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Fotografia resgata história do surfe no Grande Recife

Fotógrafo acompanhou trajetória do esporte nas praias urbanas do Recife. Imagens contam ainda história da cidade

Publicado: 11/09/2016 às 11:19

Regi Galvão é uma testemunha das mudanças de hábito/

Regi Galvão é uma testemunha das mudanças de hábito/

Regi Galvão é uma testemunha das mudanças de hábito
Um pedaço do mar pode ser visto da varanda de Regi Galvão, no segundo andar de um edifício a quatro quarteirões da Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. A raridade numa costa repleta de prédios altos é comemorada pelo fotógrafo, testemunha da mudança na área ao longo de 50 anos. Sua relação com o mar foi estreitada pelo surfe, com o qual passou a ter contato a partir de revistas trazidas pelo pai no fim da década de 1960, transformando para sempre a vida da - até então - criança. Hoje, o fotógrafo tem um registro de mais de 40 mil imagens contando a história do esporte, gradativamente erradicado de algumas praias urbanas de Pernambuco.

Tudo começou com uma prancha de madeira, feita pelo pai de Regi em uma viagem ao Ceará. Depois disso, a família voltou ao Recife e a prática nunca mais parou. Primeiro em Piedade, depois em frente ao extinto Hotel Boa Viagem, por fim, no Acaiaca, ponto de encontro e formação de uma tribo ao longo de anos. “No começo, eram só umas 10 pessoas, mas depois foi crescendo e, com o tempo, novas gerações surgiram - todas criadas em Boa Viagem, Piedade e Olinda”, lembra. Na década de 1970, o surfista intensificou a fotografia. “Começou com a falta. Não tinha ninguém para fotografar e sempre tive intimidade com foto”, afirma.


A década de 1980 foi o ápice: com a praia como quintal de casa, o esporte virou uma forma de ganhar dinheiro. O fotógrafo e os amigos faziam eventos, exibições de filmes e chegaram a produzir uma revista sobre o tema no Brasil, a Surfe Nordeste. “Na época, havia um decreto que nada podia ter o nome americanizado e quando a gente chegou na junta comercial pra registrar o nome ‘surf’ a menina deu um escândalo. Eu falei ‘surfe’, com a letra e, existe até no dicionário”, lembra. A revista teve três edições abordando o esporte.

Com a chegada dos anos 1990, o boom do surfe foi interrompido por uma tragédia na Praia de Piedade. Era 28 de junho de 1992 quando a primeira morte relacionada a ataques de tubarão foi registrada. Pouco tempo depois, o esporte seria proibido. “As pessoas não queriam acreditar. Meu filho emprestou uma prancha para um vizinho e o bombeiro levou. Você precisava pagar uma taxa, equivalente a uns R$ 100, para pegar de volta”, conta. Mesmo com a caça às pranchas, adultos e adolescentes ainda se arriscavam na região. Hoje, com 60 ataques e 24 mortes, o tubarão afastou o esporte, e o alto-mar é território proibido.

Agora, os registros de Regi continuam, mas longe do Recife. A revista Surfe Nordeste, extinta junto à prática nas praias da cidade, voltou repaginada e retratando competições em toda a região. Para o fotógrafo, o pequeno traço de mar visto da varanda foi ressignificado de forma indesejada, mas aceito para a segurança de todos. “Hoje, no máximo, eu vou dar uma caminhada, quando a maré está seca, mas é uma coisa surreal, porque você caminha de Piedade até Boa Viagem e não vê ninguém dentro do mar. Se você vir uma pessoa, tem que avisar do perigo”, explica.

[SAIBAMAIS]
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