Pesquisa Vírus da febre chikungunya pode ser gatilho para doenças reumatológicas Vírus pode ser gatilho de doenças reumatológicas graves, principalmente em pessoas com diabetes e hipertensão. Pesquisadores da UPE estudam relação.

Por: Alice de Souza - Diario de Pernambuco

Publicado em: 18/02/2016 07:36 Atualizado em: 03/06/2016 18:31

Benedita Paes, 73 anos, sofreu por quatro semanas com as dores antes de descobrir o diagnóstico da chikungunya Credito: Karina Morais/Esp.DP (Credito: Karina Morais/Esp.DP)
Benedita Paes, 73 anos, sofreu por quatro semanas com as dores antes de descobrir o diagnóstico da chikungunya Credito: Karina Morais/Esp.DP

Por dia, 63 casos de chikungunya foram diagnosticados em Pernambuco neste ano. A doença avança e é considerada a arbovirose com maior capacidade de transmissão no estado, quando comparada a dengue e zika vírus. Não bastando, ela é um gatilho para o desenvolvimento de doenças reumatológicas graves e pode ser ainda mais acentuada em pessoas com diabetes e hipertensão.

Um estudo foi iniciado na Faculdade de Medicina da Universidade de Pernambuco (UPE) e no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) para acompanhar as manifestações clínicas dos pacientes a médio e longo prazo, para traçar um padrão de diagnóstico para a doença.
Reumatologista Eliezer Rushansky, da UPE, investiga relação entre a chikugunya e doenças reumatológicas. Credito: Karina Morais/Esp.DP (Credito: Karina Morais/Esp.DP)
Reumatologista Eliezer Rushansky, da UPE, investiga relação entre a chikugunya e doenças reumatológicas. Credito: Karina Morais/Esp.DP

Mais de 2,6 mil casos de chikungunya foram notificados neste ano em Pernambuco. Quando não tratada precocemente, ela pode evoluir para uma forma crônica. Segundo o reumatologista e professor da FCM Eliézer Rushansky, a quantidade de pacientes que procuram as unidades com inchaços acentuados nas articulações e até deformidades tem despertado o alerta médico.

“Atendemos cerca de 35 pessoas neste começo de ano somente na nossa unidade. Uma média de 90% delas chega na fase aguda, mas já com inchaços e alguns com deformidades. Se não houver uma avaliação adequada, o paciente pode se medicar incorretamente e permanecer com as articulações dessa forma”, esclarece o reumatologista.

Até o ano passado, as características eram descritas como um quadro de artrite reumatoide em fase inicial. Os médicos acreditam que a doença, assim como a espondilite anquilosante, podem surgir a partir dos quadros crônicos da chikungunya (considerado a partir de seis semanas). A artrite reumatoide, por exemplo, em 10 anos, causa incapacidade laboral em metade deles.

“Se há uma predisposição genética, o contato com o vírus estimula a produção de anticorpos. A partir de um quadro de chikungunya, você pode desenvolver artrite”, acrescenta a reumatologista e professora da FCM Maria Helena Mariano. O estudo irá acompanhar os pacientes por um período prolongado, ainda a ser definido, verificando o percentual de desenvolvimento de doenças reumatológicas nessa população e a gravidade dos quadros.

A partir disso, será analisado se o tratamento utilizado para outras situações da reumatologia - incluindo um tratamento com imunobiológico desenvolvido a partir de pesquisas que envolvem a engenharia genética, com o objetivo de destruir moléculas ou células responsáveis pelo processo inflamatório - podem ser utilizados para os casos de chikungunya.

Também será possível caracterizar melhor as formas clínicas da doença. Serão analisados caso como da dona de casa Benedita Paes, 73 anos. Ela sofreu por quatro semanas com as dores antes de descobrir que seus sintomas estavam relacionados a essa arbovirose. “As dores começaram nos calcanhares e atingiram o corpo todo. Meus pés ficaram vermelhos, pareciam escamas, pensei que era problema no coração. Fiquei sem força nas mãos. Não conseguia nem pegar uma garrafa de café direito”, lembra ela.

Um público ainda mais vulnerável

Mais de 2 milhões de pessoas no Brasil são acometidas com Artrite Reumatóide. Em Pernambuco, perfazem são um universo de 92 mil. Em um ano, mais de 18 mil internações foram registradas no Brasil, no Sistema Público de Saúde, por causa de poliartropatias e artrite reumatóide. Para esse grupo, a chikungunya representa um risco a mais. As chances de um paciente reumatológico desenvolver quadros graves da doença, como os crônicos, é maior do que no  restante da população. Inclusive, caso haja a infecção, é preciso parar o  tratamento da doença base para não haver reativação do vírus no organismo. O risco também cresce para pacientes com diagnósticos de diabetes, hipertensão e outras doenças crônicas não transmissíveis.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Essas pessoas são mais susceptíveis a desenvolver quadros inflamatórios graves, então a recomendação é se proteger das formas já conhecidas, como roupas compridas e uso de repelente. Esse cuidado deve ser intermitente”, pontua Maria Helena Mariano.
Em tratamento de artrite reumatóide desde 2004, a funcionária pública municipal Maria Ivonete Vasco, 59 anos, reforçou o uso de inseticida na casa, coloca duas vezes por dia, e também passou a andar com roupas de mangas longas. “Passo ainda repelente e renovo o dia inteiro. Tenho muito medo das dores que a doença pode provocar. Sei que o sofrimento é grande e por isso fico mais preocupada”, afirma.



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