Dieta Orgânicos estão cada vez mais perto do consumidor e nem sempre são mais caros Forma de cultivo dos alimentos faz toda a diferença para quem quer se ver livre de produtos químicos e tem certificação do Ministério da Agricultura

Por: Nathallia Fonseca

Publicado em: 30/08/2016 13:00 Atualizado em: 30/08/2016 14:28

Entusiastas de uma vida livre de aditivos químicos asseguram que isso pode ser mais fácil do que se imagina Foto: Alcione Ferreira/DP/Arquivo
Entusiastas de uma vida livre de aditivos químicos asseguram que isso pode ser mais fácil do que se imagina Foto: Alcione Ferreira/DP/Arquivo

Apesar de mais preocupados com uma alimentação saudável, além de mais voltados aos consumo de vegetais, alguns brasileiros ainda apresentam certa resistência à alimentação orgânica – mercado que cresce cerca de 30% ao ano no país - em sua dieta cotidiana. Os motivos envolvem, principalmente, a crença de que esses produtos podem ser mais caros e difíceis de encontrar, além de oferecerem pouca segurança sobre sua procedência. Entusiastas de um estilo de vida livre de aditivos químicos, porém, asseguram que isso pode ser mais fácil do que se imagina.

A diarista Célia Assis é um exemplo de quem acredita na importância de uma dieta balanceada, mas se importa pouco com a forma como os alimentos foram cultivados. "Procuro verduras e legumes que estejam fresquinhos e saudáveis, porque gosto muito de fazer saladas todos os dias, mas compro do supermercado mesmo", conta Célia. "Eu até sei que existe diferença, mas é muito difícil de encontrar", completa, referindo-se aos vegetais orgânicos. Célia comenta que não conhece nenhuma feira orgânica em Rio Doce, bairro onde mora na cidade de Olinda.


"Problema" parecido é enfrentado pela estudante Julie Marques, de 23 anos, que há pouco tempo decidiu dar preferência aos orgânicos em sua alimentação diária, mas ainda os considera pouco acessíveis. "Moro em San Martin e frequento a feirinha do bairro, mas encontro mais folhas, verduras. Quase nenhuma fruta", diz. Julie também conta que opta por esses produtos por que, além de buscar uma dieta mais saudável, procurar “amenizar outros danos que a alimentação pode causar para a sociedade, pro meio ambiente e pro corpo”, diz.

A médica nutróloga Manuela Vanderlei, que estuda a utilização dos alimentos em dietas e terapias, também é entusiasta dessa alimentação e explica que "alimentos orgânicos nada mais são do que os alimentos em sua forma natural, sem aditivos químicos e sem agrotóxicos, feitos a partir de sementes não-transgênicas", diz. Manuela, que também possui uma conta no Instagram voltada para a divulgação de receitas e orientações sobre alimentação saudável, reforça que "esses alimentos são ricos em nutrientes, pois a partir de um solo rico e fértil a semente encontra possibilidade de crescer em sua plenitude nutricional".


Mais barato na feira
Embora a alimentação orgânica possa de fato ser mais cara do que os alimentos “convencionais”, sobretudo nos supermercados, isso não é uma regra. De acordo com o assessor de comercialização do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, Davi Fantuzzi, “o orgânico de supermercado é mais caro por possuir uma cadeia longa, que passa pela produção, custos de certificação, venda, distribuição e então chega aos supermercados, para só então atingir o consumidor final”, explica o assessor. Por outro lado, “as feiras são um circuito curto de comercialização: o produto vem diretamente da propriedade até o consumidor final, e isso faz com o que o produto possua um preço menor por demandar menos custos”. Uma pesquisa comparativa de preços realizada no ano passado por alunas do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) em parceria com o Centro Sabiá apresentou que a compra nas feiras agroecológicas pode a custar até 70% menos quando comparada aos mesmos itens nos supermercados.

Outra preocupação comum entre os consumidores diz respeito a real procedência dos produtos orgânicos. O motorista aposentado Antônio Gonçalves, por exemplo, se queixa de vendedores que muitas vezes tentam encarecer o próprio produto sob a alegação de que sejam orgânicos. “Quando a gente vai na feira, a primeira coisa que tentam dizer é que não tem agrotóxicos. Não dá pra confiar em todo mundo, e a gente termina não confiando em ninguém”, afirma. Para se proteger de casos como esse, a orientação é de que o consumidor esteja atento ao selo oficial de certificação orgânica, concedido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

No Brasil, a certificação pode ser concedida por auditoria ou através dos sistemas participativos de garantia. Existe também a possibilidade do controle social para a venda direta, onde basicamente os próprios agricultores vigiam uns aos outros. Manuela Vanderlei também comenta que, com o tempo, o consumidor pode aprender a identificar os vegetais orgânicos levando em consideração alguns aspectos na aparência, como cor, tamanho, e até aroma. “Os orgânicos muitas vezes são de tamanho menor e menos 'bonitos' (mas não é uma regra geral!), e duram menos. Por outro lado, por serem mais ricos em nutrientes, os alimentos costumam ser mais saborosos e com cores mais intensas”, explica.

Além da mesa do consumidor
Somado aos benefícios à saúde de quem consome, a agricultura orgânica também é vantajosa dos pontos de vista sustentável e socioeconômico. A justificativa está, de acordo com Manuela Vanderlei, na preocupação que esse tipo de produção possui, desde que praticada corretamente, com o solo, a água, o ar e com os demais recursos naturais. “São vegetais, frutas, verduras e grãos cultivados com agricultura sustentável, com respeito ao solo, ao agricultor e ao próprio alimento”, diz.

Outro ponto importante é o impacto social causado, também, pela geração de empregos. Por funcionar de maneira menos mecanizada que a agricultura convencional, a agricultura orgânica, mesmo oferecendo uma menor margem de lucro, emprega um número muito maior de pessoas. No Brasil, o mercado de alimentos orgânicos cresce cerca de 30% ao ano e movimenta R$ 2,5 bilhões. Esse crescimento também é refletido em Pernambuco, estado que possui o maior número de agricultores cadastrados para a venda direta produtos orgânicos. Além disso, a diferença nas condições de trabalho dessa prática, quando comparada à agricultura convencional, chamam atenção, uma vez que não há registro de trabalhos análogos à escravidão na agricultura orgânica. Já a convencional ocupa o segundo lugar na lista de atividades com mais casos de exploração, de acordo com o balanço divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em maio do ano passado.

No Recife, há feiras orgânicas durante todos os dias da semana. Foto: Alcione Ferreira/DP/Arquivo
No Recife, há feiras orgânicas durante todos os dias da semana. Foto: Alcione Ferreira/DP/Arquivo

Onde encontrar
Com o objetivo de ajudar o consumidor a encontrar as feiras orgânicas de cada cidade, o site www.feirasorganicas.idec.org.br, que também possui um aplicativo, cataloga os dias e horários desses comércios em todo o Brasil, além de indicar quais os alimentos mais comuns em cada região e estação. Na região do Recife e Olinda, a site aponta feiras que funcionam em diferentes dias da semana:

Feira Agroecológica da Juventude do Cordeiro
Avenida Caxangá, 2200 – Madalena.
Ás sextas-feiras, das 5h às 11h

Feira do Colégio Fazer Crescer
Av. Santos Dumont, 167 - Graças
Ás quintas e sábados, das 5h às 12h

Espaço Agroecológico do Sítio da Trindade
Sítio da Trindade - Estrada do Arraial, 3129 - Casa Amarela
Aos sábados, das 5h ás 11h

Feira de Economia Solidária e Agroecológica UFPE/CCSA
Campus da Universidade Federal de Pernambuco, ao lado do prédio do Centro de Ciências Sociais Aplicáveis – CCSA - Cidade Universitária
Ás quartas-feiras, das 5h às 13h

Feira Gervásio Pires
R. Gervásio Píres, 436-470 - Santo Amaro, Recife – PE
Às terças-feiras, pela manhã. Horário não informado

Feira Agroecológica Chico Mendes
Praça Farias Neves, em frente ao LAFEPE - Dois Irmãos
Quartas-feiras, das 6h às 12h

Feira Orgânica do Condomínio Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste)
Praça Ministro João Gonçalves de Souza - Engenho do Meio
Sextas-feiras, das 13h ás 16h

Feira do INSS – Instituto Nacional do Seguro Social
Av. Mário Melo, 343 - Santo Amaro
Quintas-feiras, quinzenalmente das 6h às 10h

Feira do Tribunal Regional do Trabalho – 6a região
Caminho do Apolo, 925 - Bairro do Recife
Quarta-feiras, das 7h ás 12h

Feira de Orgânicos do Shopping Recife – Projeto Pernambuco Agroecológico
Rua Padre Carapuceiro , 777 (Área C do estacionamento, próximo à entrada P) - Boa Viagem
Sábados, das 5h ás 10h

Feira do Fúrum des. Rodolfo Aureliano
Av. Des.Guerra Barreto, S/N - Ilha Joana Bezerra
Quintas-feiras, das 10h às 16h

Feira Agroecológica do Espinheiro
Rua do Espinheiro, 26 - Graças
Sextas-feiras, das 10h às 17h

Espaço Agroecológico das Graças
Graças Recife, em frente ao Colégio São Luiz, Sem número - Graças
Sábados, das 5h á 11h

Feira Agroecológica da Justiça Federal
Av. Recife, 6250 - Jardim São Paulo
Sextas-feiras, das 10h ás 15h

Espaço Agroecológico de Boa Viagem
Praça Jules Rimet, por trás do 1º Jardim de Boa Viagem - Boa Viagem
Sábados, das 6h ás 11h

Feira Agroecológica da Praça de Casa Forte
Praça de Casa Forte - Casa Forte
Sábados, das 5h ás 10h

Feira Agroecológica de Olinda
Rua do Bonfim – Carmo
Aos sábados, das 5h ás 12h



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