Segurança Moradores de Boa Viagem buscam medidas contra a violência no bairro Assustados com ondas de assaltos, moradores se reúnem e buscam alternativas

Por: Nathallia Fonseca

Publicado em: 23/07/2016 08:00 Atualizado em: 25/07/2016 13:39

Em Setúbal, moradores pesquisaram experiências parecidas ao redor do mundo e criaram um plano de ações visando as necessidades do bairro. Foto: Karina Morais/Esp.DP
Em Setúbal, moradores pesquisaram experiências parecidas ao redor do mundo e criaram um plano de ações visando as necessidades do bairro. Foto: Karina Morais/Esp.DP
 

Numa tentativa de driblar o índice crescente de violência nos bairros, grupos de moradores da Zona Sul do Recife se articulam em coletivos e visam planos de segurança para o lugar onde moram. Em Boa Viagem, a vizinhança da Rua Dhália, onde os relatos de assaltos são frequentes, começou a se reunir com o objetivo de "resgatar a convivência entre vizinhos" e formar uma rede que diminua a violência. Já em Setúbal, considerado pelos moradores um "território independente" de Boa Viagem, o Coletivo Setúbal - que há três anos se reúne por melhorias na região - organizou o "Projeto Setúbal Seguro", que propõe ações colaborativas para que a vizinhança troque informações sobre as áreas mais perigosas e como evitá-las, entre outras medidas efetivas.   

Em Setúbal, o projeto que já possui algumas semanas e busca, com reuniões periódicas entre os moradores e a polícia, um plano de segurança para o bairro, é dividido em quatro bases: um grupo no Whatsapp, onde síndicos, porteiros e moradores podem alertar as viaturas caso testemunhem algum caso de violência; o incentivo à instalação, nos condomínios e pontos comerciais, de câmeras de segurança e refletores voltados para a rua; adesivação da logomarca do projeto nas principais ruas do bairro, para alertar sobre a fiscalização e inibir eventuais atitudes criminosas, além da realização de encontros mensais para discutir os resultados do projeto.

"O coletivo pesquisou experiências parecidas ao redor do mundo e criamos um pacote visando as necessidades de Setubal, as peculiaridades do bairro", explica o sociólogo Daniel Uchôa, que está à frente do grupo desde o seu surgimento, em 2013. Além do projeto, o Coletivo Setúbal também promove eventos, ocupações urbanas e discussões sobre o lugar. "O coletivo surgiu com a necessidade de criar uma rede de contato entre os moradores do bairro para pensar em saídas para problemas comuns como infraestrutura, segurança e opções de lazer", conta.

Este mês, um projeto semelhante começou a amadurecer na Rua Dhália, proposto pelo estudante Luiz Felipe Fonseca, que se diz assustado com a frequência dos assaltos na área. "Fui assaltado duas vezes no bairro e vi ou ouvi dezenas de casos", conta Luiz, que há nove anos vive no local. Para mudar essa realidade, Luiz busca articular ações com a família e os vizinhos em parceria com a polícia. Na primeira reunião do grupo, que aconteceu na casa do estudante, foram traçados objetivos que buscam, principalmente, aumentar a comunicação da população com a polícia. "Eu acredito muito na linha de que juntos podemos transformar a nossa sociedade e é essa linha de pensamento que estamos propagando", comenta Luiz. Cartazes de alerta sobre as ruas mais perigosas, um mapeamento da área feito pela polícia, e grupos no whatsapp também estão entre as medidas. Além disso, o grupo exige uma poda efetiva nas árvores da rua e melhorias na iluminaçao, que ajudam a inibir a criminalidade.

Relatos de assaltos em Boa Viagem têm aumentado, mas a polícia garante que os números não evoluíram. Foto: Karina Morais/Esp.DP
Relatos de assaltos em Boa Viagem têm aumentado, mas a polícia garante que os números não evoluíram. Foto: Karina Morais/Esp.DP

Números contraditórios
Apesar dos testemunhos, o delegado Carlos Couto, titular da delegacia de Boa Viagem, afirma que o aumento nos registros de assaltos foi muito pequeno. "Houve um aumento considerável na violência da capital, levando em conta principalmente o cenário de crise econômica, mas falando especificamente da região de Boa Viagem o aumento das ocorrencias registradas foi muito pequeno, quase irrelevante. Menor que o índice geral da cidade", garante o delegado, que reconhece e incentiva as mobilizações dos moradores, mas ressalta a importância dos registros de boletins. "É fundamental para o trabalho da polícia que as vítimas registrem as ocorrências e não apenas publiquem nas redes sociais", explica. Couto também alerta para o risco de falsos índices causados pelos posts nas redes, o que pode acentuar uma cultura do pânico na região.

Daniel Uchôa, do Coletivo Setúbal, destaca que, mesmo com o enorme papel da comunidade, o estado ainda é o maior responsável pela segurança pública. "A gente acredita que se um problema existe é justamente por uma inércia do estado, dos órgaos competentes. Não significa que a gente não vá dialogar com os agentes públicos, nós fazemos isso. Mas quando procuramos uma instituição, a gente já leva uma proposta".

Apesar do engajamento, o clima os moradores ainda é de medo. A maquiadora Jade Silveira, que há 20 anos mora em Setúbal, diz que o aumento perceptível da violência prejudica sua liberdade de ir e vir. "Eu caminhava por toda área sem medo algum. Hoje falta coragem para ir até a esquina da minha casa, é um absurdo", diz a moça, que sofreu uma tentativa de assalto na calçada de casa há poucas semanas. Jade também diz apoiar os projetos coletivos e ter se envolvido mais com a questão após a ocorrência. "Sempre senti que setúbal é uma área muito esquecida de Boa Viagem. Pra mim o coletivo ajuda tanto na questão segurança, quanto na missão de unir os moradores como comunidade", comenta a maquiadora.

Ocupação dos espaços como estratégia
Além das novas medidas e ações direcionadas, os moradores do Coletivo Setúbal  destacam o papel da ocupação urbana como forma de combate à violência. "Aos domingos (quando acontecem ações do coletivo) a rua se transforma num espaço de interação. Como consequência disso, de ter pessoas e movimento na rua, a gente percebe a queda dos indices de violencia", exemplifica Daniel Uchôa, referindo-se aos eventos promovidos pelo coletivo em vários finais de semana. "Quando a ocupação acontece, praticamente não existe crime. o criminoso busca sempre areas desertas. A gente prcura com que as pessoas saiam de casa, percam seu medo e ocupem a rua".



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