceito dos próprios colegas. "Os homens ainda são muito preconceituosos em relação a isso. Muitos acham errado que mulheres trabalhem na rua. Acham que a gente precisa estar em casa, cuidando dos filhos", comenta.

Entre os dados apurados pela pesquisa da 99 Taxi, está também o fato de que 23% das passageiras acham importante que o motorista não tenha acesso aos seus dados e 18%, preferem compartilhar o trajeto com um amigo. A estudante universitária Katarina Nápoles diz que também não se sente segura em usar serviços de transporte individual quando desacompanhada, e conta que recentemente foi assediada por um motorista da Uber. "Peguei o carro com uma amiga e ela desceu primeiro. Logo que ela saiu, ele começou a me interrogar, dizer que queria me conhecer melhor e pediu meu whatsapp", conta a universitária, que voltava de uma festa no centro da cidade por volta das cinco da manhã. "Na hora a gente dá aquela risadinha constrangida, mas não tem como não sentir medo".

 

Motorista da Uber há dois meses, Adriana Fernandes observa que "quase cem por cento" de suas passageiras se mostram mais confortáveis ao notarem que estão sendo conduzidas por ela. "A maioria conta que já foi assediada, que não se sente segura com motoristas homens. Com outra mulher, elas sentem que podem conversar, sentar na frente, ficar mais tranquilas", explica a condutora. Adriana também afirma que ela própria, por vezes, tem medo de trabalhar sozinha, mas nunca se sentiu discriminada por ser mulher em sua profissão. "Cuidado a gente tem. Já cancelei corridas por achar que fossem suspeitas, mas isso acontece tanto com homens quanto com mulheres".

Iniciativas como listas informais de taxistas mulheres, feitas principalmente por coletivos feministas, já são populares no país. No mundo, aplicativos semelhantes ao Uber, porém apenas com condutoras, também ganham espaço. Um exemplo é o SheTaxi, que surgiu em 2014 nos Estados Unidos. No Rio de Janeiro, há o Táxi Rosa, criado este ano com uma proposta semelhante, que permite que as passageiras escolham uma mulher como motorista visando a segurança de ambas.



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